Gilberto Vicente, o treinador do Rebordelo, é um daqueles homens dinâmicos, que só está bem a fazer coisas. Embora diga que é treinador a tempo inteiro, até porque não tem outra profissão, nunca deixa de procurar outras coisas.
Agora, por exemplo, anda a tentar construir uma equipa de petizes e tranquinas no pequeno clube transmontano. Diz que ainda há quinze crianças na aldeia, por isso está a tentar constituir um gruo que permita ao Rebordelo também ter camadas jovens.
Antes disso, porém, já fez muitas outras coisas.
Já criou, por exemplo, a Liga de Desporto Amador de Valpaços. Foi há treze anos e o campeonato sobrevive, e continua a crescer.
«O que é que nós fizemos aqui há treze anos? Demos competitividade àqueles grupos de amigos que todas as semanas se juntam para jogar uma futebolada. Entretanto isto foi evoluindo, fizemos o protocolo com a Federação Portuguesa de Futebol para podemos ter os seguros e hoje em dia temos entre 120 e 130 jogadores, todos eles federados, todos inscritos no score e todos com seguro desportivo», conta.
«Temos equipas de Valpaços, claro, mas também de Mirandela, de Chaves, de Torre Dona Chama. O ano passado tivemos atém uma de Murça e uma de Nogueira da Montanha. Antes pagavam dois euros para alugar um campo durante uma hora e jogar, agora juntam esse dinheiro, dão 25 euros por equipa para pagar aos árbitros, que são federados, e participam num campeonato, bem organizado e no qual estão protegidos por um seguro.»
António Laje é o parceiro de Gilberto Vicente em todo este projeto e lembra que no fim do campeonato há sempre uma fase final a nível nacional, que junta as melhores equipas das ligas amadoras, e em 2017 o campeão nacional até foi uma formação de Valpaços.
«Logo desde o início houve grande entusiasmo com a Liga Amadora. Entretanto também criámos dentro da Liga o clube de caminhadas, que participa em várias caminhadas, no concelho e fora, inclusivamente a Santiago Compostela também. Nesta altura já tem mais de noventa caminheiros. E estamos abertos a toda a gente. Podem vir todos. Estamos até abertos a abrir campeonatos de outros desportos.»
«Era isto, era aquilo, era mais, e mais, e mais... colocaram tantos senãos que não dá»
Ora é neste dinamismo de fazer coisas e criar novos projetos que Gilberto Vicente se concentra quando não está a treinar o Rebordelo. Esta semanas é, porém, uma semana especial. A equipa vai defrontar o Nacional, em jogo da Taça de Portugal, que será o ponto alto da história do clube. Por isso tem ocupado mais tempo ao treinador.
Gilberto Vicente anda ele próprio numa azáfama, e anda feliz. Diz que era capaz de viver uma semana como esta todas as semanas do resto da vida. Só tem, aliás, um lamento.
«Custa muito não jogar em Rebordelo.»
Até não há muitos anos, a pequena aldeia transmontana tinha um campo que parecia um lameiro (ou perto disso). Com esforço, e um projeto externo, conseguiu criar-se o que é hoje o Campo de Jogos, com relva sintética, uma pequena bancada e um edifício de apoio, onde ficam os balneários. Em cima até se fez uma casa para alguns jogadores estrangeiros.
Apesar disso, a Federação não permitiu ao clube jogar em casa.
«Primeiro eram as medidas do campo. É obrigatório ter 64 metros de largura e o nosso campo só tem 60. Depois era o banco de suplentes, que tinha que ter vinte lugares. A seguir era o departamento médico que tinha de ser maior. Depois era preciso um espaço para o Nacional guardar o material. A seguir era a bancada que tinha de ter não sei quantos lugares sentados. Era isto, era aquilo, era mais, e mais, e mais», desabafa o treinador.
«Isto tudo está a escamotear e a alterar toda a verdade da Taça de Portugal. Devia ser uma festa da terra e não é. Se fosse em Rebordelo, era um dia que as pessoas não iam esquecer nunca mais. Mas colocaram tantos senãos que não dá.»
No fundo, lamenta, o Rebordelo vai viver um dia histórico, que se calhar nunca mais se vai repetir, mas vai vivê-lo longe de casa, longe da aldeia, longe do lar.
«Agora vamos para Vinhais. Não faz sentido. Se o adversário fosse o Sp. Braga, o V. Guimarães ou o FC Porto, ok, ainda se percebia, trazem muitos adeptos e até nos permitiam fazer uma receita importante. Mas o Nacional traz meia dúzia de pessoas, provavelmente até entram com os convites a que o clube tem direito, o jogo não dá na televisão, apesar de ser às 11 da manhã. E temos de ir jogar para Vinhais? Não faz sentido», adianta.
«Se não querem os clubes pequenos na Taça, façam a competição só com os clubes da primeira divisão. Isto ia ser uma festa fantástica e assim não é. Mas pronto, é o que temos. Temos de seguir as regras, darmo-nos por contentes por estarmos aqui e fazermos o jogo da vossa vida.»