Corte nas despesas, um reality show e as palavras de Harry e Meghan. Como foram os primeiros seis meses da família real britânica sem a rainha Isabel II - TVI

Corte nas despesas, um reality show e as palavras de Harry e Meghan. Como foram os primeiros seis meses da família real britânica sem a rainha Isabel II

Rainha Isabel II (AP Photo)

Depois de 70 anos do maior reinado da história britânica, a família real tem protagonizado algumas mudanças e polémicas. A coroação do novo rei Carlos III acontece apenas em maio

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A 8 de setembro de 2022, a família real enfrentava a grande mudança para a qual havia um plano preparado há décadas. Com a morte da rainha Isabel II, o príncipe Carlos era proclamado rei - a coroação só acontece em maio, oito meses depois - e começava uma nova era na monarquia do Reino Unido.

No dia em que se assinalam seis meses desta data, várias são as mudanças, mas também as polémicas que foram marcando o dia a dia da família real britânica. O Palácio de Buckhingham tem-se mantido coeso: todas as mudanças são confirmadas de forma oficial, através de comunicados ou notas, mas quanto a polémicas, raramente se pronuncia. Muda o monarca, mas não muda a estratégia real.

Redução de empregados e de despesa

Menos de uma semana depois da morte da rainha Isabel II, dezenas de funcionários da Clarence House foram avisados de que iriam ser dispensados, uma vez que o rei Carlos III e a rainha consorte Camilla iriam mudar os escritórios para o palácio de Buckingham.

Cerca de cem funcionários da residência oficial do rei - entre os quais secretários privados, funcionários do gabinete das finanças, equipa da comunicação e pessoal doméstico, muitos dos quais trabalharam com o rei Carlos III durante décadas - receberam a notificação de despedimento enquanto decorria a missa de ação de graças na Catedral de Santo Egídio, em Edimburgo, o que deixou os funcionários "em choque". 

Funcionários da rainha Isabel II marcam presença no funeral (Associated Press)

Mas não foi só nos funcionários que Carlos III quis cortar despesa. Também na família, o novo monarca apresentou um plano de cortes, como foi o caso da manutenção dos membros trabalhadores da família real, medida implementada pela mãe, e o pedido para que os duques de Sussex desocupem Frogmore Cottage para, alegadamente, realojar o príncipe Andrew (que se tem mantido na sombra), numa tentativa de reduzir a despesa com a segurança, segundo o tabloide The Sun.

Outras das mudanças prendeu-se com os conselheiros de Estado, com o rei a pedir por carta à Câmara dos Lordes, a câmara alta do parlamento britânico, que considere a princesa Anne e o príncipe Edward, seus irmãos, como seus substitutos em caso de doença ou ausência do Reino Unido.

The Crown, a série da Netflix "fora de tom"

O que não mudou assim tanto foi o desamor da monarquia britânica pela série da Netflix "The Crown". A última temporada estreou depois da morte da rainha e voltou a gerar polémica, tendo envolvido na trama até o antigo primeiro-ministro John Major, que esteve no cargo entre 1990 e 1997.

O caso remonta à decada de 90, quando o então príncipe Carlos se separou da princesa Diana e enfrentou acusações de traição, com Diana, mais tarde, a morrer em Paris. A série retrata como Carlos terá tentado tirar a mãe do trono com a ajuda do primeiro-ministro, alegando que Isabel II, na altura com 65 anos, estava a cometer o mesmo erro que a rainha Vitória, ao não abdicar para que o seu herdeiro tomasse posse.

John Major em The Crown (Netflix)

John Major reagiu através de um porta-voz, dizendo que "nunca houve qualquer discussão entre Sir John e o então príncipe de Gales sobre a possibilidade de abdicação da falecida rainha Isabel II". O antigo primeiro-ministro foi mais longe e acusou mesmo a produção da autoria de Peter Morgan de ser um produto de ficção "prejudicial e malicioso" e um "disparate total".

