José Peseiro, Rui Vitória e Carlos Carvalhal juntaram-se na tarde desta sexta-feira para discutir experiências vividas no estrangeiro, enquanto treinadores e selecionadores, no âmbito da Portugal Football Summit.
José Peseiro, atualmente sem clube, conta com uma carreira sui generis do alto dos seus 65 anos. Trabalhou em oito países para além de Portugal e, internamente, orientou quatro dos maiores clubes, à exceção do Benfica. Peseiro admite que foi no Real Madrid que lançou a carreira.
«Não sei se teria dado tantos passos em frente se não fosse o Real Madrid. Foi muito bom para mim passar por todos aqueles egos, aprender com eles e toda a estrutura liderada pelo Carlos Queiroz», diz.
Foi em 2003/04 que Peseiro, então treinador do Nacional, recebeu um convite de Queiroz para ser treinador assistente num clube recheado de estrelas como Luís Figo, David Beckham ou Roberto Carlos.
«Quando cheguei a Madrid, pode imaginar que quase me tremiam as pernas. Não conhecia ainda um balneário de primeira Liga, não tinha contacto com jogadores daquele nível e daquela pressão mediática. Pensei no primeiro dia que, se fosse treinador principal, seria uma carga de trabalhos», recorda Peseiro.
«Quando muitos falam sobre os Galáticos, não sabem que eram gente inteligente e que davam uma grande ajuda quando era preciso. O presidente Florentino Pérez tinha ideias brilhantes para alavancar a equipa. Trouxe Makelelé, Morientes, McManaman, Gabriel Milito... O Queiroz fez uma grande luta para termos mais opções no banco, mas a única era o Solari. O Pavón era titular», lamenta o técnico.
Com o clube preocupado em «vender uma imagem», e no meio de vários compromissos publicitários, o Real Madrid acabou em terceiro nessa época. «Não ganhámos nada e caí eu», resume Peseiro.
Ao mesmo tempo, Peseiro teve experiências insólitas como selecionador da Venezuela e da Nigéria. A primeira aconteceu em 2020, em ano de pandemia. «Na Copa América, tivemos seis jogadores infetados com Covid-19 no primeiro dia, mais quatro no segundo dia. Tive de estrear jogadores que, provavelmente, nunca mais jogaram pela seleção venezuelana», recorda. A Venezuela foi eliminada com apenas dois pontos.
Já na Nigéria, as infraestruturas são um problema. «Só há dois estádios e a seleção só faz amigáveis fora para gerar encaixe financeiro», diz, o que dificultava a preparação. Por isso, Peseiro teve de visitar «todos os jogadores», pagando do seu bolso, convencendo-os a jogar pela Seleção.
Peseiro chegaria à final da Taça das Nações Africanas, onde perderia para a Costa do Marfim, mas não devido às condições dadas pela federação.
«Tive 19 meses de salários em atraso na Nigéria. No último dia do apuramento disse 'ou pagam-me, ou vou embora'. Os jogadores disseram que não podia ir embora. O presidente era um artista que não queria pagar. Fiz a Taça das Nações Africanas porque os jogadores me convenceram», revela Peseiro.