Com o verão à porta, aumenta a procura pelas tão chamadas “dietas milagrosas” que alegam oferecer resultados rápidos e sem demasiado esforço. A redução no consumo de alimentos tem uma maior influência na perda de peso do que o exercício físico. Quem o diz é Aaron E. Carrol, professor de pediatria da Escola de Medicina da Universidade do Indiana, nos EUA.
Num texto publicado no The New York Times, afirma que, para perder alguns quilos, comer menos é bem mais importante do que praticar atividade física. Se, por exemplo, uma pessoa acima do peso consumir mais calorias do que as que queima por dia, a atividade física não terá um grande impacto. Carrol acusa os media de propagarem a ideia de que é necessário fazer exercício regularmente para manter um peso saudável. Mas será verdade?
Como os pilares de uma casa
Rafael Cabrita concorda que a alimentação tem uma importância elevada para uma pessoa com peso a mais, ou até mesmo obesa, porque terá pouca mobilidade e consequentemente gastará menos energia. O personal trainer sugere primeiro uma alteração gradual na alimentação e, depois, a introdução gradual de atividade física.
Ao contrário, os resultados iniciais até poderão ser rapidamente visíveis nos primeiros três ou quatro meses, mas os níveis do corpo acabarão por estabilizar – aquilo a que os profissionais chamam de homeostasia. “No início o corpo perde peso, depois percebe o que está a acontecer e não gosta, tenta proteger-se”, explica. “Numa primeira fase; o exercício físico vai mexer com o peso da pessoa, mas depois vai mesmo ter que cuidar da alimentação”.
Entre a alimentação e o exercício físico, Rafael Cabrita não consegue definir qual é o mais relevante. “Ambos são igualmente importantes porque temos de consumir menos calorias e gastar mais para conseguir emagrecer”. Como os pilares de uma casa, diz o treinador. “Os dois suportam o corpo, e, se tiramos um, o outro enfraquece”.
"Alimentação é a base de tudo"
“Todo o processo é uma pirâmide – primeiro, a alimentação, depois, o descanso e a seguir o treino”, explica a personal trainer Lénia Fernandes. “Sem uma alimentação saudável, por mais que treine, vai acabar por demorar mais tempo”.
Tal como Rafael Cabrita, Lénia argumenta que, numa pessoa sedentário e apenas com treino, os resultados do exercício não vão ser duradouros. “O corpo não sabe o que é exercício físico e quando começa a fazer passa do oito para oitenta. Claro que vai haver alguma perda de massa gorda”.
Contudo, sem alterar a alimentação, não terá onde ir buscar nutrientes e energia. "A alimentação é a base de tudo", sublinha a personal trainer. E, para quem se encontra acima do peso, poderá até ser adequado iniciar a mudança por aí.
"O passo mais difícil é entrar no ginásio, porque sente vergonha ou sente que todos vão olhar, mas, se mudar a alimentação primeiro, o corpo vai logo agradecer". Importa, no entanto, que seja uma alteração gradual, introduzindo alimentos mais saudáveis aos poucos. O mesmo se aplica na atividade física. "Pequenos treinos, começar por uma caminhada na rua, tentar introduzir a caminhada no ginásio e depois o treino de força".
Mas o exercício físico não motiva a fome? Ambos os treinadores dizem que sim, mas cabe a cada pessoa adaptar aquilo que consome ao pré-treino e ao pós-treino, assim como ingerir alimentos que promovam a sensação de saciedade, como a melancia ou os morangos. "Antes do treino, proteínas e hidratos suficientes para treinar em condições, e um pós-treino que ajude para não se ir esganado para a próxima refeição".
A nutricionista Rute Milene reconhece que a alimentação permite uma perda de peso mais constante e de forma gradual, mas acrescenta que a atividade física, em contrapartida, estimula a vitalidade. Rita Milene descreve a relação entre as duas áreas como "o pacote perfeito". Cada uma, individualmente, é capaz de oferecer resultados, mas juntas aumentam a energia e as hormonas do bem-estar de forma muito mais eficaz. Além disso, acredita que intensidade física em excesso e repentina pode levar ao aumento do stress. "Todas as mudanças devem ser graduais, com passinhos pequeninos".
"Estou preparado para as mudanças?"
A médica alerta ainda para os perigos das dietas encontradas na internet, que não têm em conta a individualidade das pessoas. "Depende de cada corpo, quanto mais focado no problema da pessoa melhor", explica.
Mas, mais importante do que isso, é o fator mental, sobretudo porque o stress promove o consumo impulsivo de açúcares e gorduras. "Deve sentir-se capaz, conseguir fazer um plano alimentar adequado, organizar refeições, e isso tem que ser trabalhado".
O primeiro passo é a autoavaliação e Rute Milene enumera algumas questões: "Estou bem? Preparado para as mudanças? É por mim ou porque o meu parceiro/ parceira disse? É por mim ou porque a minha mãe disse que tinha engordado? Será contínuo? Estou acompanhado?". Em suma, antes de perder peso "tem que haver amadurecimento da ideia da perda de peso".