Numa das entradas de Bronx jaz um gigante de betão. É o estádio dos lendários New York Yankees, a equipa de basebol mais conhecida do planeta e, de longe, a mais vitoriosa dos Estados Unidos, com 27 World Series, mais 16 do que os St. Louis Cardinals, perseguidores mais diretos.
O recinto foi inaugurado em 2009, um ano antes da morte do dono, George Steinbrenner III, magnata norte-americano que em 1973 comprou o clube, hoje avaliados em 8,2 mil milhões de dólares (7,1 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual), à cadeia televisiva NBC por 10 milhões de dólares. Custou 2,3 mil milhões de dólares e durante anos foi o estádio mais caro alguma vez construído, sendo superado em 2016 pelo SoFi Stadium, em Los Angeles.
Com capacidade para quase 50 mil espectadores, o Yankee Stadium está cheio de referências à equipa de basebol e mesmo nos dias em que pertence ao New York City FC – equipa da MLS que ali realiza, desde 2015, a maioria dos jogos na condição de visitada (alguns são realizados no City Field, casa dos New York Mets, outra equipa da Major League Baseball) – percebe-se quem ali manda. Não só pelas idiossincrasias de um estádio de basebol, onde o retângulo de um jogo de soccer não segue em harmonia com as bancadas, que se afastam progressivamente numa das laterais, mas também porque estão bem presentes referências às lendas e às conquistas dos Yankees ao longo de todo o recinto.
Até importantes avisos nas cadeiras – todas almofadadas – do estádio. «Esteja atento aos tacos e/ou a bolas», lê-se nas costas de cada assento do anel inferior.
O NYC FC é a única das 30 equipas da MLS que joga num estádio de basebol. Todas as outras têm recintos próprios já construídos especificamente para o futebol ou atuam em estádios de futebol americano convertidos. Em 2027 vai ter uma casa própria em Willets Point, Queens, mesmo ao lado do City Field, onde está a ser edificada uma arena com capacidade para 25 mil pessoas, bem mais do que as que estiveram no Yankee Stadium nesta quinta-feira, noite em que o Maisfutebol assistiu ao vivo ao jogo New York FC-Atlanta United, que os nova-iorquinos venceram por 4-0, um recorde da equipa na época.
Antes do jogo, há muita música, o hino nacional cantado por uma artista com traços de Adele e o toque para o pontapé de saída é dado através de uma lenda do clube: Taty Castellanos, avançado argentino que chegou a ser apontado ao Benfica e que está de visita ao clube que representou de 2018 a 2022. Não há um, mas dois speakers! Um comunica em inglês e outro, uma mulher, em espanhol. Percebe-se. Uma percentagem considerável da assistência tem origem latina, até alguns cânticos da claque da equipa da casa são entoados em espanhol e na equipa há três argentinos (todos titulares nesta noite), um salvadorenho – o guarda-redes Tomás Romero, em estreia na MLS – e um chileno.
Os anéis superiores do estádio estão fechados, o ambiente é sereno durante todo o jogo. À nossa esquerda está Fábio, com quem metemos conversa depois de suspeitarmos, por ter no verso do telemóvel uma figura de Neymar, ser brasileiro. Confirma-se. Veio aos Estados Unidos para acompanhar o Palmeiras e fala-nos de Abel. «Queria que ele tivesse sido o escolhido para a seleção brasileira, mas já queriam o Ancelotti há muito tempo…» Lamenta a falta de qualidade do escrete e a ausência de uma figura líder, como acontecia num passado não muito distante. Vinicius? Não é pela seleção o jogador que é no Real Madrid, lamenta. «Se ao menos o Neymar…», desabafa, enquanto lembra com saudosismo o período em que Ronaldo «Fenômeno», Ronaldinho, Rivaldo e Kaká coexistiam na mesma equipa.
À direita, um pequeno grupo que presta pouca atenção ao que se passa lá dentro. Para eles, uma ida ao futebol não é uma obrigação religiosa como acontece na Europa, mas sim uma oportunidade para porem a conversa em dia durante 90 minutos.
Os cânticos não param durante todo o jogo, mas só vêm do setor onde está instalada a claque, num peão alguns metros à nossa esquerda. As decisões do árbitro – um ucraniano chamado Serhii Boiko – são acolhidas sem reclamações e nem quando, ainda com 0-0 no marcador, é chamado ao VAR e demora três minutos a descartar a possibilidade de um penálti para os visitantes parece pairar qualquer nervosismo no ar.
Aqui, definitivamente o futebol não é a coisa mais importante das menos importantes da vida.
Lá dentro, o jogo segue morno durante uma primeira parte de ligeiro ascendente do Atlanta United – que conta com o português Pedro Amador no onze – mas é o New York FC que se adianta no marcador após um erro incrível de um defesa da equipa visitante. Nesse momento, vemos história a acontecer sem saber: Maxi Morález, internacional argentino de 38 anos, torna-se no futebolista mais velho a marcar um golo pelo New York City FC.
Nos primeiros 45 minutos não vemos qualquer sinal de um típico jogo da MLS. Tendencialmente partido, sem amarras táticas. Mas a segunda parte traz a essência mais selvagem do soccer na América. Entre os 55 e os 59 minutos, o NYC FC marca três golos – dois dos quais em transições – despedaçando por completo uma defesa adversária suicida. E o jogo ficou resolvido.
Deixamos o gigante de betão instantes depois do apito final. Em pouco mais de um minuto estamos fora do estádio. Sem filas, nem atropelos. Viver este jogo da MLS foi, indiscutivelmente, uma experiência diferente.