Maus tratos na infância são muitas vezes invisíveis e todos são precisos no combate - TVI

Maus tratos na infância são muitas vezes invisíveis e todos são precisos no combate

  • Agência Lusa
  • AM
  • 21 abr 2023, 07:28
Crianças

Atuação atempada e uma intervenção adequada são os únicos modelos que funcionam no combate aos maus tratos na infância e, por isso, todos são “poucos para fazer este caminho de prevenção”

Os maus tratos na infância são muitas vezes invisíveis e difíceis de identificar, alertou a presidente da Comissão Nacional de Proteção das Crianças, segundo a qual justificam que as comissões acompanhem anualmente cerca de 70 mil crianças.

Abril é o mês da prevenção contra os maus tratos na infância, desde que, em 1989, uma mulher norte-americana amarrou uma fita azul na antena do carro, em homenagem ao neto, vítima mortal de maus tratos, tendo escolhido aquela cor para simbolizar a cor das lesões.

Para a presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), “nunca é demais chamar a atenção que proteger as crianças compete a todos”.

“Todos nós temos uma responsabilidade imensa, enquanto adultos, de estarmos atentos às crianças que estão à nossa volta e de podermos protegê-las devidamente. Parece que já passaram muitos anos e que já não é preciso, mas infelizmente ainda é preciso termos estes momentos de chamada de atenção para a prevenção de maus tratos na infância”, defendeu Rosária Farmhouse.

Segundo a responsável, trata-se de uma realidade “muitas vezes invisível” e sobre a qual é difícil perceber os sinais.

“Passaram muitos anos, mas a verdade é que em muitos países, apesar de termos este mês internacional de prevenção dos maus tratos na infância, continuamos a ter crianças a serem vítimas de maus-tratos de forma invisível”, apontou.

De acordo com Rosária Farmhouse, todos os anos as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) acompanham cerca de 70 mil crianças e recebem mais de 40 mil comunicações de perigo, em que as tipologias mais frequentes têm a ver com negligência.

Explicou que tanto pode estar em causa situações de omissão de cuidados, indiferença em relação ao crescimento da criança, ausência de condições mínimas para um crescimento integral e seguro, como casos de violência doméstica, ou abandono escolar precoce.

Referiu, por outro lado, que há também comportamentos de perigo na infância e juventude, em que os próprios têm comportamentos que representam um perigo e os pais ou cuidadores não conseguem fazer parar, como seja ‘bullying’, consumo de drogas, álcool ou dependência de jogo.

De acordo com a presidente da CNPDPCJ, estas são as tipologias que mais aparecem, tendo sublinhado que os comportamentos de perigo na infância e juventude “continuam com uma expressão muito grande” e tendem a começar cada vez mais cedo, com casos já de crianças com 11 anos.

Referiu que a dependência do jogo “também teve um ligeiro aumento” e alertou para a dependência do ecrã, apontando que quando não há supervisão parental as crianças podem estar a colocar-se em perigo mesmo estando dentro de casa, ficando vulneráveis a perigos como o ‘sexting’ ou o ‘ciberbullying’.

Rosária Farmhouse apontou que os maus tratos na infância são transversais na sociedade e que “estão presentes em todas as classes sociais”, sublinhando que nas classes socioeconómicas mais favorecidas os casos “muitas vezes se tornam mais invisíveis porque têm formas de disfarçar melhor” e “quem está à volta não está tão atento”.

“Nesse sentido, esta campanha do mês de abril é muito [uma] chamada de atenção de combater a indiferença a quem está à nossa volta e ficarmos na certeza que quem comunica situações de perigo o está a fazer para bem da criança e não contra ninguém”, defendeu.

Sublinhou que uma atuação atempada e uma intervenção adequada são os únicos modelos que funcionam no combate aos maus tratos na infância e que, por isso, todos são “poucos para fazer este caminho de prevenção”.

Rosário Farmhouse destacou que no dia 28, para terminar de assinalar o mês, vai decorrer no Terreiro do Paço, em Lisboa, a construção de um laço azul, tal como noutros pontos do país, com a ajuda de 1.500 crianças.

O mês da prevenção contra os maus tratos na infância tem vindo a ser assinalado pelas 300 CPCJ dispersas no país, em conjunto com a Comissão Nacional, com inúmeras iniciativas, desde seminários, caminhadas, concursos de música ou poesia, até edifícios simbólicos que em cada concelho se iluminam de azul.

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