Cara e caro pensionista, você acaba de ganhar mais quase 3,5% vitalícios (Costa trocou o truque - e diz que nunca truncou nada) - TVI

Cara e caro pensionista, você acaba de ganhar mais quase 3,5% vitalícios (Costa trocou o truque - e diz que nunca truncou nada)

    Pedro Santos Guerreiro
    Diretor executivo CNN Portugal
  • 17 abr 2023, 14:58
António Costa e Fernando Medina (António Pedro Santos/Lusa)

António Costa dará o não dito por não dito e garantirá que não voltou atrás, voltou à frente. Mas senhoras e senhores pensionistas: podem agradecer à “bolha político-mediática” de que António Costa tantas vezes desdenha - foi por denúncia e por pressão que acaba de ganhar 3,5%

Lembra-se do truque das pensões? E lembra-se quando a própria palavra “truque” enfureceu o primeiro-ministro? Foi em setembro, na entrevista de António Costa à TVI: “Não há truque nenhum, nem de retórica, nem de coisa nenhuma. (…) Truques eu não faço. E não fiz!”.

Ora bem, o truque que o governo não fez o governo agora desfez: corrigiu e repôs o futuro que havia sido discretamente obliterado aos pensionistas: mil milhões por ano. António Costa, claro, jamais o reconhecerá: dará o não dito por não dito e garantirá que não voltou atrás, voltou à frente.

O Estado continua a nadar em dinheiro, o governo vai dar mais dinheiro aos pensionistas, preparar a nova fórmulas de cálculo e, sobretudo, quer tirar a boca do copo de veneno que é a TAP e o corpo da fogueira da habitação. Dinheiro? Temo-lo: tomai. É gastar para comprar a paz. Ou, vá, umas intenções nas sondagens.

“O melhor truque do diabo é persuadi-lo de que ele não existe”

Baudelaire escreveu, Batman citou e Costa pensou. Pedindo escusa pelo perigoso substantivo político – como o diabo de Passos nunca veio, o truque de Costa nunca existiu. É uma questão de persuasão. 

Foi tudo explicado aqui em setembro: perante uma inflação desvairada, o governo enfiou a fórmula das pensões na gaveta e partiu os aumentos em dois: meia pensão extraordinária em outubro que não se repetiria nunca; e uma proposta para subir as pensões em 2023 entre 3,53% e 4,43%.

Na prática, em 2023 ficaria tudo igual. De 2024 em diante, o efeito de base da meia pensão retiraria quase 3,5% em cada ano. Numa pensão média, eram quase menos 20 euros por mês em 2024. Para o Estado, menos mil milhões por ano.

Até que nesta segunda-feira de primavera Fernando Medina fez a assistência de manhã para António Costa marcar o golo à tarde: o efeito de base vai ser corrigido e reposto. 

Como escrevi em setembro, Costa nunca mentiu, enganava dizendo a verdade. Costa trucara o jogo e truncara o futuro. Só que a a coisa está desfeita: senhoras e senhores pensionistas, podem agradecer à “bolha político-mediática” de que António Costa tantas vezes desdenha. Foi por denúncia e por pressão. Cá se fazem, lá se pagam.

E a nova fórmula de cálculo?

Para fechar o tema das pensões, falta saber o que vai acontecer à fórmula de cálculo das pensões, que o governo anunciou que iria alterar para evitar picos esporádicos de inflação.

O que se sabe é que o governo está a estudar forma de suavizar aumentos, fazendo por exemplo a média da inflação dos três anos anteriores, em vez de apenas o último ano. 

O governo dirá, mas o padrão de ação do PS tem sido sistematicamente o de diferenciar aumentos em função dos rendimentos: dar mais a quem recebe menos. Aguardamos. Até lá:

Mais cheques

Os cofres cheios em 2022 continuarão cheios em 2023. Sobretudo porque o ano começou (muito) melhor do que se esperava, sem recessões europeias causadas pela guerra e pelos custos da energia (os fornecimentos de gás dos EUA e a rápida adaptação da indústria alemã, bem como um inverno menos frio, ajudaram muito). E o turismo continua com um crescimento doido, com meses de janeiro e fevereiro como nunca antes. Tirando riscos externos (sobretudo no sistema financeiro), as coisas estão encaminhadas: a inflação terá batido no topo, os juros estarão perto disso, o emprego continua a subir e os salários médios também.

É disso que António Costa quer falar.

Contra a polémica da TAP, falar de crescimento económico.

Contra mais carga fiscal, mais a distribuir.

Contra as palavras da oposição e de Marcelo, os números das Finanças. 

Contra falar não falando de Pedro Nuno Santos (desvalorizando-o), falar não falando de Fernando Medina (valorizando-o).

Contra a crise na habitação, passar cheques a devedores, a senhorios, a construtores.

Mas é aí, é sempre aí, que está o problema: na vida real. Na habitação e na desigualdade. Porque muitos ouvem falar de aumentos salariais de 8% em janeiro e fevereiro e perguntam “mas como?!, mas onde?!”.

Não há muita imaginação nesta governação, há dinheiro. Para começar, em benefício dos pensionistas. Sobre eles, Costa dirá que nunca trucou nada, que "vira a página", que "palavra dada é palavra honrada", que "não dá passos maior que a perna". E assim consegue a proeza de corrigir o que não estava errado e de repor o que não havia sido tirado. É de homem.

[Nota: este artigo foi escrito depois de Fernando Medida ter anunciado que o governo iria repor e corrigir as pensões para a partir de 2024 e antes de António Costa falar ao país. Novas informações serão incluídas se necessário.]

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