Um mistério com 25 anos: a professora primária desaparecida, a filha que a procura e um companheiro com ‘vida de engano’ - TVI

Um mistério com 25 anos: a professora primária desaparecida, a filha que a procura e um companheiro com ‘vida de engano’

  • CNN
  • Hilary Whiteman
  • 4 dez 2022, 19:00
Marion Barter _ The Lady Vanishes Facebook

Marion Barter (no foto com os dois filhos pequenos anos antes de desaparecer em 1997): como a procura por uma mãe desaparecida se adensa mais de duas décadas depois.

Marion Barter era uma professora do 1.º ciclo aplaudida pela sua ternura. Mas em 1997, aos 51 anos, esta mãe de dois filhos ficou inquieta, demitiu-se, vendeu a casa e partiu das praias da Costa Dourada australiana para começar uma vida nova na Europa.

A família nunca mais a viu.

Se Barter tivesse desaparecido sem deixar rasto, a polícia australiana poderia ter levado o caso mais a sério, mas quando a filha, Sally Leydon, a deu como desaparecida, ela não foi adicionada à lista de desaparecidos. Mais tarde, um agente disse-lhe que Barter não queria ter contacto com a família.

Para Leydon, havia demasiadas perguntas por responder. 25 anos depois, ela ainda procura respostas. A mãe terá partido por vontade própria e queria realmente desaparecer?

Durante mais de três anos, jornalistas que trabalhavam com Leydon e um grupo de investigadores amadores perseguiram pistas e traçaram os seus progressos no podcast “The Lady Vanishes” [título de um filme de Alfred Hitchcok de 1938, titulado em Portugal como "A Desaparecida!"], que teve 14 milhões de transferências, segundo o produtor executivo do podcast.

Depois da emissão do podcast, a polícia de Nova Gales do Sul abriu uma análise formal ao caso e obteve provas suficientes para justificar uma investigação mais profunda, que levou a um inquérito que terminou no mês passado.

Até à data, ninguém foi acusado de qualquer ilegalidade relativamente ao desaparecimento misterioso.

Esta quarta-feira, Teresa O’Sullivan, investigadora na Nova Gales do Sul, devia entregar as suas conclusões sobre o processo onde tinham sido testadas provas recolhidas pelo podcast e pelos ouvintes e informações reunidas pela polícia.  Porém, na segunda-feira, a audiência foi adiada “após novas investigações”, segundo explicou um representante, que recusou desenvolver o tema.

Durante o inquérito, várias testemunhas deram dados sobre o desaparecimento de Barter, mas os autos foram dominados pelo interrogatório de um homem, Ric Blum, que pela primeira vez respondeu diretamente à pergunta: “Você matou Marion?”

Blum, atualmente com 83 anos, nega enfaticamente ter matado Barter ou ter tido qualquer envolvimento no seu desaparecimento em 1997, apesar de ter dito ao tribunal que teve um caso romântico com ela durante quatro meses antes do desaparecimento.

Durante o inquérito, Blum foi questionado várias vezes sobre diversas “coincidências”, inclusive sobre o facto de Barter ter mudado de nome dias antes de partir da Austrália para um nome falso que Blum tinha usado num anúncio em busca de companhia – ao qual Barter respondeu.

Outras mulheres testemunharam no inquérito sobre os seus encontros com Blum, e afirmaram que ele se apresentou como solteiro, rico e comerciante de moedas e que, em alguns casos, prometia uma “vida nova” no estrangeiro.

Em vez disso, o tribunal soube que Blum era casado, tinha dois filhos, e vivia da pensão de invalidez com a esposa numa pequena cidade costeira na Nova Gales do Sul, e tinha sido condenado em França e na Bélgica por fraude, falsificação e abuso de confiança. Blum reconheceu os casos extraconjugais, mas negou qualquer ilegalidade.

“Isto não afetou apenas a minha mãe. Destapámos uma lebre muito maior do que eu esperava encontrar”, disse Leydon à CNN. “Creio que há mais (mulheres) por aí. E tenho mesmo de encorajar as pessoas a falarem.”

Onde está Marion?

Barter foi vista pela última vez em Surfers Paradise, no coração da Costa Dourada, a 22 de junho de 1997, pela amiga Lesley Loveday que a deixou na paragem de autocarros de onde ela viajou para o aeroporto para voar para o Reino Unido.  

