Militares dos Estados Unidos confirmam que um meteoro interestelar colidiu com a Terra - TVI

Militares dos Estados Unidos confirmam que um meteoro interestelar colidiu com a Terra

  • CNN
  • Megan Marples
  • 14 abr 2022, 08:00
Céu estrelado (Foto de Arquivo)

Confirma-se agora o que dois investigadores tentam provar há três anos: que em 2014 um meteoro percorreu um longo caminho a partir de casa para visitar a Terra.

Um grupo de investigadores descobriu o primeiro caso conhecido de um meteoro interestelar a atingir a Terra, confirma um relatório do Comando Espacial dos Estados Unidos recentemente divulgado. Um meteoro interestelar é uma rocha espacial com origem fora do nosso sistema solar – o que é uma ocorrência rara. Este é conhecido como CNEOS 2014-01-08, e caiu ao longo da costa nordeste de Papua Nova Guiné em 8 de janeiro de 2014.

A descoberta foi uma surpresa para Amir Siraj, que identificou o objeto como um meteoro interestelar num estudo de 2019, do qual foi coautor enquanto era estudante de licenciatura na Universidade de Harvard.

Siraj estava então, com Abraham Loeb, professor de ciências da Universidade de Harvard, a investigar o ʻOumuamua, o primeiro objeto interestelar conhecido no nosso sistema solar, que foi encontrado em 2017. Siraj decidiu passar pelo banco de dados do Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra da NASA para procurar outros objetos interestelares e em poucos dias encontrou o que ele acreditou ser um meteoro interestelar.

Uma necessidade de velocidade

Foi a alta velocidade do meteoro que inicialmente chamou a atenção de Siraj. O meteoro estava a viajar a uma velocidade de cerca de 45 quilómetros por segundo em relação à Terra, que se move a cerca de 30 quilómetros por segundo ao redor do sol. Como os investigadores mediram o quão rápido o meteoro estava a viajar enquanto estava num planeta em movimento, os 45 quilómetros por segundo não mostravam de facto o quão rápido ele estava a mover-se.

A velocidade heliocêntrica é definida como a velocidade do meteoro em relação ao sol, e esta é uma maneira mais precisa de determinar a órbita de um objeto. Ela é calculada com base no ângulo com que um meteoro atinge a Terra. O planeta move-se numa direção ao redor do sol, então o meteoro pode ter atingido a Terra de frente, ou seja, na direção oposta à direção em que o planeta se move, ou por trás, na mesma direção em que a Terra se move.

Como o meteoro atingiu a Terra por trás, os cálculos de Siraj mostraram que o meteoro estava de facto a viajar a cerca de 60 quilómetros por segundo em relação ao sol.

Então, ele mapeou a trajetória do meteoro e descobriu que estava numa órbita livre, ao contrário da órbita fechada de outros meteoros. Isso significa que, em vez de circular ao redor do sol como outros meteoros, ele veio de fora do sistema solar.

“Presumivelmente, foi produzido por outra estrela, foi expulso do sistema planetário dessa estrela e por acaso chegou ao nosso sistema solar e colidiu com a Terra”, afirmou Siraj.

Dificuldade em publicar

Loeb e Siraj não conseguiram publicar as suas conclusões num jornal, porque os seus dados eram provenientes do banco de dados CNEOS da NASA, que não divulga informações tais como a precisão das leituras.

Depois de tentarem durante anos obter as informações adicionais necessárias, eles receberam a confirmação oficial de John Shaw, vice-comandante do Comando Espacial dos EUA, de que era, de facto, um meteoro interestelar. O comando faz parte do Departamento de Defesa dos EUA e é responsável pelas operações militares no espaço sideral.

"Joel Mozer, Cientista Chefe do Comando de Operações Espaciais, componente de serviço da Força Espacial dos Estados Unidos do Comando Espacial dos EUA, reviu a análise de dados adicionais disponíveis para o Departamento de Defesa relacionados com esta descoberta. Mozer confirmou que a estimativa de velocidade relatada à NASA é suficientemente precisa para indicar uma trajetória interestelar", escreveu Shaw na carta.

Siraj passara entretanto para outras investigações e quase se esqueceu daquela sua descoberta. Por isso, receber o documento foi um choque.

"Pensei que nunca saberíamos a verdadeira natureza deste meteoro, que isso ficara bloqueado nalgum lugar do governo depois das nossas muitas tentativas, e então ver aquela carta do Departamento de Defesa com os meus olhos foi realmente um momento incrível", afirmou Siraj.

Uma segunda hipótese

Desde que recebeu a confirmação, Siraj disse que a sua equipa está a trabalhar para reenviar as suas conclusões para serem publicadas numa revista científica. Siraj também gostaria de reunir uma equipa para tentar recuperar parte do meteoro que caiu no Oceano Pacífico, mas admitiu que seria uma possibilidade improvável, devido à dimensão do projeto.

Se os investigadores pudessem colocar as mãos no "Santo Graal dos objetos interestelares", isso seria cientificamente disruptivo e permitiria ajudar cientistas a descobrir mais sobre o mundo além do nosso sistema solar, afirmou Siraj.

A NASA e o Comando Espacial dos EUA começaram por não comentar.

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