Maria João Salgado, mulher de Ricardo Salgado, afirmou esta segunda-feira em tribunal que o marido "tem dificuldade em fazer tudo sozinho" e que o levou "ao médico muito antes de ser diagnosticada a doença de Alzheimer", garantindo que "tinha um marido fantástico e hoje tenho um bebé grande para tratar".
Ouvida como testemunha em mais uma sessão realizada no Juízo Central Criminal de Lisboa, Maria João Salgado lembrou o casamento de quase 60 anos com o antigo presidente do Grupo Espírito Santo (GES) para salientar a degradação do estado de saúde do marido, assinalando que tem de o acompanhar em praticamente todas as atividades do dia a dia.
"Sou casada há praticamente 60 anos, sou eu que vivo com ele, sou a pessoa que melhor o conhece. Está doente, a doença infelizmente tem progredido, o Ricardo tem dificuldade de fazer tudo sozinho, tem dificuldade... Eu tenho de estar com ele para ele ir à casa de banho. Durmo com ele e tenho de estar com atenção porque ele levanta-se de noite e não acende a luz. Custa-me dizer isto do meu marido, mas ele não tem independência nenhuma hoje em dia. Tem umas atividades, pode ficar sozinho a ver televisão. Já se tem perdido em casa. No outro dia foi à cozinha perguntar se tinha uma sanita para mim…
Muitas vezes não se lembra dos nomes dos netos. Tem de pensar muito e normalmente mistura os filhos com os netos", afirmou perante o coletivo.
Maria João Salgado diz ainda que é a cuidadora do marido e que será "sempre", mas que "às vezes" precisa "de descansar".
"Fico sem dormir e já tenho recorrido a uma cuidadora em casa. O nosso quarto é no primeiro andar e arranjei-lhe um quarto cá em baixo para ele não ter de descer escadas e ir à casa de banho, porque tenho medo... Quando eu estou muito cansada, ele fica lá em baixo".
Um "homem de fé e de princípios"
Também o padre Avelino Alves, que diz ter "uma amizade muito próxima" com Ricardo Salgado foi ouvido esta segunda-feira em tribunal. Garantindo que este é "um homem de fé e de princípios", o sacerdote garantiu ainda que o ex-banqueiro era "um homem humilde que sabia ouvir mais do que falar". "Nunca lhe vi aquela arrogância. É uma pessoa muito solidária.”
“Um dia digoi-lhe que não sei como hei-de agradecer o que tem feito por mim. Vinha gente ter comigo que dizia que perdeu a casa. E ele disse-me o senhor não me deve favor porque você resolver o problema para o banco e para a pessoa.”
Sobre a queda do banco, Avelino Alves diz que Ricardo Salgado "acreditava que ainda era possível", mas que lhe deu "a entender que não lhe deram oportunidade de se defender".
"Ele disse-me que tinha solução para os lesados. Era isso que lhe fazia doer a alma", afirmou.
Ricardo Salgado está a ser julgado neste processo por corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento de capitais.
Já Manuel Pinho, em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, é acusado de corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal, enquanto a sua mulher, Alexandra Pinho, está a ser julgada por branqueamento e fraude fiscal - em coautoria material com o marido.