Imagens de satélite mostram como a Rússia está a expandir as suas bases militares no Ártico - TVI

Imagens de satélite mostram como a Rússia está a expandir as suas bases militares no Ártico

  • CNN
  • Nick Paton Walsh e Sarah Dean
  • 22 dez 2022, 11:56
Imagens Maxar

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A Rússia continuou a expandir as suas bases militares na região do Ártico, apesar das perdas significativas na  guerra na Ucrânia, de acordo com uma nova série de imagens de satélite obtidas pela CNN.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, também afirmou à CNN, numa entrevista exclusiva, que existe agora um “reforço militar russo significativo no extremo norte, com as recentes tensões a fazer com que a aliança duplicasse a sua presença” como resposta.

Esta descoberta surge quando um alto funcionário dos Serviços Secretos ocidentais disse à CNN que a Rússia retirou três quartos das suas forças terrestres do extremo norte, próximo do Ártico, enviando-os para reforçar a sua invasão do país vizinho, a Ucrânia.

As imagens de satélite, obtidas pela CNN através da Maxar Technologies, mostram uma série de bases de radar russas e pistas que sofreram melhorias no último ano. As imagens não mostram uma evolução drástica, mas sim o progresso contínuo do fortalecimento e expansão de uma área que, segundo os especialistas, é de importância vital para a estratégia defensiva russa, num momento de grande tensão para os recursos de Moscovo.

De acordo com a Maxar, as imagens mostram o trabalho contínuo nas estações de radar em Olenegorsk, na Península de Kola, no noroeste da Rússia, em Vorkuta, a norte do Círculo Polar Ártico. Também parecem mostrar trabalhos em curso para concluir um dos cinco sistemas de radar Rezonans-N em Ostrovnoy, no Mar de Barents, próximo da Noruega e da Finlândia, na parte oeste da Rússia. Segundo os oficiais russos, os Rezonans-N conseguem detetar aeronaves e objetos furtivos.

Na zona de defesa aérea de Tiksi, em direção ao Leste da região ártica da Rússia, foram criadas imagens de satélite de três radomes (que protegem os sistemas de radar) entre este outubro e o último. A remota base militar russa do Ártico está localizada na costa do Mar de Laptev.

Três novos radomes – os abrigos à prova de tempo usados para proteger antenas de radar – foram concluídos este ano na zona de defesa aérea de Tiksi, no extremo nordeste, de acordo com as imagens e análises da Maxar. Houve também melhorias numa pista e rampa da base aérea de Nagurskoye – a instalação militar mais a norte da Rússia – e melhorias nas pistas da base aérea de Temp, na Ilha Kotelny, no nordeste do país.

A Rússia tem vindo a reforçar as suas defesas no extremo norte há anos, remodelando uma série de antigas bases soviéticas com designs e equipamentos modernos.

A região ártica tem sido, desde há muito, fundamental para o setor petrolífero e de gás, mas também para as defesas nucleares, com uma parte significativa das suas sofisticadas instalações nucleares e submarinas naquela zona.

Na Península de Kola do Ártico, no noroeste da Rússia, a mudança é visível na Estação de Radares de Olenegorsk, incluindo um novo edifício, em comparação com as imagens de junho do ano passado.

"Essa dissuasão sempre esteve ativa", revelou um alto funcionário dos serviços secretos ocidentais. "Nunca se aplica uma baixa prontidão; é sempre um estado de alerta constante ", disse o funcionário.

No início da guerra com a Ucrânia, em fevereiro, alguns submarinos foram reposicionados para sinalizar "esta é uma capacidade real", acrescentou o alto funcionário, mas logo voltaram à prontidão padrão.

O líder da NATO, Stoltenberg, argumentou que "o caminho mais curto da Rússia para a América do Norte é sobre o Polo Norte do Ártico. Portanto, a importância estratégica destas áreas não mudou por causa da guerra na Ucrânia."

"Vemos a Rússia a reabrir antigas bases soviéticas, zonas militares", afirmou, referindo que também está a "testar novas armas no Ártico e no extremo norte".

Os preparativos continuaram desde agosto deste ano em Ostrovnoy, junto ao mar de Barents, perto da Noruega e da Finlândia, no oeste da Rússia. Um dos cinco novos radares Rezonans-N, que a Rússia diz poder encontrar jatos furtivos, está localizado aqui.

