Papa Francisco diz que Bento XVI "lutou até à morte" contra os abusos e defende inocência de Lula da Silva e Dilma Rousseff - TVI

Papa Francisco diz que Bento XVI "lutou até à morte" contra os abusos e defende inocência de Lula da Silva e Dilma Rousseff

  • CNN Portugal
  • DCT
  • 2 abr 2023, 10:23

Para assinalar os dez anos de Pontífice, o Papa Francisco deu uma nova entrevista onde o tema dos abusos sexuais na Igreja Católica foi mencionado, mas também onde teceu duras críticas à política argentina e à justiça brasileira.

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Da política argentina ao crescimento da extrema direita, da homossexualidade ao divórcio, da guerra à paz, do sentimento de pertença ao estado atual da Igreja Católica, dos abusos sexuais aos dez anos de Pontífice. Durante uma hora, o Papa Francisco falou de tudo isto. E não deixou mensagens por passar.

Numa entrevista ao jornalista Gustavo Sylvestre, que foi emitida na passada sexta-feira pelo canal argentino C5N e que pode ser vista na íntegra no YouTube, o Sumo Pontífice - que teve este sábado alta hospitalar e que está já este domingo a presidir a Missa de Ramos no Vaticano - voltou a dizer que o celibato dos padres “não é um dogma” - “é uma disciplina temporária” e que na Igreja Oriental o casamento é possível - e que foi o Papa Emérico Bento XVI quem “lutou até à morte” para investigar e travar os abusos sexuais na Igreja.

Temos de ser honestos, foi ele [Bento XVI] quem travou a guerra contra o abuso [sexual na Igreja Católica], foi ele que lutou até a morte com isso. Muitos não entenderam isso, mas ele já havia previsto, ele foi corajoso e eu segui os seus passos”.

Apesar de o Papa ter dito que os casos de abusos na comunidade eclesial “não são muitos, apenas 3% dentro da Igreja”, afirmando que 46% ocorrem na família ou na comunidade, não hesitou em dizer que por muito pequeno que pareça, “esse número é suficiente” para ser investigado e para travar abusos futuros, “porque a vocação de uma freira ou de um padre é ajudar espiritualmente uma pessoa e não de usá-la para destruí-la”. 

“O abuso deixa uma marca dura”, frisou.

Sobre os homossexuais, Francisco diz que são também “filhos da Igreja”. “A igreja não pode ser dividida em setores, [estamos] todos dentro, como diz Jesus”, disse. “Existem cerca de 30 países onde a homossexualidade é criminalizada, são todos loucos. Vamos desacelerar um pouco. É um facto humano”.

“São todos filhos da igreja”, incluindo aqui também quem decide romper um casamento católico.

Nascido em Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, aproveitou a entrevista que assinala os dez anos de Pontificado para deixar uma mensagem aos políticos argentinos, mas também a todos os outros. ”Juntem-se para fazer algo pelo país”, disse, alertando para o risco de personalidades polémicas que se assumem “como salvadores da pátria” e que podem colocar em causa a democracia.

Quando vier um salvador sem história, desconfie”, disse, revelando que o crescimento da extrema direita é preocupante. “O avanço da extrema direita no mundo preocupa-me porque é centrípeta. (...) A resposta para a extrema direita é a justiça social”.

O Papa apelou ainda ao regresso do diálogo e à “raça dos políticos” e afirmou que “a política é um serviço, não uma facção eleitoral”, tecendo duras críticas aos políticos que trocam de partido por mera conveniência e não em prol da estabilidade do país. “É constrangedor que um político tenha tantos divórcios políticos e tenha estado em tantos partidos e que mude conforme a sua conveniência”, atira.

“A pertença política e religiosa não é uma roupa que se troca”, vincou.

Olhando para a política argentina, Francisco falou ainda das “lutas internas” que os países enfrentam a nível político, classificando-as como “prejudiciais”. “São mais fortes que o sentimento de pertença, destroem a filiação política”, destacou, tendo sido citado pela Vatican News.

Mas o Sumo Pontífice olhou também para a política internacional. Enfatizou novamente a necessidade de se lutar pela paz e acabar com o conflito na Ucrânia, mas foi a declaração sobre Lula da Silva e Dilma Rousseff que mais captou a atenção dos meios de comunicação brasileiros. O Papa Francisco considera que o atual presidente do Brasil, Lula da Silva, foi condenado pela Justiça brasileira de forma injusta e “sem provas”. Mas não foi o único: Francisco considera que Dilma Rousseff, antiga presidente brasileira, tem “mãos limpas” e foi alvo de “lawfare”, de um processo injusto que tentou travar a política.

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