Esta obra de arte vai ficar na lua "por toda a eternidade" - TVI

Esta obra de arte vai ficar na lua "por toda a eternidade"

  • CNN
  • Nadia Leigh-Hewitson
  • 5 fev 2023, 12:00
Jafri queria captar "a unificação da humanidade através do amor e da empatia". Foto: Selenian

Como tela, foi desenvolvida uma liga de ouro durante dois anos para resistir ao clima extremo na superfície lunar

Em 1977, as sondas Voyager 1 e Voyager 2 foram lançadas do Cabo Canaveral, na Flórida. A sua missão era explorar o sistema solar e mais além. A bordo de cada uma delas havia um "disco dourado", um disco de cobre contendo imagens, sons da natureza, e música para fornecer uma amostra da vida na Terra a qualquer vida inteligente que a nave pudesse encontrar. Estas foram as primeiras imagens a serem enviadas para o espaço.

Agora, à medida que os Voyagers viajam para o espaço interestelar, os artistas começam a explorar o que podem mandar para fora da Terra. Em Março, uma peça do artista e filantropo Sacha Jafri, sediado no Dubai, deverá aterrar na lua.

O trabalho de Jafri, "We Rise Together – By the Light of the Moon" (numa tradução livre, “Nós crescemos juntos – À luz da lua”), está programado para voar para o espaço num foguetão da United Launch Alliance movido por motores desenvolvidos pela Blue Origin de Jeff Bezos. O lançamento está programado para ter lugar no Centro Espacial Kennedy no Cabo Canaveral, na Flórida, na primeira semana de Março.

A obra é uma gravura representando uma figura masculina e uma figura feminina rodeada por 88 corações.

"A obra de arte original era esta bonita imagem em volta de um coração. Duas figuras entrelaçadas, reconectando-se, e à sua volta estão a florescer a flora, a fauna", explicou Jafri. Ele diz que queria capturar "a unificação da humanidade através do amor e da empatia" no seu desenho.

Como tela, foi desenvolvida uma liga de ouro durante dois anos para resistir ao clima extremo na superfície lunar, mantendo a obra de arte intacta. Mas a peça não se destina apenas aos amantes da arte extraterrestres.

"Quando a obra de arte física aterrar na lua, um pequeno sinal sonoro vai soar na sala de controlo", disse Jafri. Com esse sinal, 88 NFTs serão postos à venda na Terra.

Jafri planeia doar todas as receitas a instituições humanitárias de caridade. "Espero angariar uma enorme quantidade de dinheiro para as quatro principais preocupações humanitárias do nosso mundo – saúde, educação, sustentabilidade, e igualdade."

O trabalho foi comissariado pela Spacebit, uma empresa sediada no Reino Unido que desenvolve tecnologia de robótica espacial e ferramentas de análise de dados, e será enviado para a lua pela Spacebit e pela NASA Commercial Payload Services (CLPS). A empresa Selenian Network, sediada nos Emirados Árabes Unidos, especializada em tecnologia de blockchain, apoiará no lançamento das NFT.

O módulo de aterragem lunar colocará o trabalho numa cratera conhecida como Lacus Mortis (o Lago da Morte) onde permanecerá "por toda a eternidade". Segundo Jafri, a missão levará entre cinco dias e duas semanas a chegar à lua, dependendo das condições.

Arte na Estação Espacial Internacional

A obra de Jafri não é a única a sair da Terra nos últimos anos. Em 2017, uma obra do artista israelita Eyal Gever foi impressa em 3D na Estação Espacial Internacional (EEI). Gever juntou gravações de risos através de crowdfunding e usou os relevos únicos das ondas de áudio para criar a sua escultura. 

Em abril do ano passado, outro artista israelita, Liat Segal, e Yasmine Meroz, física na Universidade de Telavive, criaram uma obra de arte que só pode existir no espaço. 

Fazendo uso da falta de gravidade no espaço, "Objecto Impossível" é uma estrutura em camadas de tubos metálicos cor de ouro que libertam água. Na Terra, a água cairia ao chão, mas no espaço criou uns elementos flutuantes em torno da escultura.

Foi activada quando a EEI orbitava a cerca de 400 quilómetros acima da Terra. Liat e Yasmine tinham previsto que a água poderia embulhar a estrutura, formando uma capa líquida, mas na prática comportou-se de forma bastante diferente, formando esferas flutuantes.

"Objeto Impossível", de Liat Segal e Yasmine Meroz. Foto: Eytan Stibbe e Rakia Art Mission/Fundação Ramon

"Não sabíamos qual seria a dinâmica da água em microgravidade – como é que seria um pedaço de água?" disse Liat Segal. "Estamos habituados a encher as nossas mãos com água, a encher recipientes. Neste caso, a água não é retida por nenhum recipiente. É apenas segurada por esta estrutura esquelética".

À medida que os artistas forem expandindo a sua criatividade no espaço, Liat Segal antecipa inovação.

"Muitas tecnologias foram desenvolvidas como resultado da corrida espacial, para se adaptarem a uma nova realidade física", acrescentou Liat Segal. "Agora a arte e a cultura podem entrar nesta nova realidade física. Vai forçar a criação de coisas que não podemos antecipar, que de outra forma não poderiam acontecer".

Jafri está também entusiasmado com as possibilidades criativas e acredita que as missões espaciais privadas abrirão novas oportunidades para os artistas. "Penso que as pessoas estão a explorar a obsessão das pessoas pelo espaço", disse ele. "É um novo mercado para o mundo da arte explorar".

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