Um multivitamínico diário pode retardar o envelhecimento cognitivo? Talvez (mas há algo muito melhor) - TVI

Um multivitamínico diário pode retardar o envelhecimento cognitivo? Talvez (mas há algo muito melhor)

  • CNN
  • Sandee LaMotte
  • 28 mai 2023, 09:00
Comprimidos (DR: Pexels/Polina Tankilevitch)

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Um novo estudo revelou que os adultos mais velhos que tomaram um multivitamínico todos os dias durante três anos registaram uma ligeira melhoria da sua memória ao fim de um ano, em comparação com as pessoas que tomaram um placebo.

No início do estudo, 3.560 adultos com mais de 60 anos foram convidados a aprender 20 palavras num programa de computador. Os participantes do estudo tinham três segundos para estudar cada palavra antes de aparecer a seguinte. Imediatamente a seguir, foi-lhes pedido que escrevessem todas as palavras de que se lembrassem.

Ao fim do primeiro ano, o estudo revelou que as pessoas que continuaram a tomar um multivitamínico diário eram capazes de se lembrar, em média, de quase uma palavra a mais em comparação com as que tomaram o placebo. Embora o efeito tenha sido pequeno, foi estatisticamente significativo, de acordo com o estudo publicado no The American Journal of Clinical Nutrition.

A melhoria da memória manteve-se durante todo o estudo e foi mais acentuada nas pessoas com antecedentes de doenças cardiovasculares, afirmou o autor principal do estudo, Adam Brickman, professor de neuropsicologia do Instituto Taub de Investigação sobre a Doença de Alzheimer e o Envelhecimento Cerebral da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Os resultados refletem um estudo anterior, publicado em setembro de 2022, que encontrou uma melhoria na memória, cognição geral e atenção para pessoas que tomam um multivitamínico, especialmente aquelas que tinham histórico de doenças cardiovasculares. O estudo de 2022 foi realizado por investigadores da Harvard Medical School, em Boston, e da Wake Forest University, em Winston-Salem, Carolina do Norte, ambas nos EUA.

"Na ciência, esse tipo de replicação é um dos princípios de 'acreditar nos resultados'. Por isso, estamos muito entusiasmados com esta replicação porque acrescenta um pouco mais de confiança ao que estamos a observar", disse Brickman.

"Este é um estudo interessante, mas não se trata de grandes diferenças", acrescentou Jeffrey Linder, chefe de medicina interna geral da Feinberg School of Medicine da Northwestern University, em Chicago, que não esteve envolvido no estudo.

"Também me preocupa que tomar um multivitamínico possa distrair as pessoas de fazer coisas que sabemos serem mais benéficas para a função cognitiva, como comer bem, fazer exercício, manter-se socialmente ativo e dormir bem", indicou Linder.

Embora a melhoria de menos de uma palavra tenha sido estatisticamente significativa, seria difícil dizer se uma mudança tão pequena melhoraria a vida de uma pessoa, admitiu o investigador da doença de Alzheimer, Richard Isaacson, neurologista do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Florida.

"Isto vai ao encontro do meu mantra de que não há nenhum comprimido mágico para prevenir o declínio cognitivo", observou Isaacson, que não esteve envolvido no estudo. "Na minha clínica, verificamos as medidas nutricionais no sangue e adaptamos pessoalmente as intervenções e, ao fazê-lo, não tendemos a recomendar multivitaminas, uma vez que abordamos as deficiências individuais."

Resultados de um estudo maior

Tanto o novo estudo como o estudo Wake Forest-Harvard foram revisões adicionais de um estudo muito maior, com mais de 21.000 adultos, denominado Cocoa Supplement and Multivitamin Outcomes Study, ou COSMOS. Este estudo foi concebido para testar separadamente o impacto dos flavanóis dietéticos contidos num suplemento de extracto de cacau (não chocolate) na redução das doenças cardiovasculares e de um multivitamínico na prevenção do cancro.

Os resultados do estudo COSMOS sobre o cacau, publicados em março de 2022, revelaram uma redução de 15% nos eventos cardíacos, como ataques cardíacos, e uma redução de 27% nas mortes. O estudo COSMOS sobre o uso diário de multivitaminas não encontrou nenhum benefício na prevenção do cancro.

No estudo COSMOS, as vitaminas foram fornecidas pela Pfizer, biofarmacêutica internacional, enquanto o dinheiro das subvenções foi fornecido pela Mars Edge, um segmento da Mars Inc., e pelos Institutos Nacionais de Saúde.

Brickman e os seus coautores da Universidade de Columbia, do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova Iorque, do Brigham and Women's Hospital e da Brigham/Harvard Medical School seguiram os participantes no estudo durante três anos, repetindo os testes cognitivos em intervalos anuais.

Os dados brutos só mostraram um impacto estatisticamente significativo na memória no final do primeiro ano, e não nos dois anos seguintes, durante os quais o grupo do placebo também melhorou, disse Linder.

"Estamos a falar da diferença entre recordar 8,28 palavras no grupo multivitamínico e 8,17 palavras no grupo placebo. Não me parece que isso seja clinicamente significativo", considerou.

A equipa do estudo utilizou um modelo computacional para extrapolar e calcular a média dos dados, explicou Brickman.

"Como tínhamos uma grande distribuição de idades no estudo, pudemos fazer uma correlação entre a idade e o desempenho neste teste. É uma estimativa grosseira, baseada nos dados que tínhamos em mãos", indicou Brickman.

"Estimámos que o efeito das multivitaminas no final do estudo era o equivalente a retardar o envelhecimento cognitivo em cerca de três anos", acrescentou.

Comprimidos vs mudanças no estilo de vida

O estudo não foi capaz de determinar quais as vitaminas ou minerais no multivitamínico podem ter contribuído para o efeito, explicou Brickman. É necessária investigação futura para testar os componentes individuais e para verificar se a melhoria se mantém ao longo do tempo.

"Estudos anteriores mostraram uma associação entre os níveis sanguíneos de vitaminas como a B12 e a cognição. No entanto, os ensaios clínicos que testam os efeitos benéficos das vitaminas na memória e na cognição têm sido uma mistura de resultados negativos e positivos", argumentou Rudy Tanzi, professor de neurologia na Harvard Medical School e diretor da unidade de investigação em genética e envelhecimento do Massachusetts General Hospital, em Boston, que não participou no estudo.

Em junho de 2022, a US Preventive Services Task Force publicou as suas últimas recomendações sobre a utilização de suplementos vitamínicos e minerais. Apesar de analisar 84 estudos em mais de 700.000 pessoas, a equipa chegou à mesma conclusão que a de 2014: os suplementos vitamínicos, minerais e multivitamínicos não são suscetíveis de o proteger do cancro, das doenças cardíacas ou da mortalidade geral.

"Toda a gente procura a pílula mágica que os vai ajudar a viver mais tempo, a viver melhor e a prevenir doenças", disse Linder. "Adivinhem? É o exercício. Essa é a coisa mais importante que as pessoas precisam de fazer."

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