Os próximos dias vão ser de chuva, vento e neve por causa da “gota fria” que continua a afetar Espanha e que já está a entrar em Portugal. Apesar de o fenómeno ser o mesmo, o território nacional não deverá ser tão afetado como Espanha, onde já foram emitidos alertas vermelhos em Valência e Málaga.
Em causa está o fenómeno DANA, uma depressão isolada em níveis altos, responsável pelas cheias rápidas que há duas semanas assolaram Valência e outras regiões em Espanha e que provocaram pelo menos 223 mortes.
À CNN Portugal, o climatologista Carlos da Câmara, professor da Faculdade da Ciência da Universidade de Lisboa, descreve este fenómeno como uma onda do mar, que vai fazendo ondas cada vez mais elevadas, formando um ‘S’ tão comprido que a dada altura fica isolada das restantes, mantendo-se nos níveis elevados da atmosfera. Ao contrário das demais depressões, esta fica “sempre parada no mesmo sítio”, formando “um remoinho na atmosfera”, a cerca de oito quilómetros de altitude.
Esta depressão é “acompanhada de ar quente e húmido” que, no caso de Espanha, vem do mar Mediterrâneo e que, quando sobe, leva a uma “grande quantidade de precipitação”. “O problema é que, quanto mais quente e húmido estiver o ar, mais chuva vai haver”, explica o professor Carlos da Câmara. Ora, como esta depressão “não sai do mesmo sítio”, está “em permanência a bombear ar quente e húmido para cima e o ar arrefece, provoca chuva abundante e está permanentemente a fazer isso no mesmo local”, acrescenta.
Foi precisamente isso que aconteceu há duas semanas em Valência e que se teme agora que se venha a repetir na mesma região e em Málaga, onde já foram retiradas cerca de 3 mil pessoas como medida preventiva.
Em Portugal, a situação não será tão dramática, perspetiva o climatologista. “Também temos uma DANA, só que, felizmente, o mecanismo é muito mais suave, e portanto vamos ter chuva mas não nas quantidades dramáticas que ocorreram em Valência e que estão novamente previstas para a mesma região e para Málaga.”
Segundo o climatologista Mário Marques, para esta quinta-feira já se prevê a "ocorrência de alguns aguaceiros, sobretudo nas regiões do interior norte e centro", ainda que em "quantidades pouco significativas". A precipitação será acompanha de uma descida acentuada das temperaturas e poderá "haver alguma neve nos pontos mais altos da Serra da Estrela".
"O dia 15 será o dia com aguaceiros mais frequentes e eventualmente também alguns aguaceiros que pontualmente poderão gerar ventos", acrescenta o climatologista, em declarações à CNN Portugal, prevendo que as regiões mais afetadas serão o Algarve, o litoral Alentejano e a região de Setúbal.
O que explica, então, que o fenómeno seja mais violento em Espanha? Segundo Carlos da Câmara, isto deve-se ao facto de água do Mediterrâneo estar “anormalmente quente”. “É assustador como o Mediterrâneo está tão quente”, admite o climatologista, explicando que, dessa forma, o ar que chega a Espanha é “muito mais húmido” e “retém muito calor”, demorando mais tempo a arrefecer na atmosfera, daí que a chuva caia em maior quantidade numa só região.
Ora, há duas semanas, acrescenta Mário Marques, esta depressão esteve "estacionária durante 12 a 24 horas" em Espanha, "produzindo precipitação intensa nesse período", levando às cheias rápidas que tomaram uma dimensão sem precedentes. Em apenas oito horas, caiu em Valência o correspondente a um ano de chuva, segundo a Agência Meteorológica de Espanha (AEMET), o que provocou uma destruição percetível a partir do espaço.
Desta vez, as autoridades já estão mais preparadas. A AEMET elevou para o nível vermelho - risco extremo - o aviso de chuva na costa norte e sul da província de Valência desde as 21:00 desta quarta-feira até ao meio-dia de quinta-feira (menos uma hora em Portugal Continental). A agência também colocou Málaga sob alerta vermelho, afirmando que se tinham acumulado até 70 milímetros de chuva numa hora.