Após três casamentos e divórcios, Barter ansiava por algo novo e Leydon, a mais velha dos seus dois filhos, incentivou-a a ir. “Eu, que tinha 23 anos na altura, pensei: ‘Se não estás feliz, tira umas férias. Não tem importância, não é o fim do mundo. Há muitas pessoas que deixam o emprego’”, disse ela à CNN.

Leydon disse ao podcast e ao inquérito que a mãe lhe telefonou de uma cabine pública nos finais de julho e lhe disse que estava a passar uns tempos fabulosos na cidade pitoresca de Tunbridge Wells, em Inglaterra, e que estava ansiosa por conhecer mais do país.

Foi a última vez que falaram.

Marion Barter com os filhos Sally e Owen. Foto Facebook The Lady Vanishes

Leydon contou o que aconteceu a seguir durante o inquérito e recordou memórias que se repetem na sua cabeça há 25 anos.

Após o telefonema, passaram-se semanas sem qualquer contacto e, uma vez que a mãe não ligou ao irmão de Leydon no seu aniversário a 18 de outubro, Leydon disse que ligou ao banco da mãe na Austrália. Segundo Leydon, uma funcionária do banco, que reconheceu que não devia revelar pormenores a não ser ao detentor da conta, disse-lhe que parecia ter acontecido algo invulgar. 

Todos os dias durante mais de três semanas, alguém tinha ido a filiais em Byron Bay e na Costa Dourada, onde Barter tinha vivido, e tinha levantado 5 mil dólares australianos (cerca de 3260 euros) de cada vez da conta da mãe dela, disse Leydon citando a funcionária do banco. Uma outra transferência de 80 mil dólares australianos (52 mil euros) foi feita a 15 de outubro, apurou depois o inquérito.

Leydon foi a Byron Bay com uma foto da mãe, mas ninguém pôde confirmar que a tinha visto.

Nesse mesmo dia, 22 de outubro, Leydon contactou a polícia.

Marion Barter com o ex-marido e amigos. Foto Facebook The Lady Vanishes

A polícia da Nova Gales do Sul registou a preocupação, mas não colocou o nome de Barter na lista de pessoas desaparecidas, e quando a agente Paula McKenzie, de Queensland, questionou o banco, uma funcionária disse-lhe que Barter tinha levantado todo o seu dinheiro e não queria que o seu paradeiro fosse revelado. 

“A funcionária insistiu bastante que se tratava da própria e não havia mais nada a fazer”, disse McKenzie ao inquérito. 

Passaram 14 anos até Leydon descobrir que a mãe voltou à Austrália com uma nova identidade. Questões de privacidade impediram as tentativas anteriores de Leydon de obter informações sobre a sua mãe de várias fontes oficiais, disse ela.

“A questão da privacidade é muito importante”, disse Leydon. “Todas essas portas estavam bem trancadas com um grande cadeado e, até eu ter uma certidão de óbito da minha mãe, esse cadeado mantém-se fechado a sete chaves.”

O inspetor Gary Sheehan disse ao inquérito que investigou o caso e disse a Leydon em 2011 que a mãe tinha mudado de nome e voltado para a Austrália a 2 de agosto de 1997. Ele disse que não revelou a Leydon o novo nome de Barter nem de onde vinha a informação porque isso era confidencial.

Nesse momento, percebi imediatamente que havia mais alguém envolvido Sally Leydon, filha de Marion Barter

 

Leydon veio depois a saber que a mãe era agora conhecida como Florabella Natalia Marion Remakel, um nome invulgar que ela não reconhecia – “Nesse momento, percebi imediatamente que havia mais alguém envolvido, e foi alguém que lhe disse para fazer isso porque não era nada o feitio dela”, disse Leydon à CNN.

Quando Leydon obteve uma cópia do cartão de entrada de Remakel como imigrante na Austrália, ela reconheceu imediatamente a letra da mãe, tendo ficado com poucas dúvidas de que a mãe tinha voltado. Barter, agora Remakel, escrevera no cartão que era uma doméstica que vivia no Luxemburgo e vinha temporariamente à Austrália.

Para a polícia, a mudança de nome de Barter e o regresso em segredo à Austrália eram mais provas de que a professora tinha encenado o seu próprio desaparecimento – e sem falarem com ela nem a verem fisicamente, declararam que ela não estava desaparecida.

O elo em falta

Quando a assistente social Joni Condos, ávida ouvinte de podcasts sobre crimes reais, ouviu o nome Remakel no “The Lady Vanishes” numa noite de 2019, mergulhou nos arquivos online para tentar encontrar uma ligação.

“Eu estava sentada no sofá, era meia-noite. Então, resolvi dar uma vista de olhos nos jornais. Afinal, porque não?”, disse ela.