A guerra na Ucrânia levou a um grande ajustamento na capacidade das tropas russas na região, revelou o alto funcionário dos serviços secretos ocidentais. "Há menos 20 a 25% das forças terrestres iniciais. Mas a componente naval foi praticamente inabalada pela guerra."

Após os ataques no início deste mês a dois aeródromos importantes no interior da Rússia, em Ryazan e Saratov, aviões militares e bombardeiros russos foram distribuídos por todo o país e pelo norte do Ártico, acrescentou o alto funcionário. Moscovo culpou a Ucrânia pelos ataques, enquanto Kiev não fez qualquer comentário sobre as explosões nas bases russas.

O Ártico também é vital para a Rússia, pois o seu gelo derretido está a abrir rapidamente novas rotas marítimas do sudeste da Ásia para a Europa, utilizando um caminho muito mais curto ao longo da costa russa.

Nas instalações militares mais setentrionais da Rússia, a pista do aeródromo de Nagurskoye progrediu visivelmente no último ano, apesar da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Nagurskoye é uma das várias bases "trifólio" com um edifício de três frentes, com as cores da bandeira russa. A base, localizada na Terra de Alexandra, no Círculo Polar Ártico, foi construída pelos soviéticos na década de 50, e reajustada desde 2015.

A Rota do Mar do Norte poderia encurtar em cerca de duas semanas o tempo de viagem atual através do Canal do Suez. A televisão estatal russa desfrutou do lançamento de vários quebra-gelos nucleares, projetados para aumentar a influência e o poder russos na região. Os críticos dizem que Moscovo está a tentar exercer um controlo desmedido sobre uma rota que deve ser igualmente acessível a todas as nações.

Ao falar por videoconferência sobre o lançamento de um novo quebra-gelo nuclear em São Petersburgo no mês passado (22 de novembro), o presidente russo disse que o desenvolvimento da "mais importante" Rota do Mar do Norte "permitirá à Rússia revelar plenamente o seu potencial de exportação e estabelecer rotas logísticas eficazes, até mesmo para o sudeste asiático".

Ao mesmo tempo, a guerra na Ucrânia fez com que a presença da NATO na região fosse reforçada. Assim que a Finlândia e a Suécia se juntarem ao bloco, como é amplamente esperado, sete dos oito Estados do Ártico serão membros da NATO.

A aliança também aumentou a sua influência militar na região. Em agosto, a Noruega divulgou as primeiras imagens de bombardeiros americanos B-52 a sobrevoar o seu território, escoltados por aviões F-35 noruegueses e dois JAS Gripen suecos.

O aumento da sinalização por parte da NATO incluiu um teste recente do novo sistema de armas, o Rapid Dragon Palletized Munition Deployment, envolvendo uma descarga complexa por parte das forças especiais dos Estados Unidos de uma palete no compartimento de carga de um C-130.

A palete contém um míssil de cruzeiro, que se lança à medida que a palete cai de para-quedas. A ideia foi mostrar que os Estados Unidos podem lançar estes poderosos sistemas de armas a partir de um avião de carga comum. O teste teve lugar na Noruega, não muito longe da fronteira russa.

A NATO está cada vez mais receosa com a potencial sabotagem das infraestruturas petrolíferas e de gás da Noruega. Atualmente, a energia russa está sujeita a sanções e o gás natural da Noruega representa mais de 20% do abastecimento europeu, de acordo com algumas análises.

"Desde a sabotagem no Mar Báltico", disse Stoltenberg, "duplicámos a nossa presença, com navios, submarinos e aviões de patrulha marítima nos mares Báltico e do Norte, em parte para monitorizar, para ter uma melhor noção da situação, mas também para enviar uma mensagem de dissuasão e prontidão para proteger esta infraestrutura crítica." O líder da NATO referia-se às explosões no oleoduto Nord Stream, em setembro, que foram causadas por um ato de sabotagem, segundo os procuradores suecos, depois de terem sido descobertos indícios de explosivos nos locais.

O alto funcionário dos serviços secretos disse, no entanto, que uma recente revisão norueguesa da sua segurança em infraestruturas concluiu que não ocorreram grandes tentativas de ataque e que "a infraestrutura petrolífera está protegida."

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