O Presidente da República exorta Governo a equiparar o tratamento dado aos professores portugueses àquele que é dado noutros países tidos como “exemplos de liderança na educação”. Num texto enviado à Presidência do Conselho de Ministros e no qual devolve ao Governo o diploma de progressão na carreira dos professores, o Presidente da República escreve: “Não foi por acaso que países exemplos de liderança na educação o foram porque escolheram os melhores e lhes pagaram aquilo que não pagavam a tantos outros e respeitáveis trabalhadores do setor público, mesmo de carreiras especiais”.
De acordo com dados compilados pela Agência de Execução Europeia da Educação e da Cultura (EACEA, sigla do nome em Inglês) e pela Eurydice, uma rede europeia que está sob a alçada da Comissão Europeia e compila a informações sobre Educação, a média dos salários dos professores da União Europeia ronda os 25 mil euros brutos anuais. Por outro lado, os dados da Eurydice relativos ao ano de 2021/2022 mostram diferenças salariais significativas entre os professores de todos os países da Europa.
O salário anual bruto de um professor pode ir dos 4.233 euros na Albânia aos 69.076 euros no Luxemburgo. Portugal ocupa o 17º lugar, atrás de países como o referido Luxemburgo mas também Suíça (quase igual ao Luxemburgo e três vezes mais que em Portugal), Alemanha, Suécia, Espanha, Finlândia e até Chipre. A pagar menos aos professores do que em Portugal está a generalidade dos países de Leste, como Polónia, Bulgária, Roménia ou Sérvia, assim como a Grécia.
Salários iniciais brutos anuais dos professores (2020/2021) em euros:
Países | Salários |
---|---|
Luxemburgo | 69.076 |
Suíça | 66.972 |
Alemanha | 54.129 |
Dinamarca | 47.980 |
Islândia | 45.468 |
Noruega | 40.479 |
Áustria | 39.179 |
Países Baixos | 38.413 |
Irlanda | 37.692 |
Suécia | 37.512 |
Bélgica | 33.825 |
Espanha | 30.992 |
Finlândia | 30.002 |
França | 26.839 |
Itália | 24.297 |
Chipre | 24.189 |
Portugal | 22.374 |
Eslovénia | 19.777 |
Malta | 17.509 |
Lituânia | 15.781 |
Estónia | 15.780 |
Croácia | 14.158 |
República Checa | 13.807 |
Grécia | 13.104 |
Montenegro | 9.983 |
Letónia | 9.480 |
Eslováquia | 8.862 |
Turquia | 8.330 |
Hungria | 8.063 |
Roménia | 8.027 |
Polónia | 7.908 |
Bulgária | 7.731 |
Macedónia | 7.291 |
Sérvia | 6.646 |
Bósnia e Herzegovina | 6.120 |
Albânia | 4.233 |
O salário anual médio bruto de um professor só fica acima dos 50 mil euros em três países: Luxemburgo, Suíça e Alemanha (54.129 euros). Um professor em França (26.839 euros) e em Itália (24.297 euros) ganha menos de metade do que um professor alemão.
Ainda assim, se olharmos para os salários dos professores em Paridade Poder de Compra (PPC) nos vários sistemas de ensino europeus analisados, assistimos a enormes disparidades. A Alemanha encabeça a lista com um salário anual de 50.357 PPC, seguida do Luxemburgo (46.066 PPC) e Suíça (38.601 PPC). Portugal fica-se pelos 25.440 PPC, cerca de metade daquilo que aufere um professor alemão.
Salários iniciais brutos anuais dos professores em Paridade Poder de Compra (PPC) (2020/21):
País | Salários |
---|---|
Alemanha | 50.357 |
Luxemburgo | 46.066 |
Suíça | 38.601 |
Dinamarca | 33.627 |
Áustria | 32.865 |
Países Baixos | 32.350 |
Espanha | 31.609 |
Bélgica | 29.069 |
Islândia | 28.862 |
Suécia | 28.745 |
Turquia | 28.455 |
Irlanda | 26.542 |
Noruega | 26.041 |
Chipre | 25.465 |
Portugal | 25.440 |
França | 24.563 |
Lituânia | 23.709 |
Itália | 23.601 |
Finlândia | 23.423 |
Eslovénia | 22.673 |
Croácia | 21.257 |
Estónia | 19.162 |
Malta | 19.148 |
Chéquia | 19.065 |
Montenegro | 18.678 |
Roménia | 16.365 |
Macedónia | 15.841 |
Grécia | 15.435 |
Bulgária | 15.159 |
Polónia | 14.338 |
Hungria | 13.465 |
Letónia | 12.739 |
Sérvia | 12.703 |
Bósnia Herzegovina | 11.786 |
Eslováquia | 10.750 |
Albânia | 7.824 |
Pedro Barreiros, secretário-geral da Federação Nacional da Educação, lembra que não se podem olhar para a comparação dos salários nos diferentes países de uma forma isolada. “É uma questão de médias”, afirma em declarações à CNN Portugal. “Os professores no topo de carreira auferem de um salário relativamente bom, mas quando faz média com um professor em início de carreira, resulta num salário efetivamente baixo. É como dizerem que um professor tem em média 12 alunos. Mas tem em conta todos os professores, até aqueles que trabalham em câmaras municipais ou noutros sítios e não dão aulas e sabemos que, na realidade, há professores com turmas de 30 alunos”, exemplifica.
Na realidade, lembra Pedro Barreiros, o salário de um professor à entrada na profissão é tão baixo que constitui mais um fator de desmotivação dos jovens para o ingresso na profissão. O dirigente da FNE lembra que mais do que a questão salarial é importante comparar a “questão do status”. Ou seja, da importância que cada país atribui a um professor na sociedade. “Na Suécia, a média para se entrar num curso via ensino é das mais altas”, exemplifica.
E é para essa importância da profissão que Marcelo também alerta no texto que enviou para o Conselho de Ministros. “Todos sabem que os professores, tal como os profissionais de saúde, têm e merecem ter uma importância essencial na nossa sociedade e em todas as sociedades que apostam na educação, no conhecimento, no futuro”, lembra o Presidente da República.
Comparemos, então, o salário que aufere um professor com um enfermeiro ou um médico em Portugal e noutros países europeus. Tomemos como exemplo a Finlândia, tida por muitos como um grande exemplo em termos de políticas de Educação. De acordo com o site EduNation, que reúne informação sobre a Finlândia para quem quer ir viver para o país, um enfermeiro ganha por mês entre 3.032 e 3.352 euros e um médico ganha entre 7.015 e 7.253 euros. Um professor ganha cerca de 2.500 euros por mês. Ou seja, aqui não se confirma o que Marcelo diz e que está no início deste artigo - e que repetimos aqui: “Não foi por acaso que países exemplos de liderança na educação o foram porque escolheram os melhores e lhes pagaram aquilo que não pagavam a tantos outros e respeitáveis trabalhadores do setor público, mesmo de carreiras especiais”.
Outro exemplo desta parte em que Marcelo não tem tanta razão: na Alemanha, de acordo com o site Doctor in Germany, um médico ganha em média 8.960 euros mensais, num espectro que pode ir dos 3.290 aos 15.100 euros. Se dividirmos o salário bruto anual de um professor na Alemanha por 12 meses, constatamos que ganha em média por mês 4.510 euros (menos ainda se dividido por 14).