Uma queda no rio, um cão seco, uma mulher de amarelo. As pistas do misterioso caso de Nicola Bulley que intrigam a polícia britânica - TVI

Uma queda no rio, um cão seco, uma mulher de amarelo. As pistas do misterioso caso de Nicola Bulley que intrigam a polícia britânica

A polícia e as equipas que estão a realizar as buscas desistiram de procurar por Bulley no local onde, alegadamente, terá caído ao rio e alargaram as operações até ao estuário

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Tudo indicava que Nicola Bulley tinha caído ao rio Wyre, na localidade de St. Michael's, mesmo em frente ao banco de jardim no qual o seu telemóvel fora encontrado. Pelo menos era nesse cenário que os responsáveis pela investigação estavam a trabalhar. Na quinta-feira, ao final do 14.º dia de buscas intensas - com mergulhadores, cães pisteiros, polícia, especialistas forenses e bombeiros -, Peter Faulding, chefe da equipa de especialistas forenses que realizou as buscas subaquáticas, desistiu de procurar naquele local: "Esta área é completamente negativa. Ela aqui não está". 

"Fizemos buscas muito minuciosas em todo o percurso até à barragem. Os mergulhadores da polícia mergulharam três vezes, de forma extremamente completa", explicou em declarações aos jornalistas. "Se Nicola estivesse naquele trecho do rio, eu tê-la-ia encontrado. Isso eu garanto-vos", acrescentou.

De acordo com a Sky News, as buscas vão estender-se por todo o rio, que tem 52km, até ao estuário - zona antes da foz, de transição entre o rio e o mar que, por norma, tem o formato de um funil. O rio Wyre desagua no mar da Irlanda, na baía Morecambe Bay. 

Peter Faulding já tinha dito que, em mais de 20 anos de experiência, nunca tinha lidado com um caso "tão incomum". Ao final de 15 dias de buscas, essa sensação mantém-se: "Estou completamente perplexo com isto, para ser honesto". 

O que se sabe?

Nicola Bulley, de 45 anos, saiu de casa na manhã de 27 de janeiro para ir passear o cão e está desaparecida desde então. Sabe-se que é consultora de crédito, casada e mãe de duas filhas, uma de seis e outra de nove anos. 

Enquanto passeava o cão, num campo junto ao rio Wyre, Bulley estava ligada numa videochamada de trabalho, enviou um e-mail, pousou o telefone num banco e nunca mais voltou a dar sinal. Esta é a cronologia de todos os passos conhecidos, até ao momento, pelas autoridades:

08:47 - Bulley foi vista a passear o cão junto ao rio;

08:53 - Enviou em e-mail ao chefe a partir do telemóvel;

09:01 - Ligou-se numa chamada de trabalho de Teams, com câmara e microfone desligados; 

09:10 - Voltou a ser vista com o cão, Willow - um springer spaniel de faro apurado; 

09:20 - O telefone de Bulley foi pousado num banco no trilho junto ao rio onde se deslocava e permaneceu ligado na chamada de trabalho;

09:30 - Terminou a chamada;

09:35 - O telemóvel foi encontrado no banco e, junto dele, o cão de Bulley, sem trela, que foi posteriormente encontrada nas imediações. O animal não estava molhado e correu entre o banco e um portão próximo, no campo onde passeava com Bulley.

Para onde apontava a investigação? 

Numa fase inicial, tudo indicada que Nicola Bulley tinha caído ao rio Wyre precisamente na zona em frente ao banco onde tinha deixado o telemóvel (ainda que parecesse estranho, a alguns, que tivesse pousado o telemóvel no banco e começado a andar sem ele). No entanto, uma vez que as buscas começaram logo no próprio dia em que foi dada como desaparecida, era expectável, segundo Peter Faulding, que o corpo fosse encontrado ou nesse mesmo dia ou nos dias seguintes.  

"Normalmente, quando lidamos com vítimas de afogamento, elas estão onde se afundam. Eu esperava encontrar a Nicola dentro de água, em frente ao banco onde ela caiu. Ela não se teria movido, apenas dois ou três pés [cerca de 0,91m]."

