O músico Roger Waters, um dos fundadores dos Pink Floyd, está a ser investigado pela polícia alemã, por ter usado um fato inspirado num uniforme nazi e ter fingido disparar uma metralhadora falsa durante um concerto em Berlim, no passado dia 17 de maio.
Segundo relatos na imprensa internacional, o cantor e baixista britânico foi filmado a usar um casaco preto comprido e uma braçadeira vermelha com o desenho de dois martelos cruzados, em vez de cruzes suásticas, enquanto disparava com a arma falsa numa espécie de paródia entre canções. Imagens do momento foram partilhadas nas redes sociais e fizeram estalar a polémica. Waters mostrou ainda, em letras grandes no cenário do palco da Mercedes-Benz Arena, o nome de Anne Frank, a adolescente alemã de origem judaica que morreu no campo de concentração nazi de Bergen-Belsen.
Na Alemanha, existem regras rígidas para a utilização de símbolos nazis. Um infrator pode incorrer numa pena até três anos de prisão.
À Sky News, o inspetor-chefe da polícia de Berlim, Martin Halweg, confirmou que as autoridades iniciaram uma investigação criminal por suspeita de "incitação" ao ódio público.
Great news! Berlin police have launched a criminal investigation into Roger Waters following his concert in which he dressed like a Nazi SS officer holding a gun and denigrated the murder of Anne Frank.
— StopAntisemitism (@StopAntisemites) May 25, 2023
Shockingly @AMCTheatres is promoting Waters currently. pic.twitter.com/6AlIHMmbR2
"O contexto dos figurinos usados em palco, provavelmente, perdoa, glorifica ou justifica a ditadura nazi e as regras arbitrárias, de uma forma que viola a dignidade das vítimas e, portanto, perturba a paz pública", disse Halweg. "Todas as provas incriminatórias ou de ilibação serão recolhidas para uma investigação preliminar", acrescentou. Será considerada uma eventual acusação depois de a polícia concluir a sua investigação ao ocorrido.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Eli Cohen, criticou Waters no Twitter, acusando-o de passar uma noite em Berlim - "sim, Berlim", sublinhou - a profanar a memória de Anne Frank e dos seis milhões de judeus mortos no Holocausto.
O grupo ativista StopAntisemitism também acusou o fundador dos Pink Floyd de denegrir o homicídio de Anne Frank, congratulando-se com a abertura da investigação das autoridades alemãs.
Fãs de Roger Waters defenderam o músico garantindo que tudo não passou de uma paródia: a recriação de uma cena do filme dos Pink Floyd de 1982, "The Wall", baseado no álbum homónimo da banda. No filme, um personagem, interpretado pelo cantor Bob Geldof, imagina que é um ditador fascista e usa como símbolo dois martelos cruzados.
Não é a primeira vez, porém, que Roger Waters é acusado de antissemitismo, ainda que o cantor se defenda dizendo que recorre a símbolos nazis para criticar os fascistas e mostrar que é muito fácil que a política populista evolua para o fascismo.
No início de maio, disse mesmo numa entrevista, no podcast da comediante norte-americana Katie Halper, que a ideia de não se poder vestir um uniforme nazi é "ridícula", condenando o antissemitismo e o racismo "sem reservas".
As autoridades de Frankfurt, porém, tentaram cancelar o concerto de Roger Waters agendado para o próximo domingo, 28 de maio, numa tentativa de "dar o exemplo contra o antissemistismo". O músico recorreu e acabou por vencer em tribunal, pelo que o espetáculo vai mesmo realizar-se.