Alun Titford, de 45 anos, foi considerado culpado e deve ser condenado a uma pena de prisão efetiva por ter deixado que a filha de 16 anos engordasse até morrer sozinha e imóvel, trancada no próprio quarto. A adolescente, com hidrocefalia e espinha bífida, terá estado trancada no próprio quarto, sem sair da cama desde que começou a pandemia de covid-19, em março de 2020, até morrer, em outubro do mesmo ano. A jovem, com 1,45 metros de altura, pesava mais de 146 quilos e tinha um índice de massa corporal de 70 quando morreu.
A sentença de Alun foi conhecida esta terça-feira. A mãe de Kaylea, Sarah Lloyd-Jones, já se havia declarado culpada da mesma acusação em dezembro do ano passado. Sarah e Alun, pais de seis filhos, devem conhecer a pena a 1 de março.
De acordo com o jornal The Guardian, esta será a primeira sentença a ser aplicada no Reino Unido a pais acusados de matarem os filhos por não controlarem a sua dieta.
Mas a morte de Kaylea está rodeada de contornos duros, que vão muito para além da obesidade. Antes da pandemia, a jovem frequentava a escola, era acompanhada por médicos e nutricionistas, fazia fisioterapia e praticava desporto. Era tão boa no basquetebol adaptado que chegou a ser sondada para integrar o desporto federado paralímpico.
Quando morreu, a 9 ou 10 de outubro (não há certezas absolutas sobre a data), e de acordo com o tribunal, Kaylea “vivia em condições impróprias para qualquer animal, muito menos para uma jovem de 16 anos vulnerável e dependente de outros para os cuidados básicos”.
Quando foi detido, o pai de Kaylea disse à polícia não ter ideia que a filha tivesse saído da cama desde o início da pandemia. Posteriormente, mudou a versão e garantiu que a jovem saiu da cama e circulou pelo apartamento na sua cadeira de rodas. Mas disse também que a última vez que entrou no quarto foi duas semanas antes da morte, para dar um beijinho à filha, que completava 16 anos. E assegura que não achou nada de estranho, nem notou nenhum cheiro específico.
O certo é que os paramédicos que foram chamados no dia em que Kaylea foi encontrada morta, se depararam com um cheiro nauseabundo no quarto. Encontraram vermes debaixo do corpo, que estava e “condições horríveis”. No quarto, havia fitas adesivas apanha-moscas e teias de aranha penduradas no teto e o elevador que a ajudava a sair da cama e lhe possibilitava alguma mobilidade estava coberto de fezes e inoperacional. As unhas dos pés, a que Kaylea não conseguia chegar por causa da obesidade e da sua condição física, não seriam cortadas há pelo menos seis meses.
As causas da morte, de acordo com o relatório da autópsia apresentado em tribunal, foram “inflamação e infeção em extensas áreas ulceradas, provocadas pela obesidade e suas complicações, bem como imobilidade numa jovem com espinha bífida e hidrocefalia”.
Em tribunal, Alun Titford admitiu que falou e se afastou dos cuidados à filha desde que esta entrara na puberdade, mas recusou a ideia de a ter matado. Disse que a tarefa tinha ficado entregue à mulher, Sarah, em exclusivo, desde 2018, porque Kaylea “era mulher e não se sentia confortável”.
Ainda assim, admitiu a culpa por não ajudar a cuidar da jovem e não a ter incentivado a comer melhor. O advogado de defesa alegou que o homem trabalhava muito, às vezes sete dias por semana, como encarregado de mudanças e que, por isso, estava mais afastado dos cuidados de saúde à própria filha e não se apercebeu da deterioração do seu estado.