Champions: Sporting-Lille, 2-0 (crónica) - TVI

Champions: Sporting-Lille, 2-0 (crónica)

A lenda de um viking tão forte como Obélix

Reza a lenda que aquele homem temível foi fruto de uma queda acidental no caldeirão do druida. Bebeu tanta, mas tanta daquela poção mágica que ficou com poderes vitalícios.

Tornou-se, dizem, no homem mais forte do Mundo, num pesadelo para os opositores. Viesse um de cada vez ou viessem eles aos pares, ele arranjava sempre forma de os superar.

Esta é a história de Obélix e da luta do imbatível gaulês contra os romanos, mas podia bem ser o guião para a de Viktor Gyökeres, fosse ele uma personagem de banda-desenhada. Sim, porque herói já ele o é há muito para os adeptos do Sporting.

Nesta terça-feira, no arranque da Liga dos Campeões diante dos franceses do Lille, o avançado sueco parecia ter pela frente não um exército de gauleses, mas de legionários romanos que lhe montaram um cerco impiedoso, tantas vezes para lá dos limites do tolerável.

Gyökeres foi ao chão vezes sem conta naquela primeira meia-hora em que o Sporting-Lille foi, sobretudo, um jogo de encaixes, mas na qual já eram notórias as dificuldades da equipa visitante para anular a potência do sueco, a técnica de Trincão e a inteligência de Pote quando a bola chegava ao terço ofensivo.

Aos poucos, a estratégia – bem montada, diga-se – do exército de Bruno Génésio começava a dar sinais de ruir. Ofensivamente, era praticamente inexistente (nenhum remate em toda a primeira parte, antes ou depois da lesão de Gonçalo Inácio); defensivamente, começava a sentir cada vez mais dificuldades para lidar com a dinâmica do adversário com bola.

Aos 38 minutos, Gyökeres, a passe de Pote, materializou a superioridade que o Sporting já vinha a ter desde que o trio ofensivo dos leões começou a explorar os espaços que, mesmo que sejam reduzidos, existem sempre quando se joga rápido e bem. No fundo, como esta equipa de Ruben Amorim sabe fazer.

Na estreia na Champions, o viking sueco foi aquilo que é quase sempre contra quase todas as equipas, sejam elas menos ou mais forte: decisivo e um pesadelo para os adversários. Na verdade, aquelas inúmeras idas ao tapete só pareceram fortalecê-lo: pelo golo, pelo que contribuiu para o jogo da equipa e porque foi ele o responsável pela expulsão de Angel Gomes por acumulação de amarelos já bem perto do intervalo.

A partir daí, o destino do jogo ficou traçado. E a segunda parte foi de sentido único até àqueles minutos finais de intranquilidade tão difíceis de explicar como perfeitamente evitáveis.

Geovany Quenda, numa noite em que fez história ao tornar-se no mais jovem de sempre do Sporting a jogar a Champions, ameaçou o golo duas vezes, Gyökeres esteve perto do bis, Geny atirou a rasar o poste esquerdo.

Pelo meio, o momento da noite: aquele tiro de Debast já candidato ao um dos melhores golos desta Champions que dissipou, aos 65 minutos, as poucas dúvidas que ainda pairavam sobre o relvado do Estádio José Alvalade.

Nos minutos finais, o Lille cresceu, num ascendente desnecessariamente consentido pelos jogadores do Sporting, talvez contagiados pelo ambiente de festa nas bancadas.

Ainda assim, a vitória, justíssima, nunca esteve em risco perante uma equipa que regressa a casa com um exclamativo «oh lá lá!», depois de mais uma noite em que Gyökeres, tal como o gaulês Obélix, voltou a ter algo de mitológico.

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