Começou de mansinho com o anúncio de que Israel tinha feito um “ataque preventivo” e se preparava para uma retaliação do Irão. Se não foi imediatamente possível perceber o porquê da prontidão de Israel para anunciar um estado de emergência, os desenvolvimentos da madrugada foram permitindo perceber que este não era um ataque - ou ataques, já que foram várias vagas - normal.
Entre os vários mortos dos ataques estratégicos e altamente dirigidos de Israel está Hossein Salami, líder das Guardas Revolucionárias, um braço armado das Forças Armadas do Irão e uma das organizações mais importantes do regime dos aiatolas. Mais tarde, quando a manhã começava a ganhar cor em Portugal, foi confirmado que também o chefe das Forças Armadas do Irão, o major-general Mohammad Bagheri, foi morto neste mesmo ataque.
Mas este é apenas um dos nomes que aponta para um ataque altamente eficaz e que encontra poucos cenários semelhantes em termos de gravidade. Em paralelo, e além da morte de Hossein Salami, também dois dos principais cientistas do programa nuclear, Fereydoun Abbasi e Mohammad Mehdi Tehranchi, foram mortos neste mesmo ataque.
Isto porque o programa nuclear do Irão era mesmo o grande alvo da operação batizada de Rising Lion, com Israel a justificar os ataques com a iminência do desenvolvimento de pelo menos 15 bombas nucleares dentro de dias.
Entretanto, o Irão anunciou que Israel pode esperar uma "resposta severa", algo que o Estado hebraico parecia já esperar, uma vez que declarou automaticamente um estado de emergência. Essa resposta pode estar iminente, até porque as mais altas patentes do Irão estão reunidas de emergência.
As forças iranianas já anunciaram que "Israel e Estados Unidos vão pagar um preço elevado", colocando também os norte-americanos no seio da situação, mesmo que a administração Trump já tenha vindo esclarecer que não participou no ataque. Isto porque, segundo o brigadeiro-general Abolfazl Shekarchi, porta-voz das Forças Armadas do Irão, o ataque teve o apoio norte-americano.
Pouco depois, o próprio aiatola Ali Khamenei, líder supremo do Irão, anunciou que vem aí um "castigo severo" a Israel. Confirmando a morte de vários comandantes militares e cientistas que trabalhavam ao serviço do Estado iraniano, o responsável garantiu que essas mesmas tarefas não vão parar.
“O regime deve aguardar um castigo severo [por um] crime ao amanhecer. Nos ataques do inimigo, vários comandantes e cientistas foram martirizados. Os seus sucessores e colegas irão, se Deus quiser, continuar imediatamente as suas funções sem pausa", referiu.
Em todo o caso, Israel parece estar mesmo ciente que a resposta será, desta vez, altamente severa.
"Não posso prometer um sucesso absoluto - o regime iraniano vai tentar atacar-nos em resposta, mas é esperado que o número de vítimas seja diferente do que estamos habituados", anunciou o comandante das Forças Armadas de Israel, o tenente-general Eyal Zamir.
Talvez por isso, e ao contrário do que aconteceu outras vezes, vários hospitais estão a anunciar medidas de preparação para dar resposta a um grande número de baixas. Entre as várias decisões está a alta dada a todos os doentes que não necessitam de hospitalização.
A primeira fase de algo mais
As Forças de Defesa de Israel (IDF) confirmaram através da sua conta em inglês que vários caças da Força Aérea completaram "a primeira fase" dos ataques em "dezenas de alvos militares, incluindo alvos nucleares em diferentes áreas do Irão".
"Hoje, o Irão está mais próximo de obter uma arma nuclear. Armas de destruição maciça nas mãos do regime iraniano são uma ameaça existencial ao Estado de Israel e a todo o mundo", pode ler-se no mesmo comunicado, que defende que Israel não teve outra escolha a não ser a realização destes ataques.
O primeiro-ministro de Israel fez um discurso logo a seguir ao ataque, anunciando um "momento decisivo" na história de Israel, num ataque que também teve como alvos vários componentes de fabrico de mísseis balísticos.
Depois de ter estado reunido com o gabinete de segurança, Benjamin Netanyahu confirmou que havia pilotos a atacar "vários alvos no Irão". Um desses alvos é uma das principais instalações de enriquecimento de urânio no Irão, em Natanz, segundo o próprio primeiro-ministro.
"Há momentos, Israel lançou a operação Rising Lion, uma operação militar destinada a atingir a ameaça iraniana para a sobrevivência de Israel", referiu, horas antes de novas explosões serem ouvidas no mesmo local, onde uma grande coluna de fumo negro era vista.
Nesta mesma comunicação, o primeiro-ministro israelita referiu que foram atacados cientistas líderes do programa nuclear do Irão que estavam a "trabalhar na bomba iraniana", não ficando claro se os alvos foram mesmo as pessoas.
E depois, confirmando que Israel pode estar a preparar-se para vários dias de ataque, frisou que "esta operação vai continuar por quantos dias for necessária".
Uma operação que, também segundo Benjamin Netanyahu, "atingiu a infraestrutura nuclear, fábricas de mísseis balísticos e as capacidades militares do Irão".
Estados Unidos afastam envolvimento
O secretário de Estado norte-americano anunciou que os Estados Unidos não participaram no ataque conduzido por Israel. Depois de as forças israelitas não terem esclarecido cabalmente o assunto, Marco Rubio declarou que o ataque foi uma "ação unilteral contra o Irão".
"A nossa principal prioridade é proteger as forças americanas na região. Israel avisou-nos que acreditava que esta ação era necessária para legítima defesa", informou o responsável.
"O presidente de Trump e a administração tomaram todos os passos necessários para proteger as nossas forças e mantêm-se em contacto com os parceiros regionais", acrescentou.
Depois, ainda acrescentou: "Deixem-me ser claro: o Irão não deve atacar os interesses dos Estados Unidos ou o seu pessoal", numa clara indicação de que acredita numa retaliação e de que até admite essa mesma retaliação, desde que não tenha alvos norte-americanos pelo meio.
Os Estados Unidos já tinham anunciado que um ataque israelita estava iminente, mas não se pensou que fosse tão rápido. Foi por isso, de resto, que os norte-americanos anunciaram várias movimentações nas suas embaixadas na região, nomeadamente no Iraque.
Este ataque insere-se num contexto em que Irão e Estados Unidos continuam as discussões relativas ao programa nuclear iraniano, com a administração Trump a procurar dissuadir Teerão de procurar alcançar uma arma nuclear.