Fortunas das 10 famílias mais ricas da bolsa aumentam 1,2 mil milhões - TVI

Fortunas das 10 famílias mais ricas da bolsa aumentam 1,2 mil milhões

  • ECO - Parceiro CNN Portugal
  • Nuno Carregueiro
  • 6 jan 2023, 10:02
Paula Amorim (ECO)

A maioria das maiores fortunas da bolsa passaram ao lado da crise que abalou os mercados em 2022. As participações acionistas valorizaram 560 milhões de euros e geraram 680 milhões em dividendos

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Num ano em que os investidores sofrem perdas acentuadas nas suas carteiras devido à desvalorização pronunciada das ações a nível global, as famílias portuguesas mais ricas que detêm posições significativas no capital de cotadas portuguesas não têm razão de queixa.

O valor de mercado destas participações acionistas detidas pelas 10 famílias mais ricas da bolsa portuguesa voltou a subir a 2022, prosseguindo a tendência de crescimento que se tem verificado ao longo dos últimos anos. O património conjunto aumentou 560 milhões de euros, ao que se soma os dividendos que foram recebidos ao longo de 2022 por estas famílias: 680 milhões de euros.

Contas feitas, os cálculos efetuados pelo ECO apontam para um saldo positivo de 1.240 milhões de euros em 2022. Um valor bastante elevado, mas que ainda assim fica distante do montante que as maiores fortunas da bolsa portuguesa engordaram em 2021: 3,5 mil milhões de euros (de acordo com os cálculos efetuados pelo Negócios há um ano).

Esta diferença é explicada sobretudo pelo desempenho da bolsa portuguesa nestes dois anos. O PSI acumulou uma valorização de 2,8%, bem longe dos ganhos alcançados pelo índice português em 2021 (13,7%).

Apesar de este estar a ser um ano menos bom para a bolsa portuguesa quando comparado com 2021, a praça nacional registou um desempenho muito positivo tendo em conta as quedas sofridas pelas congéneres mundiais. Depois de em 2021 o PSI ter ficado muito aquém dos ganhos alcançados pela generalidade dos índices mundiais, em 2022 é dos poucos que consegue retornos positivos.

O MSCI World, índice que mede o desempenho das principais bolsas mundiais, perdeu 20% em 2022, corrigindo dos ganhos de dois dígitos alcançados em cada um dos três anos anteriores. O norte-americano S&P500 também perdeu 20%, a maior queda desde a crise financeira de 2008 e o quarto pior desempenho de sempre. O europeu Stoxx600 cedeu 12,9%.

As ações detidas pelas 10 famílias mais ricas da bolsa portuguesa estão atualmente avaliadas em 12,97 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 560 milhões de euros face ao registado no final de 2021. Um crescimento de 4%, que supera o desempenho do PSI.

Aos 680 milhões de euros encaixados em dividendos por estas famílias corresponde um “dividend yield” (rendibilidade) superior a 5%, evidenciando como as cotadas com este tipo de acionistas são habitualmente mais generosas no pagamento de dividendos.

Galp Energia brilha

A Galp Energia é a grande responsável pelo saldo positivo do PSI em 2022, tendo contribuído de forma decisiva para o crescimento das fortunas da bolsa portuguesa devido ao impacto no património da família Amorim.

A petrolífera acumulou uma valorização de 48% em 2022, beneficiando com a alta dos preços do petróleo e o bom momento do setor, que serviu de refúgio para muitos investidores neste ano negativo nos mercados acionistas.

A Galp Energia surge destacada no topo das valorizações do índice português, seguindo-se a Altri e a Greenvolt com ganhos acima de 20%, um desempenho também decisivo para impulsionar quatro das maiores fortunas da bolsa portuguesa.

As ações da Semapa e da Jerónimo Martins registam ganhos bem mais modestos (apenas um dígito), sendo que foram os dividendos que mais contribuíram para engordar as fortunas das famílias Queiróz Pereira e Soares dos Santos.

Em sentido inverso, as ações da Sonae, Corticeira Amorim, CTT e Mota-Engil registaram um saldo negativo no ano. Ainda assim, devido ao impacto dos dividendos, apenas duas estão a perder dinheiro este ano: as famílias Mota (posição na Mota-Engil) e Champalimaud (posição nos CTT). Os cálculos do ECO têm em conta apenas as participações qualificadas (superiores a 2%) nas cotadas portuguesas, não contemplando as ações que tenham noutras empresas nacionais ou estrangeiras.

Corticeira limita ganhos da família Amorim

Entre dividendos e variação das ações, a família Amorim foi a que mais ganhou na bolsa em 2022: 522 milhões de euros. Um valor que é impulsionado pela forte subida das ações da Galp Energia e limitado pelo mau desempenho da Corticeira Amorim.

A posição indireta de 18,33% no capital da Galp Energia (55% da Amorim Energia, que controla 33,3% do capital) valorizou 622 milhões de euros este ano. Somando os 116 milhões de euros recebidos em dividendos, a família ganhou 737 milhões de euros em 2022.

