Esta sexta-feira joga-se já o segundo clássico da época, depois da Supertaça, mas muita coisa mudou em relação à vitória do Benfica sobre o FC Porto que inaugurou a temporada. As saídas de peso de ambos os lados, a juntar a várias baixas por lesão no FC Porto, garantem seguramente um clássico com várias protagonistas diferentes, mas traduzem-se também numa perda significativa de experiência em clássicos, em relação à Supertaça mas de forma mais acentuada ainda na comparação com a temporada passada.
De uma época para a outra, tanto Benfica como FC Porto viram partir jogadores com vários anos de casa. Da Luz começou por sair Grimaldo, terminando uma ligação de sete anos e meio ao clube e, já depois da Supertaça, Vlachodimos. Juntos, somavam 26 presenças em clássicos com os dragões. A estas juntam-se também as baixas de jogadores como Gilberto, com oito clássicos no currículo, ou Gonçalo Ramos, com quatro. Em sentido contrário, o Benfica «ganhou» Di María, que na primeira passagem pela Luz tinha jogado seis clássicos.
O FC Porto perdeu Uribe, também em fim de contrato, e depois Otávio, que em sete anos de azul e branco viveu em campo 17 duelos com o Benfica. Somando aos 10 de Uribe, há quase uma equivalência em relação às águias no que diz respeito à perda de jogadores com mais experiência em clássicos. Em relação à época passada, também já não está no Dragão Manafá, que somava oito presenças em clássicos com o Benfica.
Esta é uma tendência do futebol atual, com maior mobilidade dos jogadores do que noutros tempos, sobretudo num campeonato essencialmente vendedor como o português. Dificilmente se repetirão ligações duradouras como a que permitiu a João Pinto, recordista de jogos em clássicos, somar 51 partidas com a camisola do FC Porto frente ao Benfica. Entre perto de duas dezenas de jogadores com 30 ou mais clássicos entre Benfica e FC Porto - uma lista que inclui nomes como Nené, Shéu, Bento, Vítor Baía, Aloísio, Fernando Gomes ou Eusébio – só entra um jogador deste século: Luisão, com 32 jogos pelo Benfica frente ao FC Porto. E houve apenas mais um jogador com mais de vinte clássicos - Maxi Pereira, que representou os dois clubes.
Ainda assim, é significativa a dimensão da atual perda dessa experiência nos dois clubes em apenas alguns meses, com um defeso pelo meio.
O atual plantel do Benfica tem 16 jogadores que já viveram clássicos com o FC Porto, um total de 74 partidas tudo somado. Como termo de comparação, no duelo da segunda volta da época passada, quando o FC Porto venceu na Luz por 2-1, só os 14 jogadores do Benfica que estiveram em campo superavam esse número, com um total de 86 clássicos.
No FC Porto, 21 elementos do plantel já viveram clássicos em campo, somando 105 em conjunto. Também um total inferior ao dos 16 jogadores que foram opção na Luz na segunda volta, que somavam 113 clássicos.
Os clássicos de cada jogador de Benfica e FC Porto
A maior experiência portista diminuída pelas lesões
Estes números têm várias matizes, de um lado e do outro. Há evidentemente perdas mais relevantes do que outras, o que se mede por muitos outros factores, da qualidade e da influência em campo à forma como as saídas foram compensadas. A própria contabilidade dos jogos engloba realidades diferentes. Se alguns destes jogadores são opções de base para os treinadores e somam mais de mil minutos em clássicos, como Otamendi, Pepe ou Rafa, outros já viveram esse ambiente muitas vezes, mas com pouco tempo em campo. O exemplo mais notório é o de Toni Martinez. Em oito clássicos a sair do banco, o avançado portista soma no total apenas 90 minutos em campo.
Feitas as contas, em absoluto há portanto mais experiência em clássicos do lado portista. Mas a onda de lesões no plantel azul e branco altera os dados conjunturalmente, e altera-os muito para o jogo desta noite. Sem o capitão Pepe, atualmente o jogador portista com mais presenças em clássicos, e sem Marcano e Zaidu, os dragões perdem três dos seus jogadores com maior experiência frente ao Benfica e verão nesta sexta-feira na Luz esse peso reduzido em mais de um terço, juntando à lista o também lesionado Evanilson, com cinco presenças em clássicos. Taremi, com nove confrontos com o Benfica, será assim o jogador portista em campo com mais experiência em clássicos.
Rafa a liderar o pelotão, em jogos e golos
No Benfica, Di María e Bah estiveram condicionados na semana do clássico e Gonçalo Guedes continua em recuperação, enquanto subsistem várias questões sobre algumas opções de Roger Schmidt. Mas não entre os jogadores das águias mais experientes nestas andanças. Essa lista é liderada por Rafa, que será o jogador em campo com mais clássicos – 16. E também aquele que soma mais golos em clássicos. Segue-se Otamendi, com 15 clássicos, a dividir pelos dois clubes. O capitão benfiquista, que chegou em 2010 a Portugal para jogar no FC Porto, jogou sete clássicos pelos dragões ao longo de três épocas e meia. Pelo Benfica, onde chegou em 2020, soma já oito clássicos.
Para o clássico desta noite, o FC Porto perde jogadores importantes na defesa - a dupla de centrais será formada por David Carmo e Fábio Cardoso, que aliás já jogaram juntos no clássico da primeira volta da época passada, a vitória do Benfica no Dragão por 1-0, quando Pepe estava também lesionado e Marcano ficou no banco. Mas perde também vários dos jogadores que sabem o que é marcar ao Benfica. Dos cinco jogadores que já assinaram golos em clássicos, só Taremi e Pepê deverão ser opção para Sérgio Conceição na Luz.
O Benfica tem apenas três jogadores que já marcaram ao FC Porto. Mais uma vez é Rafa quem lidera a lista, com três golos. Os outros dois, Di María e Musa, estrearam-se já nesta época, na Supertaça. Depois há Otamendi, que marcou em clássicos, mas com a camisola do rival – no empate a duas bolas no Dragão em setembro de 2011.
Estreias à vista, de um lado e do outro
Se o clássico perdeu algumas das suas referências dos últimos anos, também ganha em contrapartida caras novas. Haverá garantidamente estreias em clássicos nesta sexta-feira, tanto de um lado como do outro.
A Supertaça de agosto já garantiu algumas. No Benfica, foi a primeira vez para João Neves e para os reforços Kokçu e Jurasek, este a sair do banco. Além de Schjelderup, que entrou a um minuto do fim, antes de regressar à Dinamarca por empréstimo. Agora, haverá novidades desde logo na baliza, que o ucraniano Anatoliy Trubin assumiu nos últimos três jogos. Entre os reforços, também o avançado Arthur Cabral pode viver o seu primeiro clássico, tal como o lateral Juan Bernat, que chegou à Luz a recuperar de lesão e ainda não se estreou de todo pelas águias.
No FC Porto, Aveiro representou o primeiro clássico para Namaso, que foi titular, e ainda para o reforço Fran Navarro e para o jovem Gonçalo Borges. A visita à Luz deverá representar agora o primeiro clássico dos reforços Alan Varela e Iván Jaime. Nico González, que ficou no banco na Supertaça, é outro reforço à espera de entrar na galeria de jogadores que já jogaram o clássico, uma expectativa que se estende a cada futebolista de ambos os plantéis que ainda não viveu este momento.