Preconceito causado pela crise financeira deixa muitos na pobreza

O economista João César das Neves diz-se chocado com o preconceito que está a ser gerado pela crise financeira internacional contra as classes sociais mais baixas.

«Para mim, o mais chocante em toda esta situação é que se tenha propagado a ideia de que esta crise toda só aconteceu porque há pretos nos EUA que deixaram de pagar os créditos à habitação. Isso é extremamente classista e a única consequência que vai ter é que as pessoas mais pobres, que até agora conseguiam financiamento para terem uma vida melhor, e que pagavam de facto os seus empréstimos, vão deixar de conseguir crédito e vão ficar remetidas à pobreza», disse o economista num encontro promovido pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE).

O professor da Universidade Católica lembra que «esta crise não foi causada por nenhum evento concreto. Em Agosto de 2007, quando isto começou, não aconteceu nada que despoletasse a crise. A causa foi o clima que se gerou, de desconfiança e de medo. O elemento central de tudo isto é a confiança e o pânico que se gerou é muito superior à dimensão real do problema, acabou por afectar negócios que eram saudáveis».

Apesar de acreditar que é inevitável uma recessão em várias grandes economias, já em 2009, e de admitir que «ninguém sabe quais serão os efeitos reais da crise financeira», o economista sublinha que «isto não é nenhuma catástrofe».

«Vai certamente haver uma recessão em 2009, mas não se prevê que seja muito séria, muito forte. O que não é necessariamente bom. Veja-se o que aconteceu na nossa economia, e tudo porque a nossa última crise não foi forte. Andamos aqui há anos, a crescer devagarinho¿ às vezes faz falta uma crise mais séria para a economia acordar», concluiu.