O encerramento do aeroporto de Heathrow em Londres apanhou o mundo de surpresa. Um incêndio num transformador dentro de uma subestação elétrica em Hayes, no oeste de Londres, pouco depois das 23:00 de quinta-feira, levou a uma falha de energia no maior aeroporto da Europa. A juntar à falha de energia, o gerador de reserva também foi afetado pelo incêndio e o aeroporto acabou mesmo por ser encerrado.
"Heathrow está a sofrer uma falha de energia significativa. Para garantir a segurança dos nossos passageiros e colegas, Heathrow estará encerrado até às 23:59 [mesma hora em Lisboa] do dia 21 de março", disse a operadora do aeroporto em comunicado.
Em terra, milhares de passageiros, uma vez que Heathrow processa cerca de 1.300 voos por dia - entre chegadas e partidas - e os restantes aeroportos de Londres não têm capacidade para acolher todos os voos desviados. Gatwick, o segundo aeroporto mais movimentado do Reino Unido, aceitou alguns voos que estavam originalmente programados para Heathrow.
Outros voos que estavam no ar quando o aeroporto encerrou foram desviados para o Charles de Gaulle, em Paris, e para o Aeroporto de Shannon, na Irlanda. Em Lisboa, 18 dos 22 voos programados para esta sexta-feira foram cancelados.
O incêndio que causou o caos nos céus - e levou à retirada de 150 pessoas - já foi dado como dominado, estando a arder apenas 10% do fogo inicial.
“O incêndio envolveu um transformador com 25.000 litros de óleo de refrigeração totalmente incendiado. Isto criou um grande perigo devido ao equipamento de alta tensão ainda vivo e à natureza do incêndio alimentado por óleo", explicou Jonathan Smith, vice-comissário da Brigada de Incêndio de Londres.
A polícia britânica revelou que não há indícios de crime no incêndio, mas que a investigação vai ser liderada pela Unidade de Combate ao Terrorismo, dada a natureza crítica do incidente.
"Estamos a trabalhar com a Brigada de Incêndios de Londres para determinar a causa do incêndio, que continua a ser investigada. Embora não haja atualmente qualquer indicação de crime, mantemos as possibilidades em aberto neste momento. Dada a localização da subestação e o impacto que este incidente teve em infraestruturas nacionais críticas, o comando de contraterrorismo da Polícia Metropolitana está agora a liderar a investigação. Isto deve-se aos recursos e capacidades especializados desse comando que podem ajudar a fazer avançar esta investigação a um ritmo que minimize as perturbações e identifique a causa", anunciou o porta-voz da polícia.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, revelou no X que está a receber informações atualizadas do regulador sobre o incêndio no aeroporto de Heathrow. “Sei que a situação em Heathrow está a causar angústia e perturbações, especialmente para aqueles que viajam. Estou a receber atualizações regulares e estou em estreito contacto com os parceiros no terreno", escreveu.
23 milhões prejuízo por dia
Esta interrupção vai ter impacto no sistema de aviação mundial durante dias e o seu custo é estimado em 23 milhões de euros por dia. Segundo especialistas ouvidos pela Reuters, não se via uma interrupção desta escala desde a nuvem de cinzas causada pelo vulcão na Islândia em 2010.
Apesar da operadora do aeroporto estimar reabrir no sábado, Paul Charles, um consultor de viagens ouvido pela Reuters, afirmou que não há garantias de que isso aconteça.
“Um sistema de reserva deve ser à prova de falhas no caso de o sistema central ser afetado. Heathrow é uma peça tão vital da infraestrutura do Reino Unido que deveria ter sistemas à prova de falhas”, sublinhou.
Segundo o ministro da Energia, Ed Miliband, o incêndio impediu o funcionamento do gerador de reserva e os engenheiros estão agora a preparar a instalação de um terceiro gerador de reserva, acrescentando que o governo está a trabalhar para compreender “quais são as lições, se é que existem, para as infraestruturas”.
Voos desviados, milhares em terra
Richard Quest, jornalista da CNN, é apenas um dos passageiros afetados pelo encerramento do aeroporto de Londres. A notícia do encerramento surgiu instantes antes do seu avião partir de São Paulo, no Brasil, que acabou por ser cancelado em cima da hora e deixou os passageiros em terra.
Para além desta sexta-feira, o encerramento de Heathrow deve ter repercussões a nível mundial durante vários dias, uma vez que as redes das companhias aéreas - extremamente coreografadas - foram interrompidas e vão obrigar a que as transportadoras reconfigurem as redes para deslocar aviões e tripulações.
“Mesmo que o aeroporto abra, esperamos, no final de sexta-feira, haverá impacto durante vários dias, porque uma vez que os aviões são imobilizados algures longe de uma operação, ficam aí presos com as tripulações que operam os voos e, claro, com os clientes, até que essas tripulações tenham saído para terem os períodos de descanso legalmente exigidos. E se os aviões não regressam, não podem efetuar os voos seguintes, o que significa que temos cancelamentos nos dias seguintes”, explicou o consultor independente de transportes aéreos John Strickland à Reuters.
Exemplo dessa "coreografia" é o facto da Ryanair e da EasyJet - que nem operam em Heathrow - já terem aumentado a capacidade noutros aeroportos britânicos após o encerramento do aeroporto para oferecer alternativas aos passageiros retidos em Londres.