Football Leaks. Rui Pinto pede desculpa por tentativa de extorsão: "Sinto-me envergonhado. Está aqui uma trapalhada. Isto foi uma infantilidade. Estava a dar música a Nélio Lucas" - TVI

Football Leaks. Rui Pinto pede desculpa por tentativa de extorsão: "Sinto-me envergonhado. Está aqui uma trapalhada. Isto foi uma infantilidade. Estava a dar música a Nélio Lucas"

Hacker divulgou mais detalhes em tribunal sobre o Football Leaks numa sessão marcada por um pedido de desculpas

Rui Pinto rejeitou esta segunda-feira em tribunal ter sido o responsável pelos primeiros acessos ao sistema informático da Doyen, atribuindo esse papel a um “amigo” da plataforma eletrónica Football Leaks e assumindo que apenas “tinha conhecimento” da situação.

Na segunda sessão consecutiva do julgamento no Juízo Central Criminal de Lisboa em que o principal arguido do processo prestou declarações, o criador do site revelou que o interesse no fundo de investimento então liderado por Nélio Lucas começou a materializar-se com uma viagem a Londres de “um dos amigos do Football Leaks”.

“Ficou combinado que tentaria aceder à rede wifi das instalações da Doyen Capital. No último dia passou a noite num hotel perto das instalações, comprou um equipamento específico para captação de redes wifi a longa distância, mas houve um problema: Londres é uma cidade extremamente populosa e aquela é uma das zonas mais movimentadas. Era praticamente impossível ter uma conexão estável, mas conseguiu estabelecer acesso”, recordou.

Rui Pinto disse que o amigo conseguiu detetar as credenciais de acesso para convidados na rede informática da Doyen e que mais tarde foi possível descobrir outras senhas, permitindo “exponenciar o acesso” ao sistema. “Estava em contacto com ele. Tentei aceder a partir da Hungria, mas não fui bem-sucedido”, notou, rejeitando logo de seguida a responsabilidade pelo acesso ao computador de Adam Gomes, antigo diretor informático da Doyen Sports Investment.

Segundo o criador do Football Leaks, esses acessos foram feitos por outro colaborador que só lhe comunicava alguma coisa quando encontrava alguma coisa interessante ou se tivesse alguma dificuldade nos acessos.

“Ele já estava no computador de Adam Gomes. Isto não foi feito por mim. Eu não era informado ao pormenor, era só quando ele encontrava algum entrave ou descobria alguma coisa interessante. A única coisa que fiz foi a criação do endereço doyen@inbox.ru. Todas as mensagens de correio eletrónico eram encaminhadas para esse email”, afirmou, assinalando que “não existiu qualquer exfiltração”, mas sim o reencaminhamento automático de emails após 20 de setembro.

Por outro lado, Rui Pinto avançou que os documentos relativos à Doyen Sports Investment Ltd e Vela Investment Ltd tiveram três origens diferentes - duas em Espanha e uma em Malta -, mas evitou falar sobre a forma como foi obtida essa informação, face a uma certidão extraída sobre esta matéria e perante o conselho do advogado Francisco Teixeira da Mota.

Questionado pela presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves, sobre o suposto interesse na Doyen Capital e nas origens do dinheiro e a posterior publicação de documentos de natureza desportiva da Doyen Sports Investment, o arguido justificou-se: “Não se pode exigir a um grupo de miúdos que em 15 dias ou um mês consiga analisar informação bastante complexa”.

Rui Pinto pediu ainda desculpa a Aníbal Pinto pela alegada tentativa de extorsão a Nélio Lucas, dizendo sentir-se envergonhado pela situação.

"Sinto-me envergonhado por toda esta situação; vejo estes e-mails e não me revejo em nada disto. Está aqui uma trapalhada. Isto foi uma provocação, uma infantilidade. Nem pensei que o Nélio Lucas fosse responder", afirmou, acrescentando ainda que o facto de o ter feito passados três dias da criação do Football Leaks "foi uma provocação".

O criador do Football Leaks revelou ainda que o fez à revelia dos outros elementos do grupo e que quando lhes contou se sentiu logo envergonhado. As juízas questionaram ainda a intenção nas mensagens dos e-mails, nomeadamente o conteúdo ameaçador de publicar as informações em jornais, tendo Rui Pinto respondido que “estava a dar música a Nélio Lucas, a apertar com ele”.

"Isto aconteceu, nunca deveria ter acontecido. Nunca pensei que ele respondesse. Foi respondendo e as coisas foram escalando", afirmou, acrescentando que escolheu a quantia aleatoriamente porque estava a "levar aquilo na brincadeira".

Sobre porque queria encontrar-se com Nélio Lucas para falar sobre o FC Porto, Rui Pinto afirmou que foi uma catadupa de emoções porque não acreditava que o FC Porto também tivesse esquemas como o Sporting e o Benfica. “Como adepto portista não queira acreditar” e explicou que para haver um encontro teria de haver alguém que o defendesse e, por isso, sugeriu a presença dos advogados. Justificou que escolheu o Dr. Aníbal Pinto porque era o único de conhecia e que o conheceu no âmbito do processo em que tentou tirar dinheiro de um banco das Ilhas Caimão.

Rui Pinto, de 33 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto de 2020, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.

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