Cavaco fala menos e não sai de Belém - TVI

Cavaco fala menos e não sai de Belém

Cavaco Silva [LUSA]

Comparação entre os dois primeiros meses de 2012 e 2013 é evidente: o Presidente da República intervém e aparece menos publicamente

Longe vão os tempos da «magistratura ativa». O Presidente da República está mais afastado dos holofotes, pouco interventivo, praticamente até fechado em Belém. Desde que enviou o Orçamento do Estado para o Tribunal Constitucional, pouco ou nada se tem visto publicamente de Cavaco Silva.

Voltemos, então, a janeiro de 2012. Segundo a agenda que consta no site da Presidência, Cavaco divulgou a habitual mensagem de Ano Novo, na qual avisou os portugueses que «as dificuldades não irão ser menores», e deslocou-se ao Palácio de Queluz para os cumprimentos de Ano Novo do Corpo Diplomático.

A Norte, o chefe de Estado visitou faculdades e a Câmara do Porto, conheceu um centro escolar e até passeou por um bairro. Ainda no mesmo mês, passou pela Maia, por Santo Tirso, Famalicão e pela abertura da Guimarães Capital Europeia da Cultura, terminando na tradicional abertura do ano judicial, no Supremo Tribunal de Justiça.

A atividade do Presidente da República em janeiro de 2012 completou-se com 23 audiências e a promulgação da transferência para o Estado dos fundos de pensões. O mês, no entanto, ficou marcado pela constatação que a soma dos seus vencimentos «não dá para pagar as despesas». Viveu então um dos momentos mais conturbados da sua presidência, com uma manifestação em frente ao Palácio de Belém e críticas vindas de muitos lados, mas Cavaco ultrapassou a situação como habitualmente: em silêncio.

Em fevereiro do ano passado, o chefe de Estado esteve na sessão solene de inauguração da sede da CPLP e realizou uma visita de três dias à Finlândia. No regresso, mostrou-se muito ativo, através dos Roteiros do Futuro e da Juventude, com presenças em conferências e visitas a fábricas, empresas e ateliers para mostrar os bons exemplos, culminando na entrega do prémio do jovem empreendedor, no Porto.

O mês de fevereiro de 2012 integrou ainda 16 audiências e trouxe nova polémica quando o Presidente cancelou uma visita à Escola Secundária António Arroio, em Lisboa, onde dezenas de alunos o esperavam numa manifestação. Cavaco justificou com um «imprevisto», mas houve quem o acusasse de ter fugido aos protestos.

Este ano, a influência do chefe de Estado é menos visível. Em janeiro, anunciou o envio do Orçamento para o TC na mensagem de Ano Novo e promulgou a lei sobre a Reorganização Administrativa das Freguesias. Só por mais três vezes ouvimos e vimos o Presidente da República neste mês. Na «Grande Conferência do Expresso», disse que «a União [Europeia] deve apoiar os Estados na reestruturação das suas economias» e, nos cumprimentos ao Corpo Diplomático, congratulou-se com «o processo de consolidação orçamental ter avançado num clima de estabilidade política e de relativa paz social». Já na abertura do ano judicial insistiu que «quanto maior é a dimensão dos sacrifícios exigidos, maior tem de ser a preocupação de justiça na sua repartição».

Fevereiro foi um mês de quase ausência do espaço público. Cavaco deu posse aos novos secretários de Estado, presidiu uma reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, atribuiu condecorações, recebeu o primeiro-ministro, António José Seguro e outras figuras e organizou dois encontros - tudo no Palácio de Belém. Só por uma vez decidiu falar, num encontro com empresários onde pediu aos jovens para não deixarem de estudar.

O Presidente da República conseguiu evitar as sucessivas «grandoladas», não tem comentado a situação política e social, nem emitiu opinião sobre o pedido do Governo português para a extensão do pagamento dos empréstimos. Até agora não se sabe o que Cavaco Silva pensa da manifestação do último sábado, da revisão das metas e previsões de Vítor Gaspar e dos cortes de 4 mil milhões da reforma do Estado que devem resultar da sétima avaliação da troika. O caminho escolhido é evidente: cautela, conselhos de bastidores e ausência. A questão que se coloca agora é: quando voltará o Presidente a falar?
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