"Sir John não cooperou de forma alguma com The Crown. Nem nunca foi abordado por eles para verificar qualquer material de guião nesta ou em qualquer outra série. Nunca houve qualquer discussão entre Sir John e o então príncipe de Gales sobre a possibilidade de abdicação da falecida rainha Isabel II. [The Crown] deve ser visto como nada além de ficção prejudicial e maliciosa. Um barril de coisas sem sentido vendidas por nenhuma outra razão além de dar o máximo - e totalmente falso - impacto dramático". 

O antigo primeiro-ministro criticou ainda a cena em que ele e a mulher, Norma Major, aparecem a criticar os membros sénior da família real como "perigosamente iludidos e fora de tom".

Racismo em evento de caridade

Quem também saiu de tom foi Susan Hussey, assistente do rei Carlos III e da rainha-consorte Camilla, que se demitiu em novembro depois de ter feito "comentários inaceitáveis" à diretora de uma instituição de caridade durante um evento oficial oferecido por Camilla para denunciar a violência contra as mulheres.

No evento, no Palácio de Buckingham, Susan Hussey fez comentários "profundamente lamentáveis", alegadamente de natureza racista, a Ngozi Fulani, diretora da instituição de violência doméstica Sistah Space, sediada em Londres. Em comunicado, o Palácio de Buckhingham revelou que o incidente foi "levado muito a sério" e que "a pessoa em questão deseja expressar as suas desculpas pelo desgosto causado e retirou-se da sua posição honorária com efeito imediato".

Hussey viria depois a encontrar-se com Ngozi Fulani, a quem tinha questionado insistentemente sobre as “verdadeiras" origens e "de que parte de África” era, apesar de Fulani repetir que tinha nascido e crescido no Reino Unido, para esclarecer e "pedir desculpas pelos comentários feitos".

Primeiro banquete real de Carlos III

Novembro ficou ainda marcado pelo primeiro banquete real do rei Carlos III, que recebeu o presidente da África do Sul, naquela que foi a primeira vez que um líder sul-africano visitou o Reino Unido a título oficial em mais de uma década.

Cyril Ramaphosa foi recebido com um banquete no Palácio de Buckingham, num evento no qual também estiveram presentes a rainha consorte, os príncipes de Gales, os condes de Wessex e os duques de Gloucester.

Presidente da África do Sul com o rei Carlos III e a rainha-consorte Camilla (Associated Press)

Durante o discurso, Carlos III recordou a visita oficial que a mãe fez à África do Sul em 1947, um ano antes do seu nascimento, enfatizando as boas relações existentes entre os dois países.

“A África do Sul, como a Commonwealth, sempre fez parte da minha vida. A minha mãe falava frequentemente da sua visita em 1947 quando, na Cidade do Cabo, no seu 21.º aniversário, ela dedicou a sua vida ao serviço do povo da Commonwealth. É, portanto, particularmente comovente e especial que o senhor seja nosso convidado nesta que é a primeira visita de Estado da qual somos anfitriões”, afirmou o rei, que fez ainda referência ao difícil legado do colonialismo. Dizendo que há "elementos da História que provocam profundo sofrimento", Carlos III assumiu que têm "de ser reconhecidos os erros que moldaram o passado", para que seja possível "desbloquear o poder do futuro comum".

Irritações de Carlos

Se o primeiro banquete real correu sem imprevistos, o mesmo não se pode dizer de outros momentos ao longo dos seis meses em que Carlos III foi proclamado rei, a começar logo pelas canetas.

A 13 de setembro, um vídeo que foi amplamente divulgado online mostrava o rei a perder a calma com uma caneta que escorria tinta ao assinar um livro de visitas no Castelo de Hillsborough, na Irlanda do Norte. No vídeo, Carlos pode ser visto a dizer: "Oh Deus, eu odeio esta coisa". O rei parece então murmurar: "Não consigo suportar isto".

A aparente embirração com canetas ganhou outra dimensão após um novo vídeo mostrar o momento em que Carlos foi proclamado rei e o monarca se mostrou impaciente quando uma bandeja de canetas o impediu de assinar um documento importante, e foi filmado a gesticular para que o objeto fosse removido.