Num arquivo australiano online, Condos pesquisou por variações de “Remakel” e encontrou um anúncio num jornal franco-australiano publicado em 1994 por um homem de 47 anos – “solteiro, alto, moreno, sério, não-fumador”  – à procura de uma relação com vista ao casamento.

Estava assinado por  “F. Remakel”, com uma caixa postal e um número de telefone em Lennox Head, no norte da Nova Gales do Sul, a menos de duas horas de carro do sítio onde Barter vivia.

 A potencial ligação era demasiado intrigante para ser ignorada.

Condos e os produtores do podcast procuraram nos registos australianos e não encontraram indicação de ninguém chamado Remakel, mas uma pesquisa online nos registos europeus revelou um homem com a mesma idade e as mesmas iniciais – Fernand Remakel – que vivia no Luxemburgo.

Em 2019, quando os produtores do podcast lhe bateram à porta, Remakel negou conhecer Marion Barter.

Inabaláveis, os jornalistas e Condos investigaram um pouco mais no Registo Comercial do Luxemburgo e descobriram a ex-mulher de Remakel, Monique Cornelius. Por sua conta, outro ouvinte ligou o número de telefone do anúncio a uma pequena loja de moedas na cidade de Ballina, na Nova Gales do Sul, gerida por Frederick De Hedervary. 

O nome Frederick De Hedervary levaria depois a polícia ao mais recente pseudónimo de Remakel, Ric Blum.

Blum chamado a depor

Atualmente idoso de barba branca e óculos, Blum arrastou-se até ao tribunal de Ballina com um andarilho, rodeado por câmaras de televisão, para depor no inquérito.

O tribunal soube que Blum tinha emigrado para a Austrália em 1976 e, desde então, mudou de nome pelo menos 13 vezes, usando as novas identidades para obter cartas de condução e passaportes. 

Quando lhe perguntaram porquê, Blum disse: “Mudei de nome por fantasia e porque é legal. Não tinha um objetivo específico.” Ele admitiu ter usado o nome Fernand Remakel para tirar a carta de condução na Austrália, e ficou a saber do nome através da ex-mulher, Cornelius, que segundo ele disse ao inquérito, era uma “pessoa fantástica”.

Blum disse que a relação tinha sido meramente platónica e que Cornelius visitava regularmente a fábrica onde ele trabalhava.

No entanto, o tom dele mudou quando o advogado representante do ministério público, Adam Casselden, leu em voz alta uma carta que Blum tinha escrito a Cornelius em 1980, quando ele vivia no Luxemburgo com a sua jovem família.

Na carta, Blum dizia: “Minha encantadora, nunca na vida tinha feito amor assim com alguém… Na segunda-feira, parto para o Reino Unido e para a Irlanda, alguns dias para comprar o nosso barco… Quero apenas conhecer este país que é tão doce como o teu sorriso, belo como os teus olhos e caloroso como o amor que sinto por ti. Estou intimamente convencido de que não te vais arrepender da decisão de partir comigo e começar uma vida nova.”

Num depoimento que a polícia da Nova Gales do Sul leu ao tribunal, Cornelius disse que tivera uma relação sexual com Blum que terminou quando ela descobriu que ele era casado e tinha filhos.

Ela disse que Blum era um mentiroso e “um grande e perigoso manipulador”.

“Por exemplo, no início da nossa relação ele disse-me que trabalhava na Embaixada Britânica no Luxemburgo como agente especial”, disse ela.

Blum admitiu ter escrito a carta, mas disse que na altura estava apaixonado por Cornelius e insistiu que nunca tinham tido relações sexuais, como ela afirmava.

“Ela tem estado sempre a mentir. É uma mentirosa. Está a mentir, mentir, mentir”, disse ele.

Marion Barter foi vista pela última vez pela amiga numa paragem de autocarro na Costa Dourada, em junho de 1997.

As perguntas voltaram-se para Barter e Blum fez uma confissão que se mantivera secreta durante quase 25 anos:  revelou ter tido um caso romântico com a professora entre fevereiro e junho de 1997 – o mês em que ela partiu da Austrália.

Ele colocou o anúncio com o nome “Fernand Remakel” a que Barter respondeu, e encontraram-se três ou quatro vezes em casa dela sem a mulher dele saber. 

Para a jornalista Alison Sandy, produtora executiva de “The Lady Vanishes”, a confissão foi um choque – até ali, não havia uma indicação sólida de que Blum tinha tido contacto próximo com Barter nos meses antes de ela desaparecer.

