A festa portista no MetLife: «Esta bandeira está autografada pelo Mourinho» - TVI

A festa portista no MetLife: «Esta bandeira está autografada pelo Mourinho»

Não eram tantos como os do Palmeiras, mas eram bons. O Maisfutebol esteve à conversa com alguns dos milhares de portistas que viram a estreia do FC Porto no Mundial de Clubes e descobriu histórias de sacrifício, mas também de sucesso

Os adeptos do Palmeiras estavam em franca maioria, mas também não faltou apoio ao FC Porto no jogo de estreia no Mundial de Clubes. Alguns milhares de portistas pintaram também de azul parte do imponente MetLife Stadium, onde 46 mil pessoas assistiram ao jogo que terminou com um empate sem golos.

Entre o público estavam portugueses que viajaram propositadamente de Portugal para acompanhar os dragões ou para juntar o útil ao agradável: conhecer a Big Apple e ver o clube do coração. Mas também estavam – e muitos – compatriotas radicados nos Estados Unidos e até no Canadá, como aconteceu com duas gerações da família Correia, que viajou nove horas de Toronto.

Os irmãos Grafilo e José fizeram menos horas de viagem. Três, mais concretamente de West Massachussets, onde há uma grande comunidade de portugueses. «Somos filhos de imigrantes de Trás-os-Montes. Estou cá desde 1985. Tinha 13 anos e vim como o meu irmão e o meu pai um ano depois da minha irmã ter vindo com a nossa mãe, para se estabelecerem e prepararem tudo para a nossa chegada. Porque é que viemos? Melhor vida aqui. Os meus pais eram agricultores e aqui tínhamos outras oportunidades. Sou eu, ele e ela», aponta Grafilo.

«Não é um nome comum. Se calhar é único em Portugal! O meu nome? É mais normal. José», brinca o irmão.

Grafilo (segundo a contar da esquerda), a irmã (à esquerda dele) e José, terceiro a contar da direita, com a família

As portas do MetLife Stadium já abriram há alguns minutos, mas esta família mantém-se tranquila no parque de estacionamento, onde montou um autêntico acampamento à frente dos dois carros em que viajaram. Há cadeiras para todos, uma mesa e comida suficiente para um batalhão. Hambúrgueres, febras, pão, batatas e, claro, cerveja. «Os portugueses são muito hospitaleiros em qualquer parte do Mundo», diz a bem-disposta e amável irmã de José e Grafilo, que nos coloca nas mãos uma febra no pão.

«Temos muita comida. Até já alimentámos adeptos do Palmeiras», dispara Grafilo, algo cético, tal como o irmão, quanto às reais hipóteses do FC Porto no Mundial de Clubes.

«Não tenho grandes expectativas. Esta época foi muito, muito baixa», recorda José com semblante mais carregado. «Tenho expectativas de que passemos o grupo. Depois, não. Há sempre esperança, mas não tenho grandes expectativas.»

Grafilo fala do «novo Porto». «Well, temos de recuperar deste ano. O FC Porto esteve no top muito tempo e agora é dar a vez a outros. A recuperação vai demorar uns anos, não vai ser já para o ano, mas vamos voltar ao topo. Para mim, o André Villas-Boas era melhor treinador do que é presidente, mas temos de lhe dar tempo. Tomou posse numa altura em que as coisas já não estavam muito bem para o FC Porto. Não podemos tirar conclusões precipitadas. Temos de lhe dar uma oportunidade e depois logo se vê.»

Não muito longe daquele ponto encontramos Daniel, Tomás e Mateus, três amigos de Braga. Daniel vive na Holanda há sete anos e desafiou os companheiros de viagem assim que saiu o resultado do sorteio, que colocou o FC Porto no grupo de Palmeiras, Inter Miami e Al-Ahly.

«A expectativa para a competição? É ganhar», diz Tomás a rir para depois descer a fasquia. «É que a equipa melhore o rendimento, a performance e que ganhe o máximo de jogos possível.»