Outro dos momentos em que a irritação de Carlos III foi visível, e desta vez não com as canetas, foi durante uma visita a Wrexham, no País de Gales, em dezembro. O rei cumprimentava as pessoas que se ali se encontravam para ver o casal real passar quando pediu à sua equipa de segurança para que apressasse a rainha consorte.

"Podemos tentar trazê-la de volta? Por favor. Temos de ir. Eu estava a tentar esperar por ela, mas ela continua", ouve-se Carlos III dizer num vídeo amplamente divulgado nas redes sociais.

Um reality show e uma gravidez real

Para mostrar que a família real não é só protocolo, em novembro, Mike Tindall, marido da filha da princesa Anne tornou-se no primeiro membro da realeza a participar num reality show, ao entrar para "I’m A Celebrity… Get Me Out Of Here", gravado na Austrália para o canal britânico ITV, ao lado de personalidades como Matt Hancock. A participação do marido de Zara Phillips foi discreta, mas trouxe a público coisas como os pequenos-almoços no Palácio de Buchkingham de calças de ganga e t-shirt e como começou o namoro entre o casal, como conta a revista Tatler.

Recentemente, a princesa Eugenie também anunciou a segunda gravidez daquele que será o primeiro bisneto a nascer depois da morte da rainha Isabel II. Eugenie, filha do príncipe André com Sarah Fergunson, é casada com Jack Brooksbank e o casal é pai de August, nascido a 9 de fevereiro de 2021. O bebé vai nascer este verão.

Harry, Meghan e a fuga da família real

O resumo dos seis meses sem a rainha não fica completo sem os duques de Sussex. A saga começou ainda antes da morte de Isabel II, quando se soube que, depois da polémica entrevista a Oprah Winfrey, o casal tinha programado um documentário para a Netflix e Harry se preparava para lançar um livro de memórias.

Estava programado e aconteceu. Em dezembro, em duas partes, era divulgada a série da Netflix, onde Harry e Meghan revelaram muitos vídeos pessoais e fotografias nunca antes vistas e falaram sobre o "preconceito inconsciente" vivido dentro da família real, que adensou as dificuldades vividas pelo casal nos meses antes de abandonarem o seu papel como membros séniores da realeza britânica.

Duques de Sussex com os filhos (Netflix)

Ao longo de mais de seis horas de documentário, os duques de Sussex - que tentaram abdicar dos títulos para uma vida mais reservada - falam sobre quase tudo dos dois lados da família, contam com testemunhos de amigos e da mãe de Meghan, e não deixam nenhum pormenor de fora sobre a sua saída da família real, com Harry a contar detalhadamente como discutiu com o irmão na reunião em Sandrigham.

A confiar nas palavras do filho mais novo do rei Carlos III (que nunca se pronunciou sobre o assunto) esta não terá sido a única discussão entre Harry e William. No livro "Na Sombra", o duque de Sussex revela que os dois discutiram em Windsor e que o agora príncipe de Gales chegou mesmo a agredi-lo e a atirá-lo ao chão. O tema foi abordado nas várias entrevistas que Harry deu de promoção do livro, com o duque a confessar que gostava de ter o pai e o irmão de volta, até porque o seu interesse é "ter uma família e não uma instituição". Mas, para isso (e para estar presente na coroação, para a qual já foi oficialmente convidado) diz que são precisas conversas entre ambas as partes e que a bola está do lado da família real.

Certo é que, se regressar ao Reino Unido, Harry e a família já não ficarão na Frogmore Cottage, que foi durante quase cinco anos a sua residência oficial em Londres, mesmo depois de se terem mudado para os Estados Unidos. No início deste mês, o rei Carlos III pediu aos duques de Sussex que desocupassem a mansão que está localizada nos jardins do Castelo de Windsor e que estavam autorizados a utilizar durante o reinado de Isabel II. Recentemente, Harry e Meghan tinham decidido renovar por um ano o contrato de arrendamento da residência britânica, que foi a sua primeira habitação depois de casados e que foi alvo de obras no valor de quase 3 milhões de euros

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