Mas tal não aconteceu e já passaram duas semanas. Sally Riley, da polícia de Lancashire, também revelou que não tinha sido encontrada "nenhuma evidência de que terá caído ou escorregado" perto do banco, ressalvando que uma queda de uma margem íngreme do rio pode não deixar rasto. 

O pormenor do cão de Bulley

Entretanto, existe um outro fator que sempre intrigou as autoridades e os elementos das equipas de investigação. Quando foi encontrado, o cão de Bulley não estava molhado. Apenas sem trela. Na perspetiva das autoridades, o mais lógico seria que o animal tivesse corrido para dentro da água atrás na dona, caso esta tivesse de facto caído no rio. Em vez disso, correu entre o banco e um portão próximo. 

Esse portão dava para uma casa abandonada do outro lado do rio. A polícia garantiu ter revistado essa casa, "bem como quaisquer caravanas vazias nas proximidades". Falaram ainda "com inúmeras testemunhas", analisaram o smartwatch e o telemóvel de Bulley.

A polícia de Lancashire acredita que esta mulher desapareceu numa "janela de dez minutos", desde a última vez que foi vista, às 09:10 daquela sexta-feira, até às 09:20, hora a que a polícia crê, pelos dados registados, que o telefone da mulher foi colocado no banco junto ao rio.

Uma vez que o terreno lhe era familiar, as autoridades não acreditam que possa ter-se perdido ou desorientado. Para além disso, foram recolhidas imagens de vigilância do parque que mostram que Bulley não saiu do campo por nenhuma das vias possíveis durante os "momentos-chave". 

A mulher de amarelo

No último fim de semana, a polícia de Lancashire tentou localizar uma testemunha que ficou conhecida como "a mulher de amarelo" que, no dia 27 de janeiro, caminhava com um carrinho de bebé numa estrada (Blackpool Road/Garstang Road) junto ao local onde Nicola desapareceu.

Num comunicado no Facebook, revelaram que a mulher se apresentou "muito rapidamente" às autoridades para ajudar em tudo o que pudesse, mas não adiantaram mais pormenores.

"Sabemos pelas imagens [de videovigilância] que estamos a analisar neste momento que esta é uma estrada movimentada, principalmente àquela hora da manhã. Haverá muitas pessoas que estavam naquela área na altura e que podem pensar que não podem ajudar, pedimos que não tome essa decisão sozinho e se apresente [junto das autoridades] para que possamos ter o máximo de material possível par ajudar na investigação", escreveram. 
 
Senhora de amarelo (Imagem: Polícia de Lancashire)

Pode ter sido vítima de um crime?

Desde o primeiro momento que a polícia rejeitou a hipótese de Nicola Bulley ter sido vítima de um crime, como um sequestro ou um homicídio. No entanto, os investigadores permanecem "com a mente totalmente aberta" para qualquer informação ou cenário. 

A polícia pediu à população para respeitar as investigações e não "fazerem justiça pela próprias mãos", nomeadamente invadindo propriedades vazias ou abandonadas junto ao rio para tentarem encontrar Bulley. Também apelaram às pessoas para que não filmassem as investigações e publicassem os vídeos nas redes sociais, muitas vezes com informações que não são credíveis, uma vez que isso gera desinformação e atrapalha as operações de busca. 

Na mesma linha, Emma White, uma amiga de Bulley, disse à BBC que têm sido espalhadas várias teorias da conspiração online e afirmou que "a polícia está a fazer um trabalho enorme" e, por isso mesmo, "é preciso deixá-los continuar".

Emma, a família e outros amigos têm-se colocado à beira de algumas estradas onde Bulley foi dada como desaparecida com cartazes a apelar à memória das pessoas que por ali passam, no sentido de contactarem as autoridades caso se lembrem de algum pormenor importante. 

Desde o dia 27 de janeiro que participam nesta operação equipas de busca e salvamento, auxiliadas por especialistas forenses, cães pisteiros, bombeiros, polícia, equipas de resgate marítimo e de montanha, mergulhadores, drones e helicópteros. 

Pessoas junto à beira da estrada com cartazes (GettyImages)
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