OCDE junta-se ao FMI e a Bruxelas e revê em alta crescimento português para 2023 - TVI

OCDE junta-se ao FMI e a Bruxelas e revê em alta crescimento português para 2023

Casas, habitação, bairro típico, Lisboa. Foto: Tim Graham/Getty Images

Economia portuguesa cresce à boleia do PRR e das exportações, particularmente dos serviços, ou seja, do turismo. A inflação, apesar de estar a abrandar, ainda pesa nos orçamentos familiares, reduz “o poder de compra” dos portugueses e limita “o crescimento do consumo” no país

A economia portuguesa deverá crescer este ano 2,5%, desacelerando em 2024 para um crescimento de 1,5%, segundo as previsões apresentadas hoje pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). A organização, com sede em Paris, revê, assim, em alta, as suas previsões para Portugal depois de, em novembro do ano passado, apontar para um crescimento de apenas 1% este ano e de 1,2% no próximo.

No relatório com as previsões económicas mundiais (‘World Economic Outlook’), a OCDE aponta o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) como impulsionador do investimento público e, assim, da atividade económica, mas alerta que existe o risco de o crescimento do país ser menor caso ocorram atrasos na sua implementação. Por outro lado, alerta a organização, o PRR pode retardar a queda da inflação depois de esta ter atingido níveis historicamente elevados.

A OCDE acredita que as continuas subidas das taxas de juro por parte dos bancos centrais vai permitir que a pressão inflacionista desacelere, com a taxa de inflação em Portugal a chegar aos 5,7% em 2023 e 3,3% em 2024. Recorde-se que a taxa de inflação em Portugal, medida pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC), atingiu uma média de 7,8% em 2022, um máximo de 30 anos. Apesar da confirmação de que a inflação está a abrandar, a OCDE destaca que estes valores vão ainda penalizar as famílias, “reduzir o poder de compra” dos portugueses e afetar o crescimento do consumo. Uma penalização que só não será maior porque, sublinha a OCDE, as medidas de apoio orçamental tomadas pelo Executivo permitiram atenuar esse efeito.

A ajudar a atividade económica, para além do PRR e as ajudas dadas pelo Estado estarão também as exportações, tal como já se verificou no primeiro trimestre deste ano. “Os gastos do PRR, as medidas de apoio orçamental no valor de cerca de 3,7% do PIB em 2023 e o aumento da atividade com parceiros comerciais estão a apoiar a atividade. O PIB cresceu 1,6% trimestralmente no primeiro trimestre de 2023, impulsionado significativamente pelo forte crescimento das exportações”, escreve a OCDE.

Para o crescimento económico em 2023 e 2024, o crescimento das exportações continuam, aliás, a ser determinantes com um crescimento de 8% este ano e de 2,6% em 2024. “O reforço da procura externa irá apoiar as exportações, nomeadamente de serviços”, leia-se, do turismo, sublinha a OCDE.

Recorde-se que esta revisão em alta das previsões da OCDE surgem depois de o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia também já o terem feito, prevendo para 2023 um crescimento de 2,6% e de 2,4%, respetivamente. O Governo, na última previsão feita, em abril, apontava para um crescimento de apenas 1,8%, mas com os dados conhecidos do primeiro trimestre de 2023, mesmo que trimestralmente a economia não crescesse mais até ao final do ano, a economia cresceria ligeiramente acima de 2% em 2023. Aliás, o ministro da Economia já veio mesmo dizer que espera um crescimento de 3% este ano.

Mercado imobiliário pressiona

A organização prevê um aumento da pressão no mercado imobiliário. O relatório da OCDE refere que cerca de 90% das hipotecas portuguesas estão sujeitas a taxas variáveis até um ano, o que está a afetar negativamente o consumo e o investimento das famílias, uma vez que o pagamento das hipotecas continua a subir devido ao aumento acelerado das taxas de juro.

O relatório aconselha Portugal a “gastos mais eficientes” e ao fortalecimento do “sistema fiscal” para fazer face aos desafios de uma população que está a envelhecer e às necessidades de investimento que existem.

Crescimento mundial “é frágil”, mas está a melhorar

Depois de vários choques à economia mundial, com a pandemia de covid-19 e a com a guerra na Ucrânia, começam a chegar sinais de melhoria, embora tímida. A OCDE aponta para a queda dos preços da energia, que estão a ajudar a diminuir a inflação, e a reabertura total do gigante chinês ao comércio estão a melhorar o desempenho económico global.

“A evolução económica global começou a melhorar, mas a recuperação continua frágil. Os preços mais baixos da energia estão a ajudar a reduzir a inflação e a aliviar as tensões nos orçamentos domésticos, o sentimento dos negócios e do consumidor está a recuperar de níveis baixos, e a reabertura total da China antes do esperado impulsionou a atividade global”, frisa o documento.

A OCDE espera que a economia mundial cresça 2,7% em 2023 e 2,9% em 2024. Quanto aos valores da inflação dos países do G20, é esperado que caiam de 6,1% em 2023 para 4,7% em 2024. Apesar de tudo, a organização sublinha que a incerteza ainda é “significativa” e que indicadores-chave como a inflação podem provar-se mais persistentes do que o esperado.

Mais aumentos das taxas de juro Zona Euro

O crescimento português é superior aos 0,9% projetados pela organização para a Zona Euro em 2023, que se vê pressionada pelos “elevados custos de financiamento”, pela “incerteza” e pela “inflação persistente”. Apesar dos preços da energia estarem mais baixos, o estudo acredita que permanece o risco de um aumento súbito dos preços da energia, que poderá reacender uma crise e expor as “vulnerabilidades do setor financeiro europeu”.

“A inflação global continuou moderada, para 6,1% em maio, do seu pico de 10,6% em outubro passado, mas o núcleo da inflação aumentou ainda mais. (…) As expectativas de inflação aumentaram mesmo em horizontes de prazo mais longo”, refere o documento.

Para combater este fenómeno, a OCDE sugere que o Banco Central Europeu continue a aumentar as taxas de juro para reduzir as pressões inflacionistas que estão a empurrar o núcleo da inflação, embora que isso aumente o risco de recessão. A principal taxa de refinanciamento deverá aumentar para 4,25% no terceiro trimestre de 2023 e “permanecer inalterada durante o restante do período de projeção”. A principal taxa de refinanciamento encontra-se atualmente nos 3,75%.

Sobre as consequências económicas da guerra da Ucrânia, o estudo considera que estes foram contidos. No entanto, admite que o conflito continua a ter “efeitos substanciais” no que toca a disrupção da cadeia de fornecimento de várias matérias-primas agrícolas na Zona Euro.

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