No momento, em que muitos procuram a novidade, Luís Marques Mendes apresenta-se como o candidato da experiência, uma opção que não é casual, mas calculada. Contrastando com os seus oponentes, com estratégias de rutura, o ex-líder do PSD estrutura a sua candidatura em torno de um valor político quase obsoleto: a previsibilidade. O objetivo não é parecer novo, mas fiável. Esta é a característica que o diferencia. O deputado, o ministro, o líder do grupo parlamentar e o comentador político, com décadas de exposição pública, Marques Mendes, transforma o seu currículo num ativo eleitoral e a sua biografia numa narrativa de responsabilidade. A pretensão é ser visto como alguém com história, mas sem dependências e embora tenha recebido o apoio do partido, distingue-se por uma abordagem distinta, tanto na forma como no discurso. A mensagem parece ser a de que será um presidente com experiência política, mas que não é refém dessa experiência. Num ciclo em que o debate sobre o papel do Presidente da República regressou ao centro da discussão pública, Marques Mendes apresenta-se como o garante de estabilidade, o moderador do sistema e o árbitro experiente de um país farto de improvisos.
A sua estratégia é simples, quase clássica. A ideia de que a fiabilidade pode constituir, em si mesma, uma forma de rutura e, em vez disso, faz precisamente o contrário. O discurso é cuidadosamente estruturado, utilizando frases concisas, temas sólidos e um léxico político que evoca estabilidade, ética e dever. A clareza é a principal vantagem, pois elimina quaisquer dúvidas quanto à sua representação, mas o risco é evidente, porque num contexto de desconfiança generalizada, Marques Mendes pode ser interpretado como o último defensor de um regime enfraquecido. Ventura já o acusou de ser o rosto de um sistema que falhou aos portugueses e Gouveia e Melo define-o como uma espécie de um representante da oligarquia política. Esta narrativa, apesar de injusta, revela uma aderência emocional, porque à medida que a mesma adquire maior solidez, mais se assemelha ao passado. Num país onde muitos já confundem firmeza com imobilismo, a fiabilidade corre o risco de se tornar um fardo.
O seu caminho para a vitória passa por consolidar três zonas-chave: o centro político, o voto moderado e os eleitores flutuantes que oscilam entre o voto convicto e o voto útil. Se conseguir impor o seu vocabulário como antídoto para o ruído das alternativas, poderá transformar o tédio em triunfo, ser aquele que não precisa de convencer com promessas, apenas com autoridade institucional. Se a perceção de que Ventura representa um risco real ganhar tração e se Gouveia e Melo continuar a vacilar entre a neutralidade e a ambiguidade, Marques Mendes pode apresentar-se como o único candidato com experiência e credibilidade para o cargo. Num cenário de segunda volta, essa previsibilidade pode tornar-se argumento e, no fim do dia, o português ainda gosta de estabilidade.
No entanto, Marques Mendes pode vir a perder estas eleições precisamente por ser visto como excessivamente controlado. A falta de tensão dramatúrgica impede-o de captar a atenção de um eleitorado mais volátil, que procura candidatos que desafiem, e não apenas moderem. Se Ventura continuar a demonstrar domínio sobre o conflito e Gouveia e Melo recuperar a centralidade aliada à imagem de autoridade, Marques Mendes pode tornar-se o candidato do "quase": quase presidencial, quase consensual, quase mobilizador e os vários anos de exposição política e mediática podem ser um peso que o arraste para o fundo da tabela. Não deixa de ser trágico pensar que num ciclo eleitoral cada vez mais dominado pela lógica do entretenimento, a coerência na manutenção da identidade política resulte na invisibilidade.