O banho de multidão de Sócrates em Santa Catarina - TVI

O banho de multidão de Sócrates em Santa Catarina

1/6/2011- PS (Miguel A.Lopes/Lusa)

Arruada impressionante no Porto, cumprindo a tradição

Julieta Ribeiro tem uma bandeira do PS pousada em cada um dos ombros. Aos 60 anos, esta reformada, de Ermesinde, nunca tinha saído de casa para participar numa arruada ou outra qualquer acção em campanhas eleitorais. Desta vez, não conseguiu ficar quieta e parecia a maior das apoiantes. «Vim para lhe dar força. Se eu visse alguém melhor dava o meu apoio, mas não vejo. Não votei sempre nele (no PS), mas desta vez não tenho dúvidas».



Fora dos apertos da multidão que acompanhava José Sócrates e que por causa da qual praticamente muito poucos lhe conseguiam chegar, tocar ou cumprimentar, havia sempre quem o chamasse de «mentiroso». De uma janela, vimos um homem que lhe acenou com um lenço branco, como se faz no futebol quando se quer mandar alguém embora.



Apesar da diferença de uma hora entre a arruada do PS e a do PSD - e de ter chegado a prever-se confrontos entre apoiantes de um e outro partido - as bandeiras misturavam-se um pouco por toda via. Quando Sócrates saiu do carro, a concentração de gente... concentrou-se ainda mais. Mulheres com crianças pequenas e até bebés eram levadas pela multidão quase sem tocar com os pés no chão. Assistimos a uma mulher que gritava «PS, PS» e que se esquecia que o seu filho, talvez com uns seis anos, quase esmagado pela multidão. Quando Sócrates chegou, o povo ficou, assim, desvairado.

Antes de começar a descida de Santa Catarina uma bandeira do PSD arrancou nervos miudinhos de muita gente que ali se concentrava. Cristina Braga, 40 anos, atreveu-se a desenrolar a sua bandeira do PSD no meio do grupo dos apoiantes do PS. Num ápice, todos os olhares se concentraram sobre ela. Havia quem dissesse que o «PSD está a pedi-las!». Mas a deputada da Assembleia de Freguesia do Porto, de aparência vistosa, não se importava com os olhares de soslaio porque, disse-nos, estava ali para travar algum desentendimento, caso houvesse necessidade. A seu lado, Maria Idália, 62 anos, também apoiante de Passos Coelho, ria-se da situação: «Confrontos, aqui? Por causa do PS? Nem pensar... sou casada com um socialista e não ando à bulha com ele o tempo todo».



Entre apertos e empurrões próprios de quem se junta na arruada, José Sócrates recebeu esta tarde um banho de multidão na Rua de Santa Catarina, mas não andou em ombros, como aconteceu a Passos Coelho. A segurança reforçada impedia que isso pudesse acontecer. Ele ainda ia ia cumprimentando a multidão, mas era difícil chegar a esta com tanta segurança. Zé Barbosa, cantor de variedades que lhe é completamente devoto, e que conhecemos num almoço-comício de Leça da Palmeira, agarrou-se a uma jornalista para conseguir entrar para dentro do cordão de segurança. Não foi fácil conseguir dar um abraço ao candidato socialista, mas à conta de persistência e muito suor, lá conseguiu.

Ao fim de cerca de vinte minutos, o líder socialista subia ao palco do camião que o acompanha nos comícios de rua para agradecer a «força» que lhe estavam a transmitir: «A única palavra que tenho no espírito é «Vitória, vitória, vitória», declarava, emocionado, antes do seu microfone avariar. Sócrates teve de se desenrascar e puxar pela voz, apesar de ainda afectado pela «laringite». Num discurso breve a agradecer a mobilização, a arruada terminava ali e no cruzamento da Rua de Fernandes Tomás. O carro já o esperava, como de costume e ele foi-se.

Com a arruada do PSD a querer arrancar agora, as bandeiras do PS evaporaram-se num instante. Encostado numa loja, Fernando Pinto, 52 anos, envergava um polo cor-de-rosa, mas o seu voto ainda estava sem cor. «Vim só ver o que diziam Sócrates e Passos. Ainda não sei em quem vou votar, mas se calhar nem vou lá. Ao fim de 35 anos, a palhaçada é a mesma. Ao fim de 35 anos, a palhaçada é a mesma. Eles não vão fazer nada porque já está tudo assinado», lamentava-se em referência às medidas do referendo da troika.
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