As palavras do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) lançaram uma grande polémica com Israel. Antes da abertura da reunião do Conselho de Segurança, António Guterres condenou inequivocamente os "atos de terror" e "sem precedentes" de 7 de outubro perpetrados pelo Hamas em Israel, salientando que "nada pode justificar o assassínio, o ataque e o rapto deliberados de civis".
Contudo, António Guterres admitiu ser "importante reconhecer" que os ataques do grupo "não aconteceram do nada", frisando que o povo palestiniano "foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante".
"Viram as suas terras serem continuamente devoradas por colonatos e assoladas pela violência; a sua economia foi sufocada; as suas pessoas foram deslocadas e as suas casas demolidas. As suas esperanças de uma solução política para a sua situação têm vindo a desaparecer", prosseguiu.
Declarações que funcionaram como um gatilho para a fúria israelita, a começar pelo embaixador junto da própria ONU. Gilad Erdan pediu a António Guterres que se demita "imediatamente" após ter dito que os ataques do Hamas "não aconteceram do nada".
"O secretário-geral da ONU, que demonstra compreensão pela campanha de homicídio em massa de crianças, mulheres e idosos, não está apto para liderar a ONU. Peço-lhe que renuncie imediatamente", escreveu o diplomata na plataforma X (antigo Twitter) .
"Não há qualquer justificação ou sentido em falar com aqueles que demonstram compaixão pelas mais terríveis atrocidades cometidas contra os cidadãos de Israel e o povo judeu. Simplesmente não há palavras", acrescentou.
The @UN Secretary-General, who shows understanding for the campaign of mass murder of children, women, and the elderly, is not fit to lead the UN.
— Ambassador Gilad Erdan גלעד ארדן (@giladerdan1) October 24, 2023
I call on him to resign immediately.
There is no justification or point in talking to those who show compassion for the most…
Numa publicação partilhada na mesma rede social, também o embaixador de Israel em Portugal criticou António Guterres, em reação às referidas declarações.
"Faz hoje 78 anos que a Carta das Nações Unidas entrou em vigor com um objetivo: tornar o 'nunca mais' uma realidade. Hoje, 78 anos depois, o Secretário-Geral provou que este organismo perdeu a sua credibilidade ao trair o mundo livre", lê-se na conta oficial de Dor Shapira.
Faz hoje 78 anos que a Carta das @UN entrou em vigor com um objetivo: tornar o "nunca mais" uma realidade.
Hoje, 78 anos depois, o Secretário-Geral da @UN, @antonioguterres, provou que este organismo perdeu a sua credibilidade ao trair o mundo livre.
Não há justificação para…
— Dor Shapira🇮🇱🇵🇹 (@ShapiraDor) October 24, 2023
A CNN internacional informou, entretanto, que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, anunciou que não se vai reunir com Guterres, depois de este ter criticado o combardeamento de Israel em Gaza.
"Não me vou reunir como secretário-geral da ONU. Após o massacre de 7 de outubro, não há lugar para uma abordagem equilibrada. O Hamas deve ser apagado da face do planeta!", escreveu Cohen nas redes sociais.
Mas a reação da comunidade israelita não fica por aí. As famílias dos reféns do Hamas classificaram como "escandalosas" as palavras deAntónio Guterres. "Que vergonha dar legitimidade a crimes contra a humanidade quando se trata de judeus! As declarações do secretário-geral da ONU são escandalosas!", afirmou o grupo de famílias dos cerca de 220 sequestrados num comunicado.
Entre eles estão vários portugueses e muitos outros cidadãos que tentam obter, com caráter de urgência, a nacionalidade portuguesa, ao abrigo da lei dos judeus sefarditas expulsos no século XV.