Caro João,
Quando apareceste na primeira equipa do Benfica, em Agosto de 2018, adorava ver-te a jogar entre linhas, com lucidez e talento, e eras uma solução interessante para a equipa — e todos achávamos que, mais tarde ou mais cedo, poderias tornar-te numa grande estrela do futebol europeu.
Jorge Mendes fez o que gosta de fazer, e fá-lo com eficácia muito por conta do poder de influência que, através do dinheiro (claro!), conseguiu gerar no mundo dos negócios que o futebol proporciona, colocando-te no Atlético de Madrid, por números superinflacionados.
Pensávamos todos que irias ser a jóia da coroa de Diego Simeone, que está para o At. Madrid como Alex Ferguson esteve para o Manchester United. E, portanto, há coisas que, por mais que se queira, não se alteram: Simeone está de pedra e cal e ir contra a pedra só te obriga a tirar a cal que te está sempre a cair em cima.
E é uma canseira, sobretudo quando a pedra vai ficando cada vez mais forte, sempre que as tuas deambulações — pelos relvados do Chelsea ou do Barcelona, não se revelam frutíferas.
Muita gente, como se sabe, ganhou com a operação e talvez tenha sido o At. Madrid a entidade que menos tenha lucrado com ela, desportivamente sem dúvida, mas também no plano financeiro, uma vez que nesta altura — 5 anos volvidos — os ‘colchoneros’ queriam ter certamente a ideia de investimento justificado, o que não acontece, como se sabe.
Tens de reconhecer, João, e esse é a base da tua possível reabilitação, que o problema pode não estar em todos os treinadores com quem te cruzaste depois da saída do Benfica.
O problema pode estar em ti ou, se quiseres, também pode estar em ti, embora se possa concluir agora, como disse o Bernardo Silva, que o At. Madrid pode não ter sido a escolha certa, considerando as tuas características.
Aliás, o Bernardo Silva no outro dia disse também uma coisa muito certa, qualquer coisa como isto: “nós, jogadores, e as nossas famílias somos uns privilegiados, pelas possibilidades que temos de ganhar muito dinheiro”.
Sinceramente, pode ser dinheiro a mais para rendimento a menos, e isso pode causar distrações indesejadas.
Podes ter perdido dinheiro para ir jogar para o Barcelona, mas continua a ser dinheiro a mais.
Num mundo cada vez mais mediático (as redes sociais vieram mudar isto tudo e introduzir um enorme acrescento de mediatismo, porque uma foto publicada nas redes sociais pode mudar ou condicionar uma vida!), e considerando a atração que nesses aspecto constituem os jogadores de futebol, não é fácil, reconheço, a aposta no recato, sobretudo quando se percebe que elas podem ser mais uma fonte de receita.
No entanto, talvez haja algo a fazer nesse domínio: fechar mais para aumentar a concentração na atividade profissional.
Isto passa demasiado rápido e espero que nunca te arrependas daquilo que, neste domínio, não foste capaz de fazer.
Duas notas a fechar:
1ª) Não te condeno por teres falhado, no desempate por penáltis com a França, a conversão de um penálti que haveria de se tornar decisivo na nossa eliminação das meias-finais do Europeu;
2.ª) Também por isso (sabes como são os adeptos) não me parece que, neste momento, o teu falado regresso ao Benfica possa ser encarado como uma coisa boa para ti e para o Benfica. Por causa das pressões e das depressões.
Resolve o tema com o Mendes, mas seja para onde fores não te esqueças que não podes continuar a fugir da realidade: é que tens de dar sinais de empenhamento, de vontade de triunfar, de treinar cada vez mais (olha para o exemplo do Cristiano) para dentro do campo mostrares uma atitude compatível com o teu valor.
O Jorge Mendes pode ser ‘super’ mas acredita que o poder dele, ao contrário do que possa parecer, não resolve coisas tão essenciais como foco e disponibilidade. E esses dependem, de ti, e só de ti.