"Não achei nem apropriado nem justo", começou por dizer Paulo Portas sobre as declarações de Pedro Passos Coelho que, esta semana, deu uma entrevista ao Observador, onde falou das desconfianças da troika em relação a Portas, na altura em que a coligação PSD e CDS-PP governava o país entre 2011 e 2015.
Apesar de ser, "de facto, inusual" um comentador analisar uma notícia na qual é protagonista, Paulo Portas não se escusou ao tema no "Global", o seu espaço semanal de comentário no Jornal Nacional da TVI, pois, afinal, "quem não se sente não é filho de boa gente". Mas avisou logo que não iria usar "conversas privadas" nem iria entrar em polémicas com Passos Coelho, uma vez que já passaram quase dez anos e "acabou de chegar um Governo de centro-direita".
Portas quis assim explicar "a visão que os dois tínhamos sobre a troika". Os dois líderes coincidiam em diversos pontos, a começar pela necessidade de "resolver o problema da falência de Portugal, da nossa insolvência, cumprir o memorando da troika, que não tínhamos negociado, procurar uma saída limpa, se fosse possível - sobre isto nunca houve desentendimentos", disse.
"Bem virtuoso" ou "mal necessário": o que separava Passos e Portas
Depois, havia "zonas de diferença, que são normais numa coligação". Por exemplo, às vezes "Pedro Passos Coelho achava que a troika era um bem virtuoso, eu achava a troika um mal necessário", explicou Portas. "Mal, porque não gosto de estrangeiros a darem opiniões e darem avisos sobre leis e orçamentos portugueses, mas nós é que nos tínhamos colocado nessa situação, portanto, era necessário cumprir o programa, cumprir os objetivos, para termos acesso a dinheiro e recuperarmos a nossa soberania".
"Não raramente o Dr. Pedro Passos Coelho usava aquela expressão do 'ir além da troika': eu sempre fui mais cético sobre essa ideia, embora também seja justo dizer que isso se aplicava mais a reformas do que a medidas. Para mim, para aguentar aquele programa, era preciso coesão social na sociedade portuguesa, era preciso que as pessoas sentissem que os sacrifícios eram equitativos, que as restrições eram distribuídas e não passavam um certo limite", disse,
Ora, na sua opinião, "um dos momentos difíceis" aconteceu precisamente com a TSU das pensões, uma nova taxa sobre as reformas. "A medida vinha como estrutural e portanto obrigatória e condição de acesso a financiamento, depois passou a opcional", recordou Paulo Portas. "Seis meses depois de a medida ter passado a opcional, fui eu e a ministra das Finanças que dissemos que a medida já não era necessária e, portanto, provavelmente era exagerada." E sublinhou: "Eu achava-a uma penalização dupla sobre os pensionistas e que passava os limites, e acho que o tempo me deu franqueza, sinceramente".
"Ou seja, com um bocadinho mais de flexibilidade, eu acho que o programa se poderia ter feito sem desequilibrar em excesso socialmente a coesão do pais", concluiu. "Um país que passa pelo que nós passámos ou se mantém unido no essencial ou se fratura".
Passos disse que a troika não confiava em Paulo Portas, mas "em democracia quem dá mandatos de confiança são os portugueses", recordou Portas. "Eu tinha a certeza que, apesar das dificuldades, estava a servir o interesse comum, o bem comum e o interesse nacional. Fiz o que me competia: "cumprir o programa, mas mantê-lo dentro de limites que fossem aceitáveis pela sociedade portuguesa."
"Como diria o outro, não havia necessidade", concluiu.