"É evidente que o crédito à habitação é um problema." Marcelo pede reflexão sobre prazos, taxas e prestações - TVI

"É evidente que o crédito à habitação é um problema." Marcelo pede reflexão sobre prazos, taxas e prestações

  • Agência Lusa
  • PP
  • 7 mai 2023, 08:54

Interrogado várias vezes sobre a divergência pública que teve com o primeiro-ministro, António Costa, sobre a manutenção no Governo do ministro das Infraestruturas, João Galamba, o chefe de Estado recusou-se a fazer mais comentários

“No plano interno há uma questão que merece reflexão, já que os portugueses dependem muito de empréstimos bancários, estando ao nível europeu entre aqueles que têm uma aposta muito grande na aquisição de casa própria e com empréstimos de curto prazo. Isso tem levado a uma punição maior, até porque não há uma fixação rígida das taxas e das prestações, que vão sendo atualizadas à medida que a taxa de juro vai subindo”, apontou o chefe de Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas após ter visitado o Banco Alimentar Contra a Fome (BA), em Alcântara, em Lisboa.

O Presidente disse aguardar-se por uma descida progressiva da inflação, mas referiu que “é evidente que o crédito à habitação é um problema que deve provocar uma reflexão sobre os prazos, as taxas e as prestações”.

“Há aí um problema que um destes dias tem de se colocar. É que o sistema financeiro, nomeadamente a banca, teve problemas complicados, [mas] neste momento está num período menos complicado. Em termos de crédito malparado está num período mais positivo”, observou.

Ou seja, deve-se questionar “até onde deve continuar a ir a banca no sentido de compensar os anteriores períodos negativos com este [atual] período positivo”.

O Presidente da República disse que teve acesso a números, embora não dê como garantido o seu caráter exato, segundo os quais a banca “acabou por ter uma margem de proveito no crédito à habitação claramente superior à média europeia”.

Logo a seguir, no entanto, ressalvou que em anos anteriores a banca também teve problemas superiores à média europeia.

O Presidente da República considerou ainda que os cidadãos percebem que as suas contribuições para os bancos alimentares não são caridadezinha e revelam-se solidários mesmo quando os números da economia ainda não chegaram ao bolso dos portugueses.

"Não tenho nada a acrescentar." Marcelo não comenta o caso de Galamba

Interrogado várias vezes sobre a divergência pública que teve com o primeiro-ministro, António Costa, sobre a manutenção no Governo do ministro das Infraestruturas, João Galamba, o chefe de Estado recusou-se a fazer mais comentários, repetindo a frase “o que está dito está dito”.

A seguir, dirigindo-se aos jornalistas disse: “O simples facto de eu não responder às vossas questões já deveria merecer alguma reflexão da vossa parte habituados que estão a que eu, no passado, considerasse que era adequado responder mais vezes a questões concretas”.

“Neste momento acho que não é adequado. Não tenho nada a acrescentar”, insistiu.

"Todos desejamos que os grandes números da economia se traduzam no bolso de mais portugueses"

Ao longo de mais de 20 minutos, o chefe de Estado falou antes sobre a situação social e económica de Portugal, em particular da população mais carenciada.

“Os portugueses percebem várias coisas, em primeiro lugar que isto não é aquilo que às vezes se dizia caridadezinha, porque caridadezinha não é”, defendeu, numa clara demarcação em relação a algumas correntes da esquerda política.

Pelo contrário, segundo Marcelo Rebelo de Sousa, com as contribuições para os bancos alimentares, “é a sociedade a perceber que há uns que têm mais e outros menos”.

Perante os jornalistas, o Presidente da República procurou destacar o seguinte ponto: “Mesmo numa situação em que os grandes números são positivos, mas a vida do dia-a-dia ainda não é tão positiva como os grandes números, os portugueses fazem o esforço que estão a fazer em relação aos bancos alimentares”.

“Há sinais encorajadores ao nível do turismo, investimento externo e exportações. Agora, todos desejamos que os grandes números da economia se traduzam no bolso de mais portugueses”, acentuou.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, Portugal encontra-se numa “situação um pouco estranha”, já que os números em termos globais “são melhores do que em outros países europeus, em termos de crescimento, com o turismo e as exportações a subirem”.

“A procura interna, quer dizer aquilo que é o consumo das pessoas cá dentro, apesar dos muitos estrangeiros com dinheiro que vivem cada vez mais em Portugal, desceu no primeiro trimestre. Por um lado é bom, significa que o que vem de fora está a contribuir para a nossa economia, mas aquilo que é de dentro ainda está à espera de haver aqueles alívio financeiro que permita - não só com as ajudas sociais, mas sobretudo com diminuição do nível de preços - recuperar o poder de compra dos portugueses”, sustentou.

De acordo com o chefe de Estado, em Portugal “houve problemas sociais que se encadearam”, primeiro os resultantes da pandemia da covid-19, aos quais se somaram “os que resultam da atual elevação de preços brutal, nomeadamente de bens alimentares e com as prestações da habitação a aumentarem para o dobro”.

“E as pessoas não esticam os salários, apesar das ajudas sociais”, acrescentou.

Nova campanha do Banco Alimentar nas ruas

No sábado, a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome (BA), Isabel Jonet, disse à agência Lusa que até às 18:00 desse dia tinham sido recolhidas 415 toneladas de alimentos, um balanço "positivo" do primeiro dia da campanha de recolha.

A nova campanha de recolha de alimentos do BA arrancou no sábado e decorre durante o fim de semana, numa altura em que os pedidos de ajuda quase triplicaram face ao ano passado.

A campanha, que decorre presencialmente nos supermercados de todo o país e conta com cerca de 40 mil voluntários, tem o tema “Esperança” para ajudar as famílias a "fazer frente às dificuldades económicas e sociais".

Além da campanha presencial no fim de semana, a recolha prosseguirá até 14 de maio através de vales disponíveis nos supermercados ou no canal online www.alimentestaideia.pt

Os 21 Bancos Alimentares, em parceria com cerca de 2.600 instituições e entidades que atuam no terreno, distribuem diariamente bens alimentares a mais de 400 mil pessoas em Portugal.

Segundo a presidente do BA, desde o início do ano até 20 de abril, a instituição recebeu 3.330 novos pedidos de ajuda, o que representa um aumento de 93% em relação ao mesmo período de 2022, quando tinham chegado 1.725 pedidos.

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