«PSD deixou de ser fiel ao legado ideológico de Sá Carneiro»

O advogado José Miguel Júdice afirmou que o PSD deixou de ser «fiel ao legado ideológico» de Sá Carneiro, passando a estar dominado por uma «lógica de clientelismo», motivos pelos quais abandonou o partido há quatro anos.

Júdice leu, na apresentação do seu livro «O meu Sá Carneiro», excertos da carta que escreveu ao então líder social-democrata Marques Mendes quando deixou o partido.

«O PSD foi deixando de ser fiel ao legado ideológico de Sá Carneiro», afirmou Júdice, lendo trechos da carta, em que considerou que o partido foi dominado por uma «lógica de clientelismo interno e carreiras baseadas em fidelidades que sucessivamente vão mudando».

José Miguel Júdice disse que Marques Mendes se «esqueceu» do conteúdo dessa carta, quando recentemente o criticou.

O advogado sublinhou ainda que todas as críticas que dirige ao actual Presidente da República no livro que foi lançado esta terça-feira «foram feitas quando ele era primeiro-ministro e todo-poderoso».

Segundo Júdice, as reformas que deveriam ter sido feitas no país terão agora de ser feitas «em piores condições».

À Lusa, o advogado afirmou que se Sá Carneiro «tivesse tido sucesso, as reformas de grandes estruturas que precisavam de mudança tinham sido feitas nos anos 1980», como a «reforma da legislação laboral, a reforma da organização do Estado, a reforma da segurança social, a reforma da saúde».

«Com o advento dos fundos comunitários, Portugal poderia ter beneficiado muito mais do efeito positivo de tais fundos se tivesse feito reformas. Os fundos iludiram-nos, levaram-nos a pensar que não era preciso fazer tais reformas porque o dinheiro chegava para melhorar o destino dos portugueses», afirmou.

De acordo com Júdice, «está a ver-se» que só o dinheiro não chegou: «Vamos perder muito poder de compra, muita capacidade, muito do que adquirimos em 30 anos está a perder-se agora, em quatro ou cinco.»

Para o advogado, a «simbiose» entre «as preocupações sociais com as preocupações liberais», assim como «a coragem de lutar pelas suas convicções» representam o legado político de Sá Carneiro.