Estrela do ténis regressou à Ucrânia para ajudar a combater os russos. E não contou aos filhos - TVI

Estrela do ténis regressou à Ucrânia para ajudar a combater os russos. E não contou aos filhos

  • CNN
  • Por Faith Karimi
  • 7 mar 2022, 09:41
Sergiy Stakhovsky (Getty Images)

O tenista ucraniano Sergiy Stakhovsky estava de férias com a família no Dubai quando as forças russas invadiram o seu país natal.

Ele tomou a decisão difícil de deixar a mulher e os três filhos pequenos em casa na Hungria e voltar para a sua terra natal para se juntar à luta. Agora faz parte dos reservistas do Exército, ajudando a defender a capital ucraniana de Kiev.

Enquanto uma coluna militar russa se aproxima da cidade e o medo paira no ar, Stakhovsky, de 36 anos, diz que está preparado para fazer o que for preciso. Ele disse a Brianna Keilar da CNN que o seu objetivo é ajudar a salvar a Ucrânia para os seus cidadãos e para os seus filhos.

"Eu nasci aqui, os meus avós estão enterrados aqui, e eu gostaria de ter uma história para contar aos meus filhos", afirmou. "Ninguém aqui quer que a Rússia os liberte, eles têm liberdade e democracia... e a Rússia quer trazer desespero e pobreza."

Stakhovsky tinha-se retirado do ténis profissional apenas algumas semanas antes do Open da Austrália, pondo fim a uma carreira de 18 anos. Agora, está com outros soldados civis em Kiev - e sofre com a decisão que tomou.

Sente-se culpado por ter deixado a família

Stakhovsky, que já foi o 31º melhor jogador masculino no ranking mundial, venceu uma vez Roger Federer, em Wimbledon em 2013.

Em janeiro, disputou a sua última partida profissional no Open da Austrália. Agora, vive com medo e incerteza, ouvindo sirenes de ataque aéreo e explosões a toda a hora.

Stakhovsky acredita que pessoas como ele - sem treino para a guerra, mas ferozmente patrióticas - compõem uma grande parte dos combatentes que defendem a Ucrânia.

Mas deixar a mulher e os filhos para se colocar em perigo não foi uma decisão fácil.

O ucraniano Sergiy Stakhovsky disputa o Open de França, em 2019, em Paris (Getty Images)

"É impossível tomar essa decisão sem hesitar. Eu tenho mulher e três filhos", afirmou. "Se eu ficasse em casa, ia sentir-me culpado por não ter voltado (para a Ucrânia), e agora que estou aqui, sinto-me culpado por tê-los deixado em casa."

A mulher também sofre com esta decisão, disse ele.

"Claro, ela ficou furiosa", disse ele. "Entendeu os meus motivos, mas para ela foi uma traição. E compreendo perfeitamente porque é que ela se sente assim."

Ele disse que não contaram aos filhos, todos com menos de 7 anos, que provavelmente acreditam que ele está num torneio de ténis.

"A minha mulher não lhes disse e eu não lhes disse... para onde ia", disse ele. "Acho que eles vão descobrir em breve."

Um dos vários atletas ucranianos famosos a juntar-se à luta contra a Rússia

O Governo ucraniano pediu aos homens entre 18 e 60 anos para lutarem contra a invasão russa.

Outras estrelas do desporto - como  Yuriy Vernydub, treinador do FC Sheriff Tiraspol, de uma liga de futebol da Moldávia - regressaram à Ucrânia e pegaram em armas. Assim como os campeões de pugilismo Oleksandr Usyk e Vasiliy Lomachenko.

"Se eles quiserem tirar-me a vida, ou as vidas dos meus familiares, eu terei de lutar", disse Usyk à CNN, numa cave em Kiev. "Mas não quero isso. Não quero disparar, não quero matar ninguém. Mas se quiserem matar-me, não terei escolha."

Stakhovsky enfrenta medos semelhantes e reza para sair disto vivo e voltar para a família. Combatentes civis como ele, na Ucrânia, receberam "uma aula básica para saber disparar", disse ele à CNN. "Acho que pessoas como eu serão o último recurso."

E apesar de esperar não ter de disparar sobre ninguém, diz que o fará se for preciso.

"Não sei se alguém pode dizer agora que está pronto para sacrificar a própria vida. Quero ver os meus filhos... Quero ver a minha mulher, esse é o meu objetivo", disse ele. "Se um míssil nos entrar em casa, isso é sacrificar a nossa vida? Não. Estamos apenas a ser mortos."

Ele espera que quando os seus filhos descobrirem a verdade sobre o seu paradeiro, entendam porque é que ele escolheu lutar pela sua pátria.

"Porque um país que eu amo... Eu gostaria que ele ainda estivesse no mapa, que se desenvolvesse, que se tornasse melhor, que se tornasse mais europeu e que, um dia, os meus filhos pudessem ver a transformação do meu país."

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