Venda de medicamentos sem receitas ajuda na diminuição dos custos - TVI

Venda de medicamentos sem receitas ajuda na diminuição dos custos

Comprimidos

A liberalização da venda dos medicamentos sem receita constitui uma medida dos governos europeus para minimizar a taxa de inflação anual de 12 % no sector da saúde, afirmou hoje um especialista britânico à agência «Lusa».

Ao falar em Lisboa numa conferência sobre «Promoção e Mudanças na Indústria Farmacêutica» face às estratégias preconizadas pela União Europeia para a liberalização do comércio de medicamentos sem receita (OTC), Nick May, explicou que tais medidas visam destruir a escalada anual nas despesas comparticipadas na saúde.

Segundo o especialista, as despesas comparticipadas na Saúde pelo Estado registam uma inflação anual de 12%, contra apenas 1% de crescimento do PIB português e 2% no resto da União Europeia, sendo uma forma de reduzir custos.

Em contrapartida, a liberalização dos medicamentos sem receita deverá provocar na Alemanha o encerramento de mais de 8 mil farmácias, das 16mil existentes, sublinha Nick May, que é um dos presidentes das três conferências anuais do «Economist International Pharmaceutical».

Na Alemanha, a liberalização foi implementada em 2003 e os efeitos acentuaram-se em 2005, receando-se que o negócio deixe de ser rentável, adianta.

Em 2004, a facturação do mercado farmacêutico alemão, incluindo medicamentos com receita e sem receita foi de 20,2 mil milhões euros, mais 0,6% face a 2003, para 1,5 mil milhões de unidades/embalagens, menos 10,1%.

No caso especifico dos medicamentos com receita, as vendas foram de 12,7 mil milhões de euros, menos 11,7% face a 2003, e para 628 milhões de unidades/embalagens, menos 23%.

No Reino Unido, onde a liberalização ocorreu há 15 anos, as farmácias conseguiram manter a sua rentabilidade, «porque se organizaram em redes de supermercados farmacêuticos», onde também vendem perfumes, cremes, objectos de beleza e produtos de conveniência.

May salienta que indústria farmacêutica mudou mais nos últimos 12 meses do que nos últimos 30 anos, mudança que, diz, «vai prosseguir a uma ritmo alucinante».

Por outro lado, os laboratórios farmacêuticos também estão a ser pressionados para baixarem os preços dos medicamentos, mas precisam de lucros para investir em novos medicamentos.

Esta situação ambivalente vai suscitar, diz Nick May, uma espécie de «guerra futura», entre governos e multinacionais farmacêuticas, prolongando-se a toda a cadeia de produção e distribuição de medicamentos.

Voltando ao exemplo «assustador da Alemanha», reside no facto de os médicos terem limites anuais no valor dos medicamentos que podem receitar.

«E tem acontecido que alguns chegam a Novembro e já não podem receitar mais, porque se o médico ultrapassar tem de pagar a multa do seu próprio bolso», comenta.

Em Portugal, diz o especialista, também vai haver as mesmas pressões e a «liberalização é um primeiro passo para controlar o custo da saúde».

Nick May aponta, ainda, que os governos europeus vão atrasar a aprovação de novos medicamentos para determinadas doenças e limitar o seu preço, o que os laboratórios poderão recusar, como sucedeu na Alemanha.
Continue a ler esta notícia