A Europa uniu-se contra a invasão russa da Ucrânia, mas há algumas vozes que parecem resistir às críticas. É o caso do antigo presidente de França, Nicholas Sarkozy, que defendeu a invasão, ao mesmo tempo que criticou o apoio da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos (EUA) a Kiev. O conteúdo do livro do ex-presidente francês - que ainda não foi publicado oficialmente - está a ser fortemente criticado, nomeadamente por causa das declarações sobre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e ao conflito.
"A Rússia tem de renunciar a todas as ações militares contra os seus vizinhos... a Ucrânia tem de se comprometer a permanecer neutra", escreve Nicholas Sarkozy no segundo volume do livro Les Temps des Combats, ao qual o The Guardian teve acesso antecipado. Um claro sinal de que está contra a adesão da Ucrânia à NATO, que é uma das justificações da Rússia para a guerra.
O antigo presidente de França já tinha, recentemente, garantido numa entrevista que a Rússia precisa da Europa, tal como a Europa precisa da Rússia, mas no seu livro vai mais longe.
« J’ai voulu prendre le lecteur par la main, lui faire vivre ces années à l’Élysée comme s’il avait été à mes côtés tout au long de ces évènements. Cela m’a paru d’autant plus naturel que cette histoire ne m’appartenait pas davantage qu’à chacun de ceux qui me feront l’immense… pic.twitter.com/mG4dKx0dna
— Nicolas Sarkozy (@NicolasSarkozy) August 16, 2023
O antigo presidente francês fala abertamente da guerra na Ucrânia, descrevendo os dois lados envolvidos no conflito como "beligerantes". "Diz-se que estamos a travar uma guerra contra a Rússia sem a travar. É evidente que não estamos envolvidos no terreno, mas estamos a entregar armas a um dos beligerantes", lê-se. E continua: "A Rússia continuará a ser nossa vizinha, quer queiramos quer não. Temos de encontrar formas e meios de restabelecer relações de vizinhança ou, pelo menos, relações mais calmas”.
Nicholas Sarkozy critica ainda o apoio da UE e dos EUA a Kiev. "A NATO poderia, ao mesmo tempo, afirmar a sua vontade de respeitar e ter em conta o medo histórico da Rússia de ser cercada por vizinhos hostis", afirma.
As declarações do ex-presidente francês e, em especial a defesa de Putin, estão a ser alvo de críticas. Citado pelo jornal inglês, um antigo conselheiro dos serviços secretos de Sarkozy, Jérôme Poirot, garante que os comentários são "vergonhosos" e reescrevem a história do conflito.
No livro, que vai ser publicado a 22 de agosto, Sarkozy, que abandonou o Eliseu há mais de uma década, aborda ainda outras questões e menciona outras personalidades da esfera internacional, sendo que nem Barack Obama nem Boris Johnson saem ilesos. Obama é “bastante frio, introvertido e apenas marginalmente interessado nas pessoas que o rodeiam”, diz, enquanto Boris Johnson foi “rapidamente arrastado pela mesma falta de seriedade e de convicções que o tinham levado a apoiar a heresia do Brexit por puro cálculo pessoal".