Costa admite que Governo foi surpreendido: "Ninguém previu que esta segunda vaga surgisse tão cedo" - TVI

Costa admite que Governo foi surpreendido: "Ninguém previu que esta segunda vaga surgisse tão cedo"

    Miguel Sousa Tavares

Numa entrevista conduzida por Miguel Sousa Tavares, no Jornal das 8, da TVI, o primeiro-ministro admitiu que o país ainda está a tempo de controlar a pandemia, no entanto, isso teria de ser feito agora. Descartou por completo a teoria de que o Governo foi apanhado "com as calças na mão", dizendo que "ninguém estava à espera que a segunda vaga de covid-19 chegasse tão cedo" e que o fim das cadeias de transmissão não depende do Governo, mas sim dos portugueses

Portugal entrou esta segunda-feira em estado de emergência, bateu o recorde de mortes diárias por covid-19, bem como o número de doentes internados. O cenário não se avizinha menos negro, mas António Costa garantiu que o país ainda está a tempo de controlar a pandemia. No entanto, isso teria de ser feito agora. 

Ao estilo dos debates parlamentares, Costa recorreu de um dos vários gráficos que tinha para demonstrar a evolução dos casos de covid-19 no país, desde o dia 2 de março.

Nós estamos hoje numa situação bastante mais grave, do ponto de vista da pandemia, daquela que estávamos no início do primeiro estado de emergência”, disse o primeiro-ministro durante a entrevista no Jornal das 8, da TVI. 

Após a insistência de Miguel Sousa Tavares, sobre se a situação epidemiológica em Portugal estava controlada ou não, Costa garantiu que ainda é possível controlar a pandemia e que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ainda não entrou em rutura porque tem vindo a ser reforçado. 

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António Costa descartou por completo a teoria de que o Governo foi apanhado "com as calças na mão", ao dizer que ninguém estava à espera que a segunda vaga de covid-19 chegasse tão cedo e que o fim das cadeias de transmissão não depende do Governo, mas sim do rigor e da disciplina de todos os portugueses.

Há uma coisa que não depende do Governo, depende exclusivamente do comportamento das pessoas. Que tem a ver com a transmissão da doença".

 

Nós, como todos os outros países da Europa, não previmos que esta segunda vaga surgisse tão cedo”, acrescentou.

Assegurou ainda que se o Governo estivesse realmente mal preparado, não teria havido um reforço da capacidade de resposta do SNS, na Linha Saúde 24, da capacidade de testagem diária, do número de pessoas em vigilância e ainda dos internamentos. 

"As pessoas não reagiram como reagiram no passado"

Questionado se o Governo foi apanhado "de calças na mão", ou seja, mal preparado para esta segunda vaga, Costa disse discordar com essa perspetiva, dizendo que aquilo que podia ser preparado, foi feito, nomeadamente, o reforço da capacidade de resposta do SNS.

Se conseguirmos controlar situação, como temos neste momento - onde praticamente ainda temos uma capacidade de metade das camas de cuidados intensivos alocadas a covid-19 -, se conseguirmos controlar a pandemia agora, vamos conseguir viver sem dramas de rutura".

Costa foi mais longe e colocou a responsabilidade do lado das pessoas. Disse que não sentiu que não foi avisado para a possível força da segunda vaga e que o grande problema é que "as pessoas, no seu conjunto, não reagiram tão prontamente como reagiram no passado”.

Fez questão de deixar claro que a mensagem não tem o propósito de assustar os cidadãos, mas só há duas formas de a transmitir: fechar tudo como aconteceu em março ou abrir tudo e as pessoas entenderem que têm de ter cuidados. "Saia mas em segurança”. É este o slogan que o Governo pretende manter.

Parcerias com privados: “Não há preconceito ideológico nenhum"

O primeiro-ministro reforçou que existe uma convenção com os setores privados, especialmente na região Norte, e garantiu que não há nenhum preconceito ideológico. 

Não há preconceito ideológico nenhum, mas há uma coisa que as pessoas têm de perceber: nós temos 17 mil camas no total do Serviço Nacional de Saúde, parte delas não lhes podemos tocar, porque são camas psiquiátricas, camas pediátricas, camas para pessoas que tem AVCs , camas pós operatórios, etc. Eu não posso pegar nessas 17 mil camas e transformá-las em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI)”

Assegurou que, atualmente, o SNS tem capacidade para albergar 900 doentes em UCI, mas que o objetivo é aumentar mais 50 até ao final do ano e mais 100 até ao final de março de 2021. 