Esta evolução positiva foi contrariada pelo mau desempenho das ações da Corticeira Amorim, que cedem mais de 20% em 2022. A posição de controlo da família Amorim na líder mundial de cortiça desvalorizou 243 milhões de euros, o que foi apenas parcialmente compensado pelos dividendos recebidos (28 milhões de euros).

Agrupando as duas posições, as participações acionistas da família Amorim valorizam 16% em 2022 (379 milhões de euros), tendo recebido 143 milhões de euros em dividendos.

A família liderada por Paula Amorim ganhou mais de 700 milhões com a Galp e perdeu 227 milhões com a Corticeira Amorim
Paula Nunes / ECO

Três famílias encaixam mais 100 milhões em dividendos

Também as famílias Soares dos Santos e Queiroz Pereira encaixaram mais de 100 milhões de euros em dividendos este ano, sendo que a distribuição de lucros foi determinante para o aumento da fortuna destas duas famílias.

As ações da Jerónimo Martins subiram muito ligeiramente em 2022, elevando o valor da participação de 56,14% que a família Soares dos Santos tem na retalhista 28 milhões de euros. Somando os dividendos de 277 milhões de euros, o ganho total deste ano ascende a 306 milhões de euros, o segundo mais elevado entre todas as famílias portuguesas.

A posição de 83,2% que a família Queiroz Pereira detém na Semapa valorizou 44 milhões de euros (5,6%). Somando o encaixe de 117 milhões de euros com dividendos, o ganho total do ano é de 161 milhões de euros. Fruto do bom desempenho da Navigator, a Semapa reforçou bastante a remuneração aos acionistas este ano, com o pagamento de um dividendo extraordinário de 1,252 euros por ação em dezembro. Na época regular tinha pago 51,2 cêntimos.

As famílias Amorim, Soares dos Santos e Queiroz Pereira, três das mais ricas de Portugal, encaixaram bem mais de 500 milhões de euros em dividendos este ano, uma fatia que corresponde a quase 20% da remuneração total dos acionistas das cotadas portuguesas.

Acionistas da Altri e Greenvolt ganham mais de 200 milhões

Quatro das 10 maiores fortunas da bolsa portuguesa têm bastante em comum. São acionistas de referência de quatro cotadas da Euronext Lisbon: Altri, Greenvolt, Cofina e Ramada.

Ana Mendonça, Borges de Oliveira, Paulo Fernandes e Domingos Vieira de Matos são os acionistas históricos da Cofina, empresa que inicialmente agrupava uma série de atividades distintas (media, papel, aço, etc.). Em 2005 aconteceu o “spin off” da Altri, que três anos depois procedeu à separação da Ramada. No ano passado mais uma reestruturação, que deu origem à Greenvolt (energias renováveis).

A estrutura acionista inicial da Cofina foi sendo replicada, com este grupo de acionistas a manter o controlo do capital destas quatro companhias. Uma estratégia que tem resultado numa valorização destas participações, que se repetiu em 2022.

Das quatro, Ana Mendonça tem as posições acionistas mais elevadas, tendo por isso também os ganhos mais volumosos em 2022. Ganhou 51 milhões de euros com a valorização das ações das quatro empresas, sendo que mais de metade deste valor é da responsabilidade da Altri. Os dividendos renderam 12 milhões de euros.

A valorização acentuada das ações da Altri e da Greenvolt traduziu-se num ganho em redor de 50 milhões de euros para cada um dos quatro acionistas. No conjunto, viram as suas posições acionistas aumentarem de valor em 173 milhões de euros. Somando os dividendos recebidos, o saldo do ano ascende a 213 milhões de euros.

A família Soares dos Santos encaixou 277 milhões de euros em dividendos
Paula Nunes / ECO

Fortuna da família Soares dos Santos supera a soma das restantes nove

Olhando agora apenas para o valor das participações acionistas e não a variação que estas registaram em 2022, a família Soares dos Santos destaca-se claramente. A posição de controlo na Jerónimo Martins está atualmente avaliada em 7,1 mil milhões de euros.

O valor supera a soma das restantes fortunas que integram o grupo das 10 maiores da bolsa portuguesa (6,4 mil milhões de euros). A fortuna da família atingiu um pico acima de 8 mil milhões de euros quando as ações da Jerónimo Martins atingiram um máximo histórico em meados deste ano.

A uma larga distância surge a família Amorim, com 2,7 mil milhões de euros. A maior fatia (1,92 mil milhões de euros) diz respeito à posição na Galp Energia, com a participação na Corticeira Amorim avaliada no mercado em 828 milhões de euros.

A família Azevedo fecha o pódio, com um património bolsista avaliado em 1,5 mil milhões de euros. A posição na Sonae desvalorizou 72 milhões de euros este ano, o que é parcialmente compensado pela posição na Nos (+50 milhões de euros).

As restantes fortunas da bolsa portuguesa estão todas abaixo da fasquia dos mil milhões de euros, como é visível no gráfico em baixo.

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