“As peças encaixaram. Tudo fez sentido. Era a peça que faltava no quebra-cabeças e que procurávamos desde o início”, disse ela.

Blum disse ao tribunal que terminou a relação com Barter antes de ela partir da Austrália, porque ele era casado e tinha filhos e não queria “dramas”.

Era a peça que faltava no quebra-cabeças e que procurávamos desde o início Alison Sandy, 'The Lady Vanishes'

 

O tribunal soube que Blum viajou para a Europa a 17 de junho de 1997, cinco dias antes de Barter ter partido para o Reino Unido, e que voltou à Austrália a 31 de julho  – dois dias antes de Barter regressar sob o nome Remakel. 

Quando foi exposto a Blum que as datas de viagem semelhantes pareciam ser “uma grande coincidência”, Blum disse que ele e Barter não falaram dos respetivos planos de viagem de cada um. 

“Não viajei com ela”, disse Blum. “Desde que ela partiu da Austrália, nunca mais a vi.”

Blum disse que nem sabia que Barter estava desaparecida até a polícia lhe ter batido à porta no ano passado.

Foi mostrado ao tribunal um vídeo do interrogatório formal de Blum na polícia, onde se via o idoso sentado com os braços apoiados em bengalas.

“Assassinou Marion Barter?” perguntou um agente da polícia.

“Está a brincar? Não... não”, respondeu Blum.

“Fez algum tipo de mal a Marion Barter?”

“Não, nunca fiz mal a ninguém”, disse ele.

“Teve alguma interação com Marion Barter quando ela voltou à Austrália depois de 2 de agosto de 1997?”

“Não.”

“Sabe onde ela está?”

“Não.”

Começar uma ‘vida nova’

Outras mulheres contaram ao inquérito sobre os seus encontros com Blum. 

Dois anos após Barter ter partido da Austrália para a Europa, Janet Oldenburg fez uma viagem semelhante com Blum, que conhecia como Ric West.

Oldenburg disse ao tribunal que conheceu Blum em 1996 através do círculo de coleções de moedas de que o seu marido fazia parte, e que tinham retomado o contacto em 1999 quando ela finalizou o seu divórcio. O dinheiro escasseava e ele ofereceu-lhe trabalho, mas antes de ela aceitar, ele declarou os seus sentimentos por ela e incitou-a a mudar-se com ele para a Riviera Francesa para “começar uma vida nova”. 

Ela disse ao tribunal que Blum falou noutros destinos possíveis, Argélia e Espanha, “porque o tempo seria bom e quente, e eu poderia ter criados e coisas assim para cuidarem da casa para eu não ter de fazer nada”. Ele disse-lhe que o seu negócio de moedas valia 12 milhões de dólares australianos (cerca de 8 milhões de euros) e que era dono de uma propriedade com 8 mil hectares plantada com cedro-vermelho. 

Na altura, segundo Oldenburg disse ao tribunal, ela tinha 51 anos e estava “muito vulnerável” após a separação do marido, que “tratou sempre de tudo” durante o tempo que foram casados. 

“Senti-me animada por começar uma vida nova, por ter um novo começo”, disse ela ao tribunal.

Uma imagem de Ric Blum, por volta de 2008, nascido como Willy Wouters e que também usava os pseudónimos Frederick De Hedervary, Ric West e Richard Lloyd Westbury, entre outros.

Antes de partirem, Blum incentivou-a a enterrar as joias no quintal e trazer os documentos pessoais e a escritura da casa que possuía no Reino Unido, disse ela. 

Quando chegaram ao Reino Unido, ele sugeriu que se separassem para ela passar tempo com a prima em Manchester enquanto ele fazia negócios em França.

Mas dois dias depois, ele telefonou-lhe e disse que tinha sido assaltado e espancado por seis homens com bastões de basebol, tinha duas costelas partidas e estava no hospital em Lille, no norte de França.

Ele disse-lhe que podia marcar-lhe um voo de regresso à Austrália a 29 de dezembro de 1999, disse ela ao tribunal.

Em vez disso, a prima marcou-lhe um voo mais cedo e ela chegou a casa a 20 de dezembro.

Algumas horas depois de ela voltar a casa, Blum apareceu, aparentemente ileso, e pareceu “chocado” quando ela abriu a porta, disse ela. 

Ele disse ao inquérito que tinha tirado as ligaduras e voltado rapidamente para casa quando um dos familiares masculinos dela o informou de que ela iria apanhar um voo mais cedo. Oldenburg disse que, nessa altura, ainda confiava nele.

