Rússia tem dificuldade em fabricar novas armas mas pode ter antigas em número suficiente (e, afinal, as sanções funcionam) - TVI

Rússia tem dificuldade em fabricar novas armas mas pode ter antigas em número suficiente (e, afinal, as sanções funcionam)

  • CNN
  • Brad Lendon*
  • 20 abr 2023, 08:00
Tanque russo destruído, em Chornobaivka, nos arredores de Kherson, Ucrânia, a 16 de novembro de 2022. Valentyn Ogirenko/Reuters/File

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Perdas no campo de batalha e sanções ocidentais deixaram as Forças Armadas russas num estado de declínio, mas Moscovo ainda terá poder de fogo suficiente para prolongar a guerra na Ucrânia, de acordo com um novo relatório independente.

O documento do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla original), um think thank norte-americano, apresenta números impressionantes de perdas militares russas - quase 10.000 unidades de equipamentos chave, como tanques, camiões, peças de artilharia e drones, segundo uma estimativa.

Mas também diz que a Rússia pode mergulhar na era da Guerra Fria e nos stocks mais antigos para compensar em números o que possa ter perdido em tecnologia na linha da frente.

"A qualidade das Forças Armadas russas em termos de equipamento avançado irá provavelmente diminuir, pelo menos a curto prazo", indica o relatório do CSIS.

A pesquisa assinala como as perdas dos principais tanques de batalha russos, especialmente os modernos, têm sido graves.

Um tanque russo T-72B3 russo aguarda reparação, a 13 de fevereiro de 2023, num armazém no leste da Ucrânia. John Moore/Getty Images

"Estima-se que Moscovo tenha perdido entre 1.845 e 3.511 tanques num ano de guerra", diz o relatório, com as perdas do seu mais recente e melhorado tanque principal de batalha - o T-72B3, entregue pela primeira vez em 2013 - a serem consideradas especialmente prejudiciais.

O site neerlandês Oryx, especialista em análise militar e de defesa, diz ter provas visuais de mais de 500 variantes do T-72B3 destruídas, danificadas, abandonadas ou capturadas esta semana.

As autoridades ocidentais também notaram a pressão sobre a frota russa de tanques.

"Eles estão a andar para trás em termos de equipamento", dizem sobre os blindados russos, sublinhando que os tanques T-55, introduzidos em 1948, estão agora a aparecer no campo de batalha.

O relatório da CSIS destaca o problema que a Rússia enfrenta na construção de novos tanques, citando os meios de comunicação russos.

Uma fábrica de tanques, a UralVagonZavod, pode produzir cerca de 20 tanques por mês. Mas a Rússia perde, em média, quase 150 tanques de todos os tipos na Ucrânia por mês.

E depois há a falta de hardware moderno.

O relatório do CSIS diz que Moscovo tem de renovar e voltar a pôr em ação os seus tanques com décadas de existência porque simplesmente não tem recursos para construir novos, com as sanções ocidentais a deixarem a Rússia incapaz de obter peças e ferramentas necessárias para montar um tanque moderno.

Fornecedores menos fiáveis e rotas mais caras

As sanções cortaram o acesso russo a sistemas óticos - necessários para os atiradores dos tanques escolherem os alvos -, rolamentos de esferas e ferramentas, segundo a investigação.

Especificamente para sistemas óticos, a Rússia dependia das importações francesas durante a sua produção anterior à guerra.

Com essas importações cortadas por sanções, é forçada a colocar armas mais antigas e menos sofisticadas mesmo nos seus tanques mais modernos, o que resulta numa possível perda de até dois quilómetros de alcance.

No caso dos rolamentos de esferas de alta qualidade - "críticos para produzir qualquer tipo de veículo em movimento", sublinha o relatório - 55% do fornecimento da Rússia antes da guerra provinha da Europa e da América do Norte. Com essas fontes agora perdidas, pode tentar compensar o défice com fornecimentos produzidos internamente ou importações de qualidade inferior da China ou da Malásia, diz o relatório.

Seja como for, a Rússia não pode ter a qualidade que tinha antes da guerra.

"Moscovo está sob pressão para se adaptar, recorrendo frequentemente a fornecedores e rotas de abastecimento menos fiáveis e mais dispendiosas, importações de qualidade inferior ou tentando reproduzir internamente componentes ocidentais. Isto está provavelmente a dificultar o ritmo e a qualidade da produção de defesa russa", defende o relatório.

Mas a falta de componentes ocidentais não se faz sentir apenas nos tanques.

Aeronaves tripuladas e não tripuladas, mísseis e equipamento de guerra eletrónico precisam de peças modernas e de alta tecnologia - incluindo microchips - que a Rússia não consegue obter de fornecedores internos e tem dificuldade em importar devido às sanções ocidentais.

Vantagem numérica

Mas o relatório adverte que a Ucrânia e os seus apoiantes ocidentais não devem esperar que estes problemas de abastecimento acabem rapidamente com as hostilidades.

"As sanções e os controlos de exportação não são uma bala de prata que forçará a Rússia a pôr fim à guerra", assegura o relatório.

A Rússia ainda mantém vantagens numéricas sobre a Ucrânia, diz o documento, porque tem grandes inventários em reserva.

"As capacidades militares da Rússia ainda são muito superiores às da Ucrânia na maioria dos indicadores, incluindo homem, ar, terra e poder naval", observa.

"Embora uma contagem precisa dos atuais stocks militares de Moscovo não esteja disponível publicamente, estima-se que, em fevereiro de 2023, o número total de aviões à disposição do Kremlin era 13-15 vezes superior ao de Kiev. A Rússia tem ainda quase 7-8 vezes mais tanques e 4 vezes mais veículos blindados, enquanto a sua frota naval é 12-16 vezes maior do que a da Ucrânia", detalha o relatório.

As vantagens numéricas permitirão a Moscovo levar a cabo uma guerra de desgaste durante o próximo ano, lançando-as no campo de batalha até que a Ucrânia, mesmo com menos perdas, fique sem equipamento, diz o relatório.

Para compensar a vantagem numérica russa, mesmo de armamento inferior, é vital que os países ocidentais mantenham o armamento tecnologicamente superior a fluir para a Ucrânia.

Por exemplo, os tanques mais antigos são vulneráveis a mísseis Javelin portáteis.

"Este é o ponto crucial desta guerra no seu segundo ano: os militares russos podem contar com os seus stocks e continuar a alimentar-se de tecnologia mais antiga ou menos avançada, desde que acreditem que podem sobreviver às entregas ocidentais de armas e sistemas à Ucrânia", informa ainda o relatório do CSIS.

*Vasco Cotovio e Max Foster contribuíram para este artigo

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