Helga Guerra tem 37 anos e foi mãe pela primeira vez há oito meses. Nem a experiência de vida a isentou das dúvidas mais persistentes que atormentam as jovens mães. Quer antes do parto, quer agora com Rodrigo cá fora, Helga confessa que vai aprendendo todos os dias a gerir esse empreendimento que é a maternidade. A assistente de vendas revela ainda que tem procurado suporte nos profissionais de saúde e informação fidedigna para dissipar as angústias que a atormentam.
“Essencialmente, as minhas dúvidas estavam relacionadas com o parto, com a episiotomia, e com o que se iria passar após o bebé nascer. Mas foram sendo dissipadas com a procura da informação nos sítios certos. Através de um projeto da Universidade de Aveiro, o UA Cuida, fui encontrando a informação que procurava. Fiz também o curso de preparação para o parto e fui falando com as enfermeiras”, relata Helga.
O relato de Helga Guerra vai ao encontro do que a enfermeira Carmen Ferreira vai experienciando em consultório. A especialista em saúde materna e obstétrica e autora dos livros Estamos Grávidos! E. Agora? E. Nascemos! E. Agora? fala de “uma nova geração de mães”, muito mais habilitada a procurar a informação fidedigna e mais imune a mitos. Ainda assim, as angústias são as mesmas.
“Dividiria as dúvidas que nos chegam a consultório em dois períodos. Durante a gravidez, as dúvidas recaem muito sobre o parto, sobre o local para o parto, e também sobre o enxoval, o que comprar e o que é útil e necessário. Depois do bebé já cá estar fora, as dúvidas giram em torno da saúde do bebé e das suas necessidades. Temos muitas dúvidas sobre o coto do cordão umbilical, sobre o peso do bebé, sobre a cor dos cocós. Mas também estamos perante uma nova geração de mães que cuida da própria saúde física e mental e temos muitas dúvidas sobre quando podem voltar ao ginásio, quando podem voltar a fazer massagens”, exemplifica a especialista.
Na sequência desta questão, a enfermeira Carmen Ferreira faz questão de deixar um alerta: “Durante a gravidez, preparamos muito o parto. Estamos muito focados no nascimento, mas não planeamos o pós-parto e é fundamental preparar também essa fase, para depois as dúvidas não serem tão assustadoras.”
É que, por mais que a mãe ou o casal se prepare e planifique o nascimento do filho, nem sempre tudo corre de acordo com as espectativas. “Às vezes, os planos saem-nos um bocadinho ao lado. As vezes os locais escolhidos não estão preparados de acordo com as espectativas e de acordo com os planos de parto elaborados. E o mesmo acontece em relação à amamentação, por exemplo. A mulher até pode preparar-se e rodear-se de toda a informação, mas o seu corpo depois tem todo um trabalho a fazer e o próprio bebé tem um papel muito importante na amamentação”, exemplifica a enfermeira.
E foi na amamentação que Helga também encontrou os maiores dramas depois de o Rodrigo nascer. “Se no parto me senti respeitada e muito bem acompanhada, na questão da amamentação, ainda na maternidade, já não senti o mesmo acompanhamento. Mais do que falta de informação, senti falta de empatia. O Rodrigo ia descendo de peso e fui sempre incentivada a introduzir leite artificial. Durante dois dias ainda segui os conselhos, mas depois o pediatra mandou suplementar sim, mas com o meu próprio leite e consultei também uma enfermeira que me ajudou. Dois dias depois de me consultar com a enfermeira Ana Rita, o meu filho já tinha engordado 60 gramas”, relata.
Eles crescem e mudam os medos e as dúvidas
Rodrigo tem agora oito meses. Está na desafiante fase da diversificação alimentar e, agora, é aí que residem os principais problemas. Helga confessa que, agora, as dúvidas “giram muito em torno do que se pode ou não dar”. E nem toda a informação dos profissionais de saúde ajuda a apaziguar o coração de mãe. “O pediatra deu-me um plano que procuro seguir, mas há sempre inovações que gostávamos de fazer, mas temos medo, e há sempre produtos que não vêm especificados no plano”, confessa.