Daniel, Tomás e Mateus

Os três amigos minhotos só assistem ao primeiro jogo do FC Porto. «Infelizmente é só este, mas fizemos mal as contas. Podia ter dado para esticar até ao próximo jogo, que é em Atlanta [com o Inter Miami]. Mas vamos usufruir deste numa competição importante. Acho que a única maneira que têm de salvar a época é tentarem fazer algo bonito aqui», aponta Mateus.

Em busca por uma vida melhor, mas também por segurança

O sonho americano foi seguido por muitos portugueses. Todos em busca de uma vida melhor, mas não só por isso. No caso de José e Isabel, dois de seis irmãos, a família atravessou o Atlântico sobretudo por outras razões.

«Eu vou fazer 66 anos e tinha 12 quando viemos para cá. Já lá vão 54 anos. Temos ali outra irmã que está aleijada, aquela ali», diz Isabel enquanto aponta para Carmina, que está sentada numa barreira de concreto e com uma muleta do lado esquerdo. «Ela é advogada de imigração. Não lhe falta trabalho», acrescenta José com um sorriso.

Isabel prossegue a história da família, radicada em Ludlow, Massachussets. «Foi durante a guerra colonial. Naquela altura morreram muitos soldados da nossa área e a minha mãe não queria que os meus irmãos fossem para a tropa, porque teriam de alistar-se quando fizessem 16 anos e podiam ter de ir para a guerra. Falou com o irmão dela, o meu tio Zé que vivia cá nos Estados Unidos, e pediu-lhe para nos mandar para cá para não terem de ir para a tropa. O meu pai até tinha um negócio muito bom em Chaves, mas vendeu a parte dele. Depois, aconteceu o 25 de Abril, mas já cá estávamos», recorda Isabel, que enquanto conversa com o Maisfutebol não larga uma enorme bandeira dos Estados Unidos com o símbolo do FC Porto e também uma bandeira de Portugal bordada num canto.

«Fui à inauguração do Dragão e esta bandeira está autografada pelo Mourinho e pelos jogadores do Porto», diz quase que a explodir de orgulho. «Houve um benfiquista que me ofereceu muito dinheiro por ela. Nunca na vida!»

«Temos dois irmãos que são benfiquistas!», pontua José.

«Nem todos podem ter bom gosto!», dispara Isabel, de língua afiada.

José, de bigode, o filho (segundo à direita na foto) fanático pelo FC Porto e Isabel (ao centro, a segurar a bandeira)

José quer ir a todas neste Mundial, pesar dos negócios, que montou em 1986, não permitirem muito tempo para grandes diversões. Tanto que esteve, até há bem pouco tempo, 20 anos sem ir a Portugal. «Temos uma companhia de construção e um restaurante chamado “Come e Cala”. É complicado, é muito trabalho e se nós estivermos fora os funcionários ficam desorientados! Mas agora são só três ou quatro dias. Por este tempo pode fazer, you know?! O meu filho é fanático pelo FC Porto e por isso queremos ir a todos os jogos até não podermos mais!»

Na família de José há mais negócios. O filho de Isabel, por exemplo, é um famoso dono de um negócio de pastéis de nata em Manhattan. «É o Joey Bats [José Batista]!», diz José, «babado» pelo sobrinho. «Tem de ir lá! O presidente de Portugal esteve num dos nossos cafés há dois anos. O meu filho nasceu cá, mas é muito português!», atesta Isabel.

Tão português como a mãe e o tio, ainda nascidos em Portugal e que foram, como os irmãos, poupados às angústias de uma guerra que fraturou milhares de famílias e sem fim à vista quando deixaram o país. Mas nem os anos longe arrefeceram o forte sentimento pelas origens. «Nós adoramos Portugal. Um dia vou comprar uma casa ao pé do mar lá. Yah! Em Peniche ou na Nazaré.»

Que os sonhos nunca esmoreçam.

Continue a ler esta notícia