Syriza e BCE ajudam a repor «o espírito europeu» - TVI

Syriza e BCE ajudam a repor «o espírito europeu»

Adriano Moreira também defende que os Estados Unidos não podem desresponsabilizar-se da Base das Lajes

O professor universitário Adriano Moreira espera que as eleições legislativas de domingo na Grécia e a compra de dívida pelo Banco Central Europeu ajudem a repor e a fortalecer «o espírito europeu».

«Eu acho que o sentimento grego não deve ignorar que, além dos sacrifícios que estão a atravessar - e de que nós temos alguma experiência, e de que tem experiência toda a Europa pobre, que é o antigo Império Romano na pobreza -, a eleição na Grécia, que presumivelmente traz a vitória ao Syriza, coincide com este ato de esperança que é o do Banco Central Europeu».


O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, anunciou na quinta-feira que a instituição comprará mensalmente 60 mil milhões de euros de dívida pública e privada até setembro de 2016.

«E a conjugação das duas coisas – uma mais desafiante, a outra mais esperançosa – dá-nos uma certa atenuação da tensão em que temos vivido, de maneira que eu espero que o bom senso, o espírito de conciliação, o espírito europeu, que anda esquecido, possa ser reposto e fortalecido», afirmou Adriano Moreira.


Após uma aula aberta na Faculdade Nova de Lisboa, o professor universitário Adriano Moreira defendeu também que os Estados Unidos não podem desresponsabilizar-se das consequências negativas para os Açores do abandono da Base das Lajes, depois de esta ter servido os seus propósitos.
 

«Neste momento, os Estados Unidos estão naturalmente a ligar muita importância aos seus próprios interesses, e isso é próprio de um país, e talvez estejam a ser caracterizados por uma deriva em relação ao Oriente, mas não podem esquecer as responsabilidades atlânticas. Não podem praticar atos como é a exigência de utilização dos Açores, com que nós acabámos por concordar, servindo lealmente os compromissos assumidos, participando na NATO com todos os sacrifícios que foram necessários, e os Estados Unidos não terem nada que ver com os prejuízos colaterais da intervenção que consideraram necessária».



«Eles têm de tomar alguma responsabilidade pelos efeitos colaterais do abandono da base», sustentou. A propósito, referiu, «não é mau lembrar que a presença dos Estados Unidos nas Lajes começou por uma espécie de ultimato e que essa necessidade apareceu também na guerra do [Yom] Kippur [que envolveu a Síria, Israel e o Egito em 1973] e que também houve uma exigência dos Estados Unidos para utilizar a base dos Açores para a sua intervenção».

O professor de Relações Internacionais recordou igualmente que «vai ser necessário organizar a segurança do Atlântico-Sul».

«Eu penso que os Estados Unidos devem ser indispensáveis para articular a segurança do Atlântico-Norte com a não-organizada segurança do Atlântico-Sul e, nessa altura, se isso se chegar a fazer – e creio que vai ser indispensável, com as circunstâncias que todos conhecem -, os Açores provavelmente voltam a ser necessários».


Assim, Adriano Moreira considera que Washington deve ver «com muita prudência a atitude que está a tomar em relação aos Açores». «Sobretudo quanto aos efeitos colaterais que vêm pesar sobre a nossa economia, sobre a maneira de viver das populações, e aumentar as privações, que já são excessivas, porque de fadiga tributária já chega», comentou.

 
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