Helga até tem sorte de estar em teletrabalho e de os pais se terem mudado temporariamente lá para casa para poderem cuidar do neto. Mas, mesmo assim, há agora outra questão que a atormenta: a creche. À medida que as dúvidas sobre alimentação se vão dissipando, a assistente de vendas já pensa onde vai deixar o filho dentro de meses e se a escolha é a mais acertada ou se vão cuidar bem dele.
“E depois vêm os medos normais. Os medos das doenças, por exemplo. Apanhei covid-19 quando ele tinha um mês. Ele não chegou a fazer o teste, mas comigo positiva e o pai também no mesmo quarto, duvido que não tenha apanhado. E é sempre uma angústia acrescida”, acrescenta.
Atenção aos conselhos e às redes sociais
Helga faz parte de grupos de mães no Facebook, onde vai assistindo à partilha de experiências e também vai recolhendo informação. Também ouve muitos palpites de amigas, familiares e até desconhecidos. Mas aprendeu com a maternidade a seguir o próprio instinto e a fazer o que considera melhor para si e para a família. Rodrigo dorme com os pais, na mesma cama, “desde o primeiro dia de vida”, porque “foi a forma que encontrei de todos descansarmos”. Helga já não liga quando ouve frases como “o teu leite é fraco”. E também já não quer saber quando lhe dizem que o bebé “não devia andar sem sapatos”.
E Helga parece fazer com eficiência a filtragem da informação que lhe vai chegando. Tal como a enfermeira Carmen aconselha: “As mães devem procurar informação fidedigna e adaptada à própria situação. O que é bom para o meu bebé pode não ser bom para o teu. É fundamental procurarem e validarem a informação junto das equipas de saúde”.
“Os grupos de mães no Facebook podem ser muito bons, no sentido da partilha de experiências, mas nunca lá devem ir procurar conselhos de saúde. No outro dia, estava uma mãe a pedir ajuda e havia mães a prescreverem-lhe medicamentos, sem noção de que o bebé pode ser alérgico, por exemplo. E há tantos conselhos sobre dar chás a bebés. Há chás hepatotóxicos, que podem dar cabo dos rins e do fígado do bebé!”, alerta.
Cinco dúvidas, cinco respostas
A enfermeira Carmen Ferreira atreve-se a elencar as dúvidas que mais lhe levam as jovens mães que a procuram e aproveita para deixar algumas explicações genéricas:
“Será que o meu bebé está a mamar o suficiente?” – é preciso estar atento a sinais que o bebé vai dando. Além da evolução do peso, o bebé dá outros sinais como o padrão de descanso (acorda mais vezes se está com fome) e sinais de fome.
“Estarei em trabalho de parto?” – estar atento ao padrão das contrações uterinas, que se tornam mais frequentes e mais regulares, à medida que o trabalho de parto se aproxima. Além disso, numa fase mais ativa do trabalho de parto, a mulher não está para grandes conversas, responde com monossílabos e, às vezes, só com sons.
“Quais são os sinais de alarme na gravidez?” – é preciso estar atento se o bebé mexe bem e se há perdas de sangue ou de líquido amniótico. Em caso de dúvida, procurar sempre um profissional de saúde.
“Como cuidar do coto do cordão umbilical?” – o coto do cordão umbilical começa por ter uma cor amarelada e vai ficando acastanhado e endurecendo. Quando limpamos, é normal que saia uma espécie de remela e também resquícios de sangue. Afinal foi através do cordão umbilical que o bebé foi sendo alimentado na barriga e era por ali que passava também o sangue. Quando o coto cai, o umbigo do bebé não fica logo igual ao nosso. Ainda demora dois ou três dias a normalizar e os pais devem continuar a higienizar e devem continuar a dar a dobrinha na fralda para não tapar. Pode ser tapado pela roupa, mas não pela fralda. Deve sempre ser mantido seco.
“Será que o meu bebé é saudável?” – depois de nascer, o bebé deve sempre ser acompanhado com regularidade por profissionais de saúde e os seus cuidadores devem estar atentos a sinais de desenvolvimento. Devem também estar atento a pormenores muito importantes como se o bebé se mexe ou se, pelo contrário, está muito hipotónico. O choro muito intenso também pode ser um sinal de alerta. Mais uma vez, em caso de dúvida, consultar sempre um profissional de saúde.