Mas em janeiro de 2000, Oldenburg disse à polícia que tinha dado pela falta de documentos e que as joias que tinha enterrado no quintal tinham desaparecido. Quando ela confrontou Blum, ele disse que lhe devolveria tudo, mas só devolveu algumas joias. Ela fez queixa na polícia e o inquérito descobriu que Blum disse à polícia que devolveu as joias todas. Ela não o voltou a ver.

Em tribunal, Blum disse que não ficou com os documentos de Oldenburg e que nunca lhe disse que iriam mudar-se para a Europa. Ele disse que a deixou no Reino Unido porque já não queria mais nada com ela.  “A minha vida era com a minha mulher e com os meus filhos na Austrália”, disse ele.

Ginette Gaffney-Bowan disse ao tribunal que, por volta da mesma época – nos finais da década de 1990 – ela se sentia sozinha e “extremamente vulnerável” depois de se ter divorciado do marido. Ela publicou um anúncio no jornal à procura de amizade e foi contactada por Blum, que conheceu como  Frederick De Hedervary.

Gaffney-Bowan disse ao tribunal que eles começaram por falar em criar um negócio de moedas, mas rapidamente a conversa passou para ele a propor-lhe que ela vendesse a casa e comprasse um apartamento em Paris. 

Como ela recusou, ela disse que ele tentou chantageá-la com fotos dela nua, tiradas sem o seu consentimento. Ela disse ao inquérito que, pelo que sabia, ele nunca divulgou as imagens.

Dinheiro. Foi isso que ele sempre quis Ginette Gaffney-Bowan

 

Gaffney-Bowan disse ao inquérito que ficou “assustada” e, em 1998, pediu uma providência cautelar contra ele.

Quando lhe perguntaram o que ele queria dela, Gaffney-Bowan disse: “Dinheiro. Foi isso que ele sempre quis.” Segundo disse, o único dinheiro que lhe deu foi cerca de 30 mil dólares australianos (20 mil euros) como financiamento inicial para o negócio de moedas.

No tribunal, Blum negou as afirmações dela e acusou-a de mentir.

‘Vida de duplicidade’

Nas suas alegações finais, Casselden disse ao tribunal que Blum exibia um “padrão de comportamento relativo à exploração de mulheres solteiras de meia-idade”.

“Ele levou uma vida extraordinária de logro e duplicidade, inclusive na longa relação do seu casamento com a esposa atual”, disse Casselden.

Blum negou ter tentado aproveitar-se de Oldenburg e Gaffney-Bowan, mas Casselden disse que o depoimento dele devia ser “inteiramente rejeitado” a favor do depoimento delas. “Não há qualquer motivação, meritíssimo, para qualquer uma delas ter mentido”, disse Casselden.

Relativamente a Barter, Casselden disse que a única “explicação racional e plausível” para ela ter mudado de nome foi o facto de estar numa relação com Blum e ter mudado de nome “quer por insistência dela ou dele, ou uma conjugação de ambas”.

Ele disse que era provável que tivessem viajado juntos como casal para a Europa, e que Blum tivesse sugerido que começassem uma “vida nova”. O que aconteceu a seguir é incerto.

Casselden disse que apesar de uma investigação alargada e contínua, a polícia não conseguiu localizar Barter – viva ou morta. Este ano, a polícia da Nova Gales do Sul aumentou a recompensa por informação que leve à detenção e condenação de qualquer pessoa envolvida no desaparecimento de Barter para 500 mil dólares australianos (327 mil euros).

Sinto que as pessoas pensam que vou ficar quieta e esquecer-me disto. A verdade é que não vou Sally Leydon, filha de Marion Barter

 

O inquérito pode estar a terminar, mas Leydon diz que a sua procura por respostas não vai terminar por aqui.

“Sinto que as pessoas pensam que vou ficar quieta e esquecer-me disto. A verdade é que não vou”, disse Leydon. 

Ela quer que o desaparecimento da sua mãe leve a mudanças nas leis australianas para que seja mais fácil os familiares acederem aos registos de uma pessoa desaparecida após um período sem contacto, para que tenham mais hipóteses do que ela teve de descobrir pistas e ouvir os relatos de testemunhas antes de as suas memórias se esbaterem. 

Leydon aceita que a sua mãe já terá provavelmente morrido, mas continua a querer saber como e porquê.

“Só quero saber onde ela está e o que aconteceu”, disse ela. “Imploro que me ajudem a descobrir a resposta a isso.” 

 

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