Os humanos e todos os outros mamíferos conseguem reconhecer cinco sabores: o doce, o salgado, o amargo, o ácido e, uma descoberta mais recente, o umami. Mas, agora, um grupo de cientistas descobriu que a mosca da fruta (Drosophila melanogaster) consegue detetar um sexto sabor, o alcalino.
De acordo com o El País, que cita o estudo publicado na Nature Metabolism, os cientistas da Universidade da Califórnia, da Academia Chinesa de Ciências e do Centro Monell de Sentidos Químicos, descobriram que este tipo de moscas têm recetores dedicados a detetar o sabor básico e que entre os seus mais de 15.000 genes foi encontrado um gene que foi batizado de alka, porque esconde as instruções para detetar a alcalinidade de uma substância.
"As moscas detetam gostos diferentes principalmente ao utilizar neurónios recetores do gosto (NRGs), que são análogos às células recetoras do gosto humano, presentes no labelo, equivalentes à nossa língua. Além disso, também utilizam os NRGs no tarso das pernas para detetar substâncias gustativas. Ou seja, elas já sabem quando aterram se a substância é doce, ácida... ou alcalina, como já viram", explica Yali Zhang, bioquímico do Monell Center e autor principal da descoberta".
No entanto, para conseguirem descobrir que as moscas detetam o sabor alcalino, os cientistas tiveram de utilizar a técnica de modificação genética CRISPR e criar dezenas de moscas mutantes às quais faltava um gene que os investigadores acreditam que estava relacionado com os sentidos. Só depois é que as moscas foram expostas a gotas de glucose (solução doce) e outra com açúcar misturado com soda cáustica (solução básica).
Na experiência, todas as moscas que não tiveram os genes manipulados acabaram por escolher a solução doce, assim como quase todas as mutantes, à excepção das moscas a quem tinha sido bloqueado o gene com função desconhecida chamado CG12344 e que acabariam por escolher a solução básica. Mas, como a escolha poderia ter sido por causa do sódio, os cientistas acabariam por criar moscas com mutação dupla - uma para que não fossem repelidas pelo hidróxido e a outra para que não percebessem a existência do sabor salgado - e acabaram por descobrir que as moscas mutantes não evitaram a solução alcalina.
Os cientistas expuseram ainda as moscas a luz optogenética - técnica que possibilita a ativação de neurónios específicos do cérebro - que fez com que os animais ao serem intensamente iluminados com a luz vermelha ficassem excitados e preferissem o sabor alcalino e evitassem o sabor doce.
"Quando activámos os neurónios receptores do sabor, expondo-os à luz vermelha, as moscas perceberam o sabor da sacarose como alcalino, pelo que rejeitaram a sacarose que normalmente lhes seria atrativo. Isto indica que o sabor alcalino pode suprimir o sabor doce. Quando se adiciona algo amargo, como a cafeína, a uma chávena de leite de chocolate, este diminui o seu sabor doce e até o torna amargo porque a cafeína suprime o sabor doce", explicou Zhang.
Falta agora conseguir saber se o sabor que as moscas conseguem escolher também é passível de ser detetado pelos seres humanos, uma vez que a lógica do gosto é semelhante nas células gustativas de ambos. No entanto, Francisco Martín,que estuda a fisiologia molecular do comportamento no Instituto Cajal (CSIC), explica que os recetores de insectos e mamíferos não têm nada em comum.
"É de esperar que isso também aconteça nos seres humanos, mas o mecanismo da mosca não é utilizado pelos seres humanos. Os vertebrados nem sequer têm o gene das moscas", explica.