Paul Krugman, nobel da Economia, considera que a economia portuguesa podia ser um caso de estudo visto que ninguém percebeu como é que se saiu tão bem nos anos da crise da dívida. "Portugal é uma espécie de milagre económico", afirma o economista em entrevista ao Jornal de Negócios.
Paul Krugman, que foi professor em Yale e Stranford, confessa que não conseguiu perceber como Portugal se saiu tão bem nesses anos e que "em longas conversas" com Olivier Blanchard, antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, chegou mesmo a questionar "como é que eles fizeram isto", uma vez que, "nessa altura, tendíamos a colocar Portugal e Espanha no mesmo cesto".
"Ambos tinham tido entradas maciças de capital, tinham ficado seriamente sobrevalorizados em termos de custos laborais, tinham níveis de dívida elevados e enfrentavam um período prolongado de austeridade", explica, dizendo que Espanha acabou por sair desse período depois de "anos e anos de desemprego elevado, desvalorização interna e queda dos custos", enquanto "Portugal teve uma recuperação sem isso".
Para Krugman há vários fatores que se podem apontar, entre eles "as atrações de Portugal", onde se incluem o turismo e a exportação". "Mas é um pouco misterioso como é que as coisas correram tão bem".
No entanto, apesar do "milagre" português, o nobel da Economia lembra que a economia portuguesa está intrinsecamente ligada à europeia e, "se vai haver uma recessão europeia, Portugal é demasiado pequeno e está demasiado ligado". Até porque, atualmente, Portugal está bastante orientado para o exterior.
"Por isso, sim, penso que os riscos externos são grandes porque Portugal tem estado muito bem, mas a Europa não está tão bem", afirma, lembrando ainda que os portugueses "continuam a ser mais pobres do que muitos países da Europa, mas já não tão pobres".
Apesar dos elogios e das coisas que diz que Portugal está a fazer bem, Krugman afirma ainda que a crise da habitação é um tema a que tem de ser dada atenção para que não se torne um problema e lembra que "Portugal está a parecer-se com São Francisco, com um sector tecnológico em expansão e com a habitação a tornar-se inacessível".
"Em certa medida, é um problema feliz de se ter, mas requer alguma ação."
Já no plano da inflação, Paulo Krugman admite os erros de análise dos economistas e diz mesmo que esta acabou por ser transitória, tendo demorado mais do que esperado.