Um quadro do pintor modernista russo Wassily Kandinsky que pertenceu em tempos às vítimas do Holocausto nazi, foi vendido por 41,7 milhões de euros (44,55 milhões de dólares) na Sotheby´s em Londres.
Parte do leilão de arte moderna e contemporânea, "Murnau mit Kirche II" ("Murnau com a Igreja II"; 1910) foi a venda mais cara da noite de quarta-feira, bem como um novo recorde em leilão para o artista.
Um recorde mundial anterior para uma obra de Kandinsky foi atingido em 2017 com a venda do seu "Bild mit weissen Linien" por 37 milhões de euros (39,7 milhões de dólares), disse a casa de leilões à CNN.
"O período Murnau de Kandinsky veio definir a arte abstrata para as gerações futuras", disse Helena Newman, Diretora do Departamento Global e Europeu de Arte Moderna e Impressionista da Sotheby’s, num comunicado.
"O aparecimento de uma pintura tão importante – uma das últimas deste período e dimensão que permanece em mãos privadas – é um momento importante para o mercado e para os colecionadores", disse ela.
Kandinsky estava a viver com a seu amante Gabriele Münter e com amigos artistas em Murnau, na Baviera, quando pintou "Murnau mit Kirche II", inspirado pela paisagem local durante uma viagem de bicicleta. A própria Münter escreveu uma inscrição na moldura da pintura.
A pintura tem uma longa história. Foi vendida em leilão como parte da coleção de proeminentes colecionadores de Berlim, o casal Johanna Margarete e Siegbert Stern, depois de ter sido finalmente devolvido aos herdeiros sobreviventes da família no ano passado pelo Van Abbemuseum em Eindhoven, na Holanda.
Fotografias da família Stern retratam o quadro de Kandinsky pendurado na sala de jantar da sua casa de família, a Villa Stern em Potsdam. Mas, após a ascensão dos nazis em 1933 e a morte do seu marido dois anos mais tarde, Johanna Margarete fugiu para a Holanda e foi declarada apátrida.
Segundo os documentos da família, o Kandinsky - entre outras obras - foi levado para a Holanda e presume-se que tenha passado para um comerciante que saqueou bens judeus no país ocupado, antes da deportação e morte de Johanna Margarete em Auschwitz, em 1944, diz o catálogo da Sotheby's. Foi mais tarde vendido ao Van Abbemuseum por outro comerciante, em 1951.
Falando da sua história, Newman disse que a restituição do quadro permitiu finalmente "redescobrir o lugar da família Stern e a sua coleção no brilhante meio cultural de Berlim dos anos 20".
O dinheiro da venda será partilhado entre os 13 descendentes sobreviventes da família Stern e também financiará mais investigação para localizar a extensa coleção de arte da família, acrescenta o comunicado.
Outra grande venda da noite foi o "Dans på stranden (Reinhardt-frisen)" ou "Dança na Praia" de Edvard Munch, que foi vendido por 19 milhões de euros (20,3 milhões de dólares).