Ainda assim, acautela que este número só será suficiente se se conseguir controlar a pandemia agora. 

A maior ajuda é as pessoas não ficarem doentes”.

O o líder do executivo voltou a afirmar que a confiança em Marta Temido está "reforçada" e que nenhuma ministra passou por uma prova de fogo como esta.

Nenhuma ministra da Saúde foi sujeita a uma aprovação como esta que temos estado a viver. Tem estado a responde [bem ao papel] e, até agora, o Serviço Nacional de Saúde não falhou em nada”.

Vacina contra a covid-19 está assegurada, mas "não pode ser um salve-se quem puder"

Sobre a possibilidade de Portugal adquirir a vacina da Pfizer, que anunciou esta segunda-feira uma eficácia de 90%, o primeiro-ministro garantiu que a compra da vacina já está a ser assegurada, ao abrigo dos mecanismos europeus de distribuição das vacinas contra a covid-19.

Todos os países têm de apresentar este mês a sua estratégia de vacinação e que o Governo e as autoridades de saúde estão a trabalhar nesse cenário para que não seja um "salve-se quem puder"

Não pode de ser um salve-se quem puder. Tem que ser uma coisa muito bem organizada”.

Governo vai apresentar pacote específico com apoios para a restauração

Alojamento, comércio, restauração, cultura. O primeiro-ministro diz-se consciente dos setores que vão ser mais afetados com a implementação deste segundo estado de emergência, mas que existe um que vai merecer especial atenção. 

António Costa anunciou, em entrevista à TVI, que o Governo vai apresentar ainda esta semana um pacote específico de apoio à restauração dos concelhos mais atingidos pela covid-19. 

Vamos agora anunciar esta semana um pacote específico para apoiar as empresas da restauração relativamente ao que vão perder de receita nos próximos dois fins de semana", declarou.

Segundo António Costa, o "e-fatura" do Portal das Finanças permite saber qual é a receita de cada restaurante, ou durante o último ano, ou no último fim de semana em que há dados disponíveis.

Portanto, podemos saber qual é a receita que cada um tem e que teoricamente vai perder. Vamos fazer a média (pode ser a média do ano, pode ser só o mês de outubro), mas não está fixado o critério", advertiu.


Ou seja, de acordo com o primeiro-ministro, para a concessão dos apoios, O Governo, através do e-fatura, vai saber qual é a receita de cada um dos restaurantes, "porque não é mesma".

Há restaurantes que faturam sobretudo ao fim de semana e há outros restaurantes que até fecham ao fim de semana, sobretudo nas zonas mais de serviços".

 

Sabemos, também, entre essas que têm custos fixos, aquelas que estão já a ser apoiadas pelas medidas do 'lay-off'. Quanto às outras podemos estabelecer um apoio específico para mitigar os prejuízos destes dois fins de semana", acrescentou.

Explicou que o recolhimento obrigatório aos fins de semana é uma medida dura, mas que se deve ao facto de 68% dos novos casos terem sido registados em convívios familiares.

Multiplica-se o risco porque as pessoas em família sentem-se em segurança, porque as pessoas em família não usam máscara, porque em família as pessoas tendem em demonstrar a natural afetividade uns pelos outros e isto faz aumentar gigantemente o foco de transmissão”.

Eleições nos Açores: “Como é que é provar do seu próprio veneno?”

Nas última semanas tem-se assistido a uma troca de acusações mais acesas entre António Costa e Rui Rio sobre a solução parlamentar conseguida nos Açores. 

Costa quis explicitar que não ficou "zangadíssimo" com a maioria parlamentar conseguida, mas sim com o facto do PSD ter feito um acordo com um "partido de extrema direita xenófoba"

Eu não fiquei zangadíssimo. A única coisa que eu achei muito preocupante não é o facto de haver uma maioria parlamentar que se forma no parlamento açoriano, aquilo que eu chamei a atenção, e que é da maior gravidade, e agora não estou a a falar como primeiro-ministro, estou a falar como secretario-geral do PS, é que o PSD deu um passo que a direita democrática na Europa tem resistido a dar, que é fazer um acordo com um partido de extrema direita xenófoba”. 

Esclareceu ainda que o problema não é os termos do acordo, mas sim a natureza do partido Chega, com o qual assegurou que jamais vai negociar seja em que circunstância for.

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Numa nota final, António Costa admitiu que ficou “aliviado” com a eleição de Joe Biden, porque isso levanta uma esperança de que se possa retomar a relação transatlântica com os Estados Unidos, outrora perdida durante o mandato de Donald Trump.

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