José Peseiro, Rui Vitória e Carlos Carvalhal juntaram-se na tarde desta sexta-feira para discutir experiências vividas no estrangeiro e também o futuro da profissão de treinador, no âmbito da Portugal Football Summit.
Rui Vitória, técnico que terminou recentemente uma ligação ao Panathinaikos, da Grécia, e também licenciado em educação física, perspetivou a importância do treinador no futebol de amanhã.
«Será cada vez mais importante a formação holística do jogador, porque o mais decisivo é a tomada de decisão. Isso parte da base. Só treinar futebol não chega, tem de ser uma formação global. Com o aparecimento da inteligência artificial, estou a prever que muito rapidamente teremos um ficheiro individual para cada jogador saber o que precisa de fazer para atingir determinado rendimento», começa por dizer.
«Por exemplo, dado jogador tem de comer papas Cerelac, almoçar apenas água e peixe, treinar três horas e dormir 'x' horas para ter o rendimento 'x'. Por isso é que o treinador será pago para para tomar só uma ou duas decisões por dia. E decisões muito importantes», prevê Vitória.
Além disso, o técnico passou em revista algumas aventuras no estrangeiro. Sendo o último treinador campeão no Al Nassr, em 2018/2019, Rui Vitória recordou a passagem na Arábia Saudita.
«Foi uma mudança brusca, porque tinha estado sempre em Portugal e sou muito caseiro. Não pensei que fosse o meu destino. Foi um mundo que se abriu e digo hoje 'graças a Deus que fui', não só a nível financeiro, mas também de vivências. Porque estamos cá e pensamos que sabemos tudo», diz.
«Muitos dizem que o sucesso dos portugueses vem da adaptabilidade, mas vai para além disso. O conhecimento de uma série de áreas é relevante. Lá surgem situações novas que não estão em nenhum livro, que do ponto de vista de liderança são desafiantes do ponto vista dos recursos humanos ou da psicologia. Mas o 'desenrasca' para resolver um problema sem fazer drama é um dos grandes trunfos do treinador português», avalia.
Um dos exemplos dessa adaptação foi a aventura na seleção do Egito, entre 2022 e 2024, onde orientou Mohamed Salah do Liverpool. Porém, grande parte da seleção era feita de jogadores domésticos.
«Eu dizia-lhes: 'Toda a gente quer ser como o Salah, mas ninguém quer fazer o que ele fez'. Sei as dificuldades que teve para afirmar-se. Sei como eles gostam do seu país e resistir a não voltar para singrar é um grande feito», segundo Rui Vitória.
«O Egito era um mundo muito particular, ali todos jogavam no Egito. Dois ou três clubes pagam muito bem e os jogadores têm vida de rei lá. Se viessem para a Europa seriam jogadores perfeitamente normais. Tínhamos qualidade mas que nunca se conseguiu potenciar», lamenta.
Sem querer desvendar o que era, Rui Vitória diz estar eternamente grato a uma decisão «crucial» tomada em conjunto com Salah, capitão do Egito, que diz mostrar o grande caráter do extremo. Agora, Vitória não tem clube.