Alegre, de «miúdo que pregava pregos» a candidato à Presidência - TVI

Alegre, de «miúdo que pregava pregos» a candidato à Presidência

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Candidato a Belém apresentou o seu mais recente livro, em Lisboa, mas porque «há mais vida para além da política» não falou de presidenciais

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Quando Manuel Alegre chegou ao Palácio Galveias, cerca das 19h20, falou pouco, mas deixou um recado claro: «Há mais vida para além da política». O histórico do PS estava ali para o lançamento do seu mais recente livro, O miúdo que pregava pregos numa tábua, e até ao fim manteve-se irredutível, não falou nem de presidenciais, nem do PS.

Mas a avaliar pelas personalidades presentes do partido e do Governo - Alberto Martins, o ministro da Justiça, foi o único a estar presente, mas «como amigo» - quase que podemos dizer, e parafraseando Agustina Bessa Luís, que para o PS, Manuel Alegre é o melhor dos candidatos assim-assim.

O homem que em miúdo disse à irmã: «Vou continuar Os Lusíadas» e que a «deixou assarapantada», garantiu ao tvi24.pt «que todos os dias continua a obra» de Camões. Manuel Alegre que acredita que «poesia é poder», mas quer o poder e quer chegar a Belém. Por agora conta com o apoio desde logo do Bloco de Esquerda, e com um apoio muito avulso do seu Partido.

Vera Jardim, o deputado socialista e presidente da Comissão Eventual contra a corrupção, presente no lançamento, deixou implícita a crítica à direcção do partido dizendo que «começa a ser tempo» para o PS formalizar o seu apoio à candidatura presidencial. Já Alberto Martins considerou que PS, sublinhando que ele próprio pertence aos órgãos dirigentes, falará sobre presidenciais quando «for oportuno».

Paula Morão, professora catedrática da Faculdade de Letras de Lisboa, fez uma longa e emotiva apresentação que Alegre considerou «melhor do que o próprio livro»; para ele reservou meia dúzias de palavras para dizer «que escreveu este livro porque sim», ou «uma pergunta sem resposta, uma relação do mistério com o mistério» e não sabe «se foi ele que inventou o miúdo, ou se foi o miúdo que o inventou a ele».

Morão, entre muitos episódios de vida e de infância, destacou um, decisivo e «simbólico»: um tiro falhado. Alegre estava no Norte de Angola, a cumprir o serviço militar, e o pelotão «há mais de dois meses sem reabastecimento, a comer atum com grã-de-bico. Então uma seixa aparece na picada. O caçador de sombrias pega na Mauser, as mãos tremem, salta do jipe, põe um joelho em terra, Calma, meu alferes, não falhe por amor de Deus, murmura-lhe o furriel, ele tenta controlar-se, aponta com cuidado, começa a tirar a folga do gatilho, calcula mal a pressão, dispara sem querer e acaba a perguntar-se como é que o miúdo que matava narcejas em voo com uma flobert de novo milímetros falhou o tiro mais importante da sua vida».

Mas o «caçador» nunca desistiu e esta quarta-feira, numa sala cheia do Palácio das Galveias, reuniu os seus apoios: a deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto, o fadista João Braga, a escritora Maria Teresa Horta entre muitas outras pessoas, que se juntaram para ouvirem o homem que «inventou o miúdo» que ainda hoje vê «sempre que se olha ao espelho».
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