A morte de Mikolaj Filiks - TVI

A morte de Mikolaj Filiks

Parlamento da Polónia (Czarek Sokolowski/AP)

POLÓNIA Um caso de grande sensibilidade

Um jovem de 15 anos suicidou-se depois de ter sido divulgado na comunicação social que tinha sido vítima de pedofilia. Mikolaj Filiks era filho de Magdalena Filiks, deputada do principal partido da oposição na Polónia, o Plataforma Cívica.

Este tema esteve no centro da agenda parlamentar (houve um minuto de silêncio), com o partido que está no governo, o Lei e Justiça, a ser alvo de várias críticas.

Em causa está um trabalho da rádio pública Radio Szczecin, que fez uma reportagem sobre uma investigação de pedofilia que revelava vários detalhes sobre as vítimas, sendo que era facilmente identificável que Mikolaj Filiks era uma delas.

Soube-se agora que o jovem morreu na semana passada, pouco tempo depois da transmissão da reportagem, que divulgava as idades das vítimas e referia que uma delas era o filho de um deputado. No mesmo trabalho era referido que o homem, cujo julgamento em que acabou condenado decorreu em segredo para proteger as vítimas, era um membro do Plataforma Cívica, bem como um conhecido ativista LGBT.

A notícia da morte foi dada por Magdalena Filiks através do Twitter.

A história acabou por ser partilhada por outros meios de comunicação estatais, o que motiva a oposição a acusar o Lei e Justiça de orquestrar o caso para obter ganhos políticos, uma vez que a investigação visava um membro do Plataforma Cívica, havendo mesmo quem acuse o partido do governo de ter responsabilidade na morte de Mikolaj.

O atual líder do Plataforma Cívica, o ex-primeiro-ministro e presidente do Conselho Europeu Donald Tusk, prometeu “responsabilizar o Lei e Justiça por toda a vilania, por todo o mal e pelas tragédias que causou enquanto esteve no poder”. "O Mikolaj foi perseguido pela falta de discrição, falta de cuidado, pelas más intenções das autoridades e dos meios de comunicação públicos", disse.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Donald Tusk foi mais longe, sugerindo mesmo uma operação “planeada” por parte do Lei e Justiça, acusando procuradores e meios de comunicação detidos pelo Estado de cooperarem para “destruir os adversários políticos” do partido que está no poder.

O jornalista responsável pela investigação, Tomasz Duklanowski, afirmou que decidiu avançar com a história para mostrar que “não é apenas a Igreja Católica” que encobre casos de abusos sexuais a menores. Desde que o Lei e Justiça chegou ao poder, em 2015, que várias organizações internacionais têm chamado a atenção para o controlo dos meios de comunicação. No seu último relatório, os Repórteres Sem Fronteiras afirmam que há uma utilização dos meios de comunicação públicos como "instrumentos de propaganda", acrescentando que se têm verificado tentativas para "mudar a linha editorial dos meios privados e controlar a informação sobre temas sensíveis".

O caso da morte de Mikolaj já está a ser investigado pela justiça polaca, sendo que o Conselho de Transmissão Nacional lançou um inquérito para tentar esclarecer os contornos da reportagem, nomeadamente se a segurança das vítimas foi colocada em causa.

A Polónia vai a eleições no fim do ano, esperando-se uma votação renhida entre os dois principais partidos. Atualmente no poder, o Lei e Justiça é conhecido pela sua agenda conservadora, atuando com pulso firme no controlo dos meios de comunicação e fazendo constantes campanhas contra os direitos LGBT.

Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE