O bispo de Angra afastou temporariamente dois padres que constam da lista de alegados abusadores sexuais entregue pela Comissão Independente.
Segundo um comunicado, "o bispo diocesano já falou com ambos e, em conjunto acordaram, que os sacerdotes em causa ficarão impedidos do exercício público do ministério até ao final do processo de investigação prévia". Em causa está um sacerdote de São Miguel e outro da ilha Terceira.
A mesma fonte indica que este processo "já foi iniciado na diocese", "de acordo com as normas canónicas". O bispo fará ainda a posterior participação ao Ministério Público.
O bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, refere que o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal continha denúncias "relativas a oito casos" na região dos Açores.
"Estes alegados abusos terão sido cometidos entre 1973 e 2004, por pessoas diferentes, quatro delas - três sacerdotes e um leigo - já faleceram. Dos quatro restantes alegados abusos, dois não foram considerados casos relevantes pela Comissão Independente ao cruzar dados entre as denúncias feitas à Comissão e a investigação histórica aos arquivos da diocese", acrescenta, em comunicado.
A diocesa açoriana garante ainda que já recebeu outra denúncia, após ter sido relevado o relatório da Comissão Independente, mas que esta envolvia "um sacerdote de São Miguel já falecido".
Apesar de garantir que “esta decisão não é uma assunção de culpa dos próprios nem uma condenação por parte do bispo diocesano”, o comunicado sublinha que D. Armando Esteves Domingues está “a seguir aquilo que o Papa Francisco tem recomendado”.
Sem nunca referir diretamente a conferência de imprensa dos representantes da igreja na sexta-feira, em que a Conferência Episcopal Portuguesa anunciou que não ia suspender os padres suspeitos de abusos sexuais por não ter dados dados suficientes para agir, o bispo de Angra assegura que “é tempo de ação” na igreja, “depois da vergonha e do escândalo” revelados pelo trabalho da Comissão Independente.
“A todos os que se sentem feridos, confusos ou perdidos, apelamos a que confiem que tudo se fará para implementar medidas punitivas onde necessário, mas também preventivas e formativas, que contribuam para devolver a confiança e a esperança a todos os cristãos”, afirma o comunicado, referindo que "a prioridade da Igreja deve continuar a ser as vítimas".
“Pedir perdão é pouco. A diocese de Angra tudo fará para que os abusos não tenham mais lugar. A Igreja não pode sequer tentar esconder a tragédia dos abusos. Agiremos com tolerância zero para com os abusadores e disponibilizamo-nos para acolher, escutar e reparar a vida de todos os que foram abusados, sejam os que já denunciaram seja os que no seu silêncio e vergonha continuam a sofrer sozinhos”, continua.
A diocesa açoriana promete ainda estar disponível para disponibilizar "tratamento e acompanhamento" às vítimas. No caso da pessoa que fez a denúncia já após ter saído o relatório, a diocese garante que enviou um membro da Comissão de Prevenção local para falar com a vítima e disponibilizar